sábado, 15 de outubro de 2011

TDT: Blogue TDT em Portugal apelou ao Governo (act.)

Foi durante o anterior Governo que foi decidido o que seria a TDT portuguesa e como seria implementada. O processo está repleto de “casos” polémicos e indecisão: chumbo do 5 Canal, Canal HD “fantasma”, desistência da TDT paga, falta de decisão sobre o destino a dar ao espectro livre pelo abandono da TDT paga, etc.
A TDT, que arrancou tarde em Portugal, dois anos e meio após o arranque oficial, conseguiu cativar apenas 3% dos portugueses sem televisão por assinatura. E isto quando a rápida massificação foi o critério mais valorado no concurso!

Com a mudança de Governo renasceu a expectativa de inversão da situação da TDT. Entretanto, o Governo decidiu privatizar a RTP1, pediu à RTP a elaboração de um plano de reestruturação e criou um Grupo de Trabalho a fim de ser definido um serviço público de comunicação social. O "dossier TDT" foi parar às mãos do Sr ministro dos Assuntos Parlamentares Miguel Relvas, que manifestou a sua preocupação com a situação da TDT.

Em 2009, através do blogue TDT em Portugal criei uma petição para a disponibilização da RTP Memória e da RTP-N na TDT. Eu e muitos leitores envia-mos mensagens ao anterior Provedor do Telespectador da RTP (Paquete de Oliveira) e conseguiu-se que fossem dedicados dois programas “A Voz do Cidadão”, o primeiro sobre a TDT em geral e o segundo sobre a RTP Memória. A petição foi enviada ao anterior Governo que acusou a recepção e fez chegar à ANACOM e à ERC, mas sem resultados até à data.

Com a mudança de Governo decidi novamente dar o meu contributo e chamar a atenção para a situação lamentável da TDT portuguesa. Como referi em Setembro, escrevi ao Sr ministro Miguel Relvas em Agosto, fazendo uma exposição fundamentada da situação da TDT no nosso país. Procurei também um contacto do Grupo de Trabalho mas sem sucesso. No entanto, como pode ler-se na resposta do Gabinete do Ministro dos Assuntos Parlamentares, foi enviada cópia da mensagem e demais documentos ao referido Grupo de Trabalho que deverá apresentar os resultados do seu trabalho até ao dia 17 de Outubro.

Documentos:
Carta dirigida ao MAP - Agosto 2011 (PDF)
Resposta do Ministério dos Assuntos Parlamentares:


Os dados estatísticos mais recentes indicam que apenas 3% dos portugueses sem televisão paga recebem a TDT. Nunca como agora foi tão urgente tomar medidas para acelerar a migração para a Televisão Digital Terrestre. Como venho alertando, o que está em curso é uma verdadeira e descarada sabotagem da TDT. Há poderosos interesses a quem interessa que a Televisão Digital Terrestre não seja minimamente atractiva. Até aqui, todos os interesses têm sido tidos em conta menos os interesses dos telespectadores e consumidores. A promessa de mais canais após o "apagão" de 2012 não passará disso, uma promessa, como tantas outras que não foram cumpridas! Se o switch-off for avante com esta oferta de canais, a TDT ficará definitivamente parada no tempo.

Vamos aguardar pelo Grupo de Trabalho e pelas decisões do Governo.

Actualização:
O actual Provedor do Telespectador da RTP está a contemplar fazer um programa sobre a TDT e está a pedir sugestões de perguntas a serem respondidas no programa. É mais uma oportunidade de fazermos ouvir a nossa voz e reclamarmos uma TDT melhor. Podem enviar sugestões na página do Facebook do Provedor do Telespectador ou no site do Provedor do Telespectador.

Actualização 9/11/2011:
O Grupo de Trabalho criado pelo Governo em Agosto para redefinir o conceito de serviço público na comunicação, social sofreu três baixas: Francisco Sarsfield Cabral, João Amaral e Felisbela Lopes. Segundo a SIC, Francisco Sarsfield Cabral e João Amaral terão saído em Outubro e Felisbela Lopes terá apresentado a demissão hoje, na última reunião do grupo de trabalho. A professora e investigadora da Universidade do Minho terá recusado assinar a 5ª versão do documento (versão final) que, segundo a mesma, defende a redução da informação no serviço público. O documento deverá ser entregue ao Governo até sexta-feira, 11 de Novembro.

O Grupo de Trabalho é coordenado pelo economista João Duque e conta agora com: António Ribeiro Cristóvão, Eduardo Cintra Torres, José Manuel Fernandes, Manuel José Damásio, Manuel Villaverde Cabral e Manuela Franco.

