segunda-feira, 4 de abril de 2011

TDT não vai ser promovida durante a fase mais critica da transição

A opinião generalizada é de que o spot televisivo que arrancou a 10 de Março (de responsabilidade da Anacom), não informa a população sobre a TDT. E mais uma vez, a aparente falta de planeamento e de acordo entre Anacom, PTC e operadores televisivos, atrasa a introdução da televisão digital terrestre em Portugal. De acordo com os únicos dados disponíveis, em Novembro de 2010 a TDT tinha uma taxa de adesão de apenas 1,1%. E estamos agora a apenas nove meses da data prevista para o encerramento de alguns dos principais emissores de televisão do país.

Apesar de todos os dados apontarem para uma baixíssima adesão à TDT, só no segundo semestre de 2010 a Anacom entendeu adequado e justificado desenvolver um conjunto de diligências junto das entidades citadas afim de ser lançada uma campanha de informação! Mas, segundo a Anacom, após vários meses de reuniões, não foi possível chegar a um entendimento.

Entretanto, a Anacom recebeu o plano de promoção da TDT da parte da PTC, a empresa encarregue da distribuição do sinal da TDT e obrigada a fazer a sua promoção. Mas também aqui são notórias as "dificuldades" de entendimento entre a PTC e o regulador das telecomunicações. Vários pontos do plano de promoção da TDT motivaram o desacordo:
  • As datas das campanhas;
  • A informação sobre a comparticipação de populações desfavorecidas;
  • A presença de informação sobre a recepção via satélite;
  • A referência a produtos ou serviços do Grupo PT.
Em relação à recepção via satélite a PTC considera "desajustada" a divulgação da informação nas campanhas, pretendendo apenas disponibilizar informação no site oficial da TDT e tratar todas as questões relacionadas com o tema através de call-center. Segundo a PTC, a proposta inicial foi de que a informação relevante fosse disponibilizada no site oficial da TDT. Não é difícil de entender a posição da PTC. Como serão muitos os locais onde a recepção via satélite será a única opção e a empresa terá que suportar qualquer custo extra em relação à recepção terrestre, dar a mínima visibilidade possível à solução satélite parece ser  a solução que melhor serve os seus interesses. Como é sabido a empresa é detentora do serviço de televisão via satélite MEO.

Relativamente à comparticipação às populações desfavorecidas, a PTC justifica que a proposta que submeteu a concurso nunca contemplou que a campanha divulgasse informação sobre a comparticipação de populações desfavorecidas! Ou seja a PTC suporta o subsídio mas não tem obrigação de o dar a conhecer!

Não obstante a oposição da PTC, a Anacom determinou que em algumas peças das campanhas TDT disponibilize informação sobre a subsidiação a cidadãos com necessidades especiais, grupos populacionais mais desfavorecidos e instituições de comprovada valia social, bem como a comparticipação de instalações e equipamentos em zonas com cobertura complementar (via satélite).

A PTC compromete-se ainda a ter em consideração as regras associadas às boas práticas em sede de publicidade e informação e os princípios de sã concorrência.

Parece cada vez mais claro que o principal responsável pelo atraso na divulgação e promoção da TDT è a própria Anacom. Como é possível que quase dois anos após o arranque oficial da TDT não tenha ainda havido nenhuma acção de promoção de grande visibilidade por parte da PTC? Como poderia ocorrer a apregoada rápida massificação da TDT sem uma forte promoção? Tudo parece agora indicar que a Anacom não definiu uma calendarização (ou regras para a calendarização) para as campanhas de promoção aquando do concurso da TDT, tendo-se limitado a apreciar as propostas dos candidatos (acabou por haver um único candidato). Ora, se a PTC tem no mercado serviços de televisão concorrentes da TDT, era de esperar o quê? E, como sempre afirmei, e já foi reconhecido também pela própria PTC, o preço alto dos equipamentos compatíveis (MPEG-4) é um problema. Com a obrigação de subsidiar equipamentos, é lógico que a tendência seria adiar o mais possível a promoção da TDT. Alias, é essa a mensagem que se começa a passar para o público: esperar porque os preços vão baixar. Ou seja, precisamente o que não deveria suceder e que está em total contradição com o principal requisito do concurso da TDT; a rápida massificação da TDT. A promoção da TDT deveria ter começado logo em 2009!

Enfim, a promoção finalmente vem aí, com dois anos de atraso. Como se costuma dizer, mais vale tarde que nunca. Segundo informação da Anacom, as campanhas da responsabilidade da PTC não irão decorrer durante a época natalícia de 2011 nem no primeiro quadrimestre de 2012, ou seja, precisamente o período que antecede e o período em que ocorrerá o switch-off nacional. Nessa altura certamente a PTC estará fortemente empenhada em promover outros serviços ;)

Como já disse, em Portugal vai mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma. Tal como é proposta, ou melhor, tal como é imposta, a TDT é um assalto ao bolso dos portugueses. E ainda por cima os bolsos da maioria dos portugueses já estão vazios. 