Trata-se de um desenvolvimento preocupante e que pode ser revelador do que propõe o grupo de trabalho para o futuro da comunicação social do Estado. Esperemos pelo documento…

12/12/2011:
O programa "A Voz do Cidadão" sobre a TDT foi emitida em nos dia 10 e 11. Podem assistir à emissão em http://youtu.be/41t5zluWTns

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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

TDT: "apagão" analógico na Nazaré afectou 2000 famílias

Decorreu ontem na Nazaré o terceiro e último “apagão” analógico “piloto” antes do switch-off final das emissões televisivas analógicas, agendado para 2012. Cerca das 15H30 o emissor analógico de TV foi desligado, ficando a zona da Nazaré e parte de Alcobaça apenas com sinal digital. Este desligamento do sinal analógico afecta cerca de 2000 famílias. No concelho da Nazaré, as freguesias de Famalicão, Nazaré e Valado de Frades, e, no concelho de Alcobaça, as freguesias de Alfeizerão e Cela.

Nos dias que antecederam o “apagão” a ANACOM divulgou dados de um inquérito que indicava que 90% da população dizia estar preparada para o desligamento da televisão analógica. Dois dias antes do desligamento informou ter feito chegar a todos os lares das freguesias de Famalicão (concelho da Nazaré) e de Alfeizerão (concelho de Alcobaça) uma carta a alertar para a necessidade de se prepararem para a recepção do sinal de televisão digital terrestre (TDT) via satélite (DTH), pois estas duas freguesias não têm cobertura de sinal terrestre. Isto porque, segundo o inquérito, apenas 30% dos residentes dessas freguesias diziam ter conhecimento de morar numa zona com cobertura por satélite. Os residentes destas freguesias sem acesso ao sinal terrestre terão que comprar o kit TDT Complementar fornecido em exclusivo pela Portugal Telecom.

O emissor de TDT da Nazaré está localizado na localidade do Sítio da Nazaré e a maioria dos residentes terá que reorientar a antena para receber o sinal digital.

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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Só 3% dos portugueses já mudaram para a TDT!

Não há como mascarar os factos, a TDT está atrasadíssima como tenho vindo a dizer há largos meses. Finalmente há dados novos sobre o grau de “adesão” à Televisão Digital Terrestre e, sem surpresa, os números são péssimos. De acordo com um estudo realizado em Setembro, apenas 3% dos portugueses sem televisão paga já fez a migração para a TDT!

Recordo que em Novembro de 2010, um inquérito revelou que apenas 1,1% dos portugueses tinha mudado para a TDT. Ou seja desde Novembro de 2010 até meados de Setembro de 2011 (data deste inquérito), apenas mais 1,9% dos portugueses mudaram para a TDT! Tal como venho comprovando no terreno, e alertando, a taxa de migração é baixíssima e não há demagogia que consiga ocultar a realidade: a introdução da TDT em Portugal está a falhar!

Como será possível iniciar o switch-off analógico (apagão) em Janeiro de 2012 (daqui por 3 meses), quando 97% dos portugueses (sem televisão paga) ainda não estão preparados para a TDT?

Alguns dados do estudo:
  • 38.3% dos inquiridos não possuem TV paga em casa;
  • 92.4% dos inquiridos sem TV paga afirmaram receber TV analógica, via antena tradicional;
  • 3% dos inquiridos sem TV paga afirmaram receber televisão digital terrestre (TDT);
  • 62% dos inquiridos sem TV paga desconhecem que em 2012 está previsto o desligamento do sinal de TV analógica terrestre ;
  • 43.9% dos inquiridos sem TV paga afirmaram que o seu televisor não é compatível com a TDT e 41.5% responderam não saber se é compatível;
  • 55.4% dos inquiridos sem TV paga responderam não saber o que fazer para ter TDT;
  • 70.4% dos participantes no inquérito sem TV paga responderam não saber se podem receber TDT;
  • 44.6% responderam não saber se é necessário adaptar antena ;
  • 37.2% dos inquiridos sem TV paga e com TV analógica terrestre responderam que pensam adquirir um televisor ou caixa descodificadora só quando for obrigatório.
Tal como escrevi em Dezembro de 2010, antes mesmo de serem publicados os dados da taxa de migração, atingiu-se na altura um ponto a partir do qual já não seria possível concretizar um processo tranquilo de transição para a Televisão Digital Terrestre e o adiamento seria praticamente inevitável. Os dados agora divulgados confirmam que, basicamente, se perdeu mais um ano!