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sábado, 2 de abril de 2011

Aprovado subsidio para a compra de receptores de TDT

A pouco mais de um mês da data prevista para o desligamento do primeiro retransmissor de televisão analógica em Portugal, que terá lugar no próximo dia 12 de Maio em Alenquer, a Anacom divulgou finalmente de forma oficial a decisão sobre a atribuição de um subsídio à aquisição de equipamentos para a recepção da Televisão Digital Terrestre (TDT). Este subsidio destina-se a ajudar a custear a compra de receptores TDT, também designados adaptadores, caixas descodificadoras ou "set-top-box", necessários para a recepção dos programas emitidos na Televisão Digital Terrestre portuguesa: RTP1, RTP2, SIC, TVI em todo o país, mais a RTP Açores e RTP Madeira nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. Estes adaptadores são uma alternativa à compra de um novo televisor, pois a esmagadora maioria dos televisores presentes nos lares portugueses não é compatível com a norma utilizada pela TDT portuguesa. 

A atribuição do subsídio é da responsabilidade da PTC e faz parte do caderno de encargos da licença do multiplex A (TDT dita gratuita). Recordo que, no essencial, a informação agora oficializada já havia sido divulgada por responsáveis da Anacom e disponibilizada no blogue TDT em Portugal (em 22/02 e 1/03).
São elegíveis, para atribuição do subsídio, os seguintes grupos:
  • Cidadãos com necessidades especiais elegíveis, isto é, com grau de deficiência igual ou superior a 60%;
  • Beneficiários do rendimento social de inserção;
  • Reformados e pensionistas com rendimento inferior a 500 euros mensais.
O valor do subsídio é de 50% do valor do equipamento descodificador TDT adquirido, até um máximo de € 22,00 e é atribuído, uma única vez, por habitação, sendo condição, adicional e essencial, que esta não possua serviços de televisão paga (PayTV). A atribuição será feita através de reembolso por transferência bancária, cheque ou vale postal, após o envio da factura de aquisição, de um formulário e dos documentos comprovativos da elegibilidade para:

TDT
Apartado 1501, EC DEVESAS (VILA NOVA DE GAIA)
4401-901 VILA NOVA DE GAIA

Ao subsídio podem também recorrer instituições de carácter social: hospitais públicos, centros de saúde e suas extensões, com ou sem internamento, bibliotecas, instituições com actividades de investigação e desenvolvimento, instituições de solidariedade social e escolas públicas. Para beneficiar deste subsídio as entidades interessadas devem contactar a Portugal Telecom. 

Os equipamentos elegíveis para subsidiação são equipamentos descodificadores para recepção dos serviços disponíveis no Multiplexer A associado à rede TDT e podem ser adquiridos em qualquer local de venda autorizado. A Anacom refere que a presente decisão não abrange a subsidiação de equipamentos de recepção via satélite (serviço DTH), mas tudo indica que os equipamentos para a recepção da TDT via satélite também virão a ser subsidiados.

O blogue TDT em Portugal apurou recentemente que o custo médio dos equipamentos descodificadores compatíveis com norma utilizada na TDT portuguesa (MPEG-4/H.264) é de aproximadamente 79 Euros. Será necessário adquirir um adaptador por cada televisor não preparado para a norma da TDT portuguesa (se pretender receber a TDT nesse aparelho evidentemente).

Mais detalhes no documento seguinte.

Decisão sobre a atribuição de subsídio à aquisição de equipamentos TDT (pdf)

14/08/2012:
A ANACOM anunciou o prolongamento do prazo para requerer os apoios e comparticipação à aquisição de receptores TDT para a recepção terrestre e DTH (satélite). O prazo limite foi prolongado até 31/12/2012. Já anteriormente o prazo havia sido prolongado até 31/08/2012. A razão para mais este prolongamento deverá estar na reduzida adesão à modalidade DTH (TDT Complementar), já referida no blogue TDT em Portugal, em locais considerados oficialmente sem cobertura terrestre ou com reduzida probabilidade de cobertura.

29/04/2013: Comparticipação na aquisição do kit DTH vai manter-se até 2023!
A Anacom informa que vai manter-se em vigor até 2023 aquilo que designa de programa de comparticipação destinado a assegurar a equivalência de custos entre quem vive numa zona que recebe o sinal digital de televisão por via terrestre e quem o recebe através de satélite (compra do kit TDT DTH). O kit DTH custa actualmente 30 Euros (sem antena parabólica e instalação) e o preço é válido para um máximo de dois descodificadores satélite por casa, desde que na mesma  não existam serviços de televisão por subscrição (televisão paga).