Resta saber até quando é que os políticos vão aguardar para tomar medidas concretas. Eu, pessoalmente e através do Blogue TDT em Portugal, já apontei os erros e apresentei soluções. Espero que após a entrega do estudo sobre o conceito de serviço público de rádio e televisão pelo Grupo de Trabalho criado para o efeito pelo Governo, sejam finalmente adoptada a solução defendida há anos pelo Blogue TDT em Portugal: RTP Memória e RTP Informação na TDT

Tal como o primeiro, este estudo é da responsabilidade da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias e pode ser consultado na integra aqui.

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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O Futuro do Serviço Público de Rádio e Televisão

Como é do conhecimento público, o Governo reafirmou a sua intenção de privatizar parte do serviço público de rádio e televisão. A justificação é a contenção de custos. Prevê-se assim que em 2012 a RTP1 desapareça dos ecrãs e dei-a lugar a mais um canal privado.

Que é necessário reduzir drasticamente os custos da televisão pública, não tenho duvidas. Está à vista de todos que a RTP gasta claramente acima das possibilidades do país. Descontadas as especificidades do serviço público, as televisões privadas fazem o mesmo (e muitas vezes melhor) com menos recursos. Apesar de acumular dívidas milionárias, a RTP tem gasto dinheiro “à grande”, apresentando novos projectos que pouco ou nada têm a ver com a sua missão de verdadeiro serviço público. Mas, ao mesmo tempo que continua a fornecer o acesso exclusivo a programas pagos pelos impostos de todos os portugueses aos operadores de televisão paga, não gasta um centavo com a Televisão Digital Terrestre!

Privatizar um dos canais é a pior solução. A poupança será mínima e o país ficará com um serviço público mais pobre.

O Governo pediu à RTP a apresentação de um plano de reestruturação contemplando já a alienação da RTP1. Na minha opinião saltou um passo essencial. Antes de apresentar o plano de reestruturação, a RTP deveria ter sido alvo de uma inspecção pelo Tribunal de Contas. Estou certo de que seriam encontradas formas de se poupar muitos milhões.

O pior de tudo é que, com um serviço público de televisão de um único canal, a tentação de “desfigurar” a RTP2 vai ser enorme. É na RTP2 que o verdadeiro espírito de serviço público se cumpre. O canal não se orienta pela lógica populista e, necessariamente, tem um share muito baixo, mas normal para este tipo de canais. Sem a RTP1, a tentação de transformar a RTP2 numa espécie de salada russa televisiva vai ser enorme. Imaginam o que seria a RTP2 com: novelas, concursos, talkshows de manhã e à tarde, futebol, missa, etc? A pressão para aumentar o share do canal pode fazer com que os portugueses fiquem sem um espaço único na televisão portuguesa. Mesmo sem a RTP1, os custos não irão baixar consideravelmente e o serviço público acabará por se tornar num alvo ainda mais fácil de pressões, pois acabará por gastar quase o mesmo e (se não houver uma reformulação profunda da RTP2) terá audiências muito inferiores às actuais.

Sem a RTP1, muitos artistas portugueses irão também perder um espaço que, apesar de todas as criticas, lhes permite recuperar das barbaridades cometidas pelos programadores dos canais privados. Ninguém pode ignorar o que as mudanças de horários (com total desrespeito pelos telespectadores), fizeram a alguns programas. Dou o exemplo da SIC com o “Programa da Maria”, da Maria Rueff. Com um serviço público mais fraco teremos inevitavelmente pior televisão!

Não será de estranhar que um dos interessados à privatização da RTP1 seja a “incontornável” PT. Ainda há bem poucos meses a PT tentou entrar no capital da TVI (embora tenha negado) e o negócio só não aconteceu porque rebentou um escândalo. Na rádio, alguns grupos privados têm andado a "comprar" frequências locais, criando redes nacionais virtuais. Agora surge a intenção de privatizar a RTP1 e também um ou mais canais da rádio pública (Antena 1, Antena 2, Antena 3...). Será apenas coincidência, ou será a crise mera desculpa para saciar interesses privados?

Como já disse, acho que a reestruturação do serviço público está a ser mal conduzida. Que sentido faz criar um Grupo de Trabalho para definir o que é serviço público, quando à partida já se decidiu privatizar canais de televisão e rádio. E se o Grupo de Trabalho, que se supõe autónomo e isento, concluir que o serviço público de televisão, para cumprir os seus objectivos, necessita de dois canais? Irá o Governo dar o dito por não dito? Não faz sentido.

Actualização:
O programa "A Voz do Cidadão" da RTP abordou o tema no seu último programa. Pode consultar a emissão aqui.

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