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quinta-feira, 31 de março de 2011

RTP-N e RTP Memória na TDT - BE também apoia

O Bloco de Esquerda, através do projecto de resolução 492/XI, vem recomendar ao Governo a inserção dos canais de interesse público RTP-N e RTP Memória no serviço não pago da Televisão Digital Terrestre portuguesa. No documento, o partido tece duras criticas às entidades reguladoras,  às operadoras de televisão por cabo e à PT, empresa que venceu o concurso para a distribuição da TDT em Portugal. Segundo o BE:

«A decisão de consagrar um único multiplex para a televisão digital terrestre não paga foi apenas um primeiro passo para que as possibilidades de acesso e diversidade que a TDT prometia (e que são uma realidade no resto da Europa) fossem roubadas à população portuguesa, com a conivência das autoridades reguladoras responsáveis. A demissão da ANACOM e da Autoridade da Concorrência em todo este processo é particularmente inaceitável.»

A TDT portuguesa é de facto uma das mais pobres a nível europeu e mundial. E poderosos interesses têm impedido que o sucesso que encontra na maioria dos países se repita também no nosso país, pondo em risco o futuro da plataforma TDT e por arrasto o aparecimento de canais de televisão de âmbito regional e local, como já alertei. Recordo que até o operador público RTP já deu a entender que é contra a disponibilização de mais canais na TDT!

Desde 2008 tenho lançado sucessivos alertas sobre os inúmeros erros e atropelos cometidos. Lamentavelmente, as forças políticas e a sociedade civil têm, até à data, sido pouco activas na defesa do interesse público que, neste caso, passa também pela disponibilização destes canais classificados de interesse público na TDT.

Recordo que o blogue TDT em Portugal foi, já em 2009, o autor de uma petição justamente com o objectivo de disponibilizar os canais RTP-N e RTP Memória de forma gratuita na TDT portuguesa. A petição foi entregue às autoridades competentes em Julho de 2010.

Projecto de Resolução 492/XI (ligação para o site da Assembleia da República)

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quarta-feira, 16 de março de 2011

TDT: Mux A vai utilizar o Canal 56

Afinal, o Mux A já não irá mudar de frequência para o canal 60, mas sim para o canal 56. Recordo que a Anacom havia proposto ainda recentemente (sentido provável de decisão) a alteração das frequências de emissão do Mux A, sendo no Continente a alteração do actual canal 67 para o canal 60 da banda de UHF. A nova proposta, como já disse, recai agora no canal 56. Na Madeira o canal 67 será substituido pelo canal 54 e nos Açores (Ilha Terceira, S. Maria, Flores e Corvo) pelo canal 55.

O pedido desta alteração partiu das operadoras móveis e preende-se com o potêncial de interferências entre as emissões de TDT e os novos serviços que utilizarão a faixa de frequências 790-862Mhz. Eliminar o potêncial de interferências não seria fácil e teria custos elevados para as operadoras de serviços móveis e para o operador da rede TDT (PTC). No entanto, a nova proposta de alteração vai originar a perturbação do serviço televisivo, não só nos emissores de TDT mas também em alguns emissores e retransmissores analógicos, cujo canal de emissão terá de ser alterado. Serão 13 as estações emissoras e retransmissoras cujo canal de emissão terá de ser alterado.

Prevêm-se portanto, algumas perturbações nas emissões de televisão analógica e de TDT pois, como já havia referido em post anterior, enquanto se procede à alteração da frequência e aos necessários ajustes, os emissores estarão desligados. Ao que tudo indica, embora isso seja técnicamente possível e económicamente pouco oneroso (pelo menos em TDT), não será activada a nova frequência mantendo temporariamante a antiga. Isso mesmo deixou transparecer recentemente a PTC relativamente à TDT, ao reconhecer que zonas geográficas percam serviço durante um período significativo, que poderá atingir muitas horas ou até dias. Considero uma falha grave do regulador não ter acautelado esta situação.

A alteração da frequência de emissão do canal 67 para o canal 56 é vantajosa, pois o canal 56 está mais afastado da faixa de frequências a libertar (790-862Mhz) que se prevê venha a ser utilizada para outros serviços de comunicações electrónicas e que poderiam gerar interferências na recepção do sinal TDT. O canal 60, da primeira proposta, está "colado" a essa faixa. No entanto a opção do canal 56 também não é perfeita pois, como refere a PTC, existe a possibilidade de ser disponibilizada uma segunda faixa adicional de espectro abaixo dos 790 MHz para serviços de comunicações electrónicas (previsivelmente a sub-faixa 694-790MHz), na qual se inclui também, o canal 60. A PTC, aliás, propôs os canais 36, 40 ou 56, dando preferência à opção canal 36 ou 40.

Com esta nova proposta de alteração a data limite concedida à PT Comunicações para proceder à alteração das frequências no Continente, Madeira e Açores foi adiada de 30 de Abril para 31 de Julho. A Anacom defende ainda que as alterações deverão começar pelos retransmissores envolvidos nas zonas piloto do switch-off analógico. Veremos.


6/06/2011: Proposta aprovada. A PTC deverá concluir a alteração da frequência até 15/07/2011, começando pelas localidades piloto (Alenquer, Cacém e Nazaré).

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