Em Dezembro de 2010 comentei que, devido à baixíssima adesão à TDT, a tão pouco tempo das datas definidas para o switch-off analógico, o adiamento do encerramento das emissões analógicas seria inevitável. Pois bem, agora praticamente em Junho de 2011, há novos factos, que a meu ver tornarão o adiamento quase certo.
A situação pouco evoluiu desde o inicio do ano quando se soube que apenas 1,1% dos portugueses sem serviços de televisão paga tinha aderido à TDT. Esta situação era perfeitamente previsível, dadas as opções que vêem sendo tomadas e que tenho insistentemente criticado desde a primeira hora. Como afirmei em Dezembro de 2010, será impensável que tanto aos canais de TV (RTP, SIC e TVI) fiquem sem boa parte dos seus telespectadores, como que os telespectadores fiquem sem acesso aos seus canais de TV. O custo político seria enorme e nenhum Governo com o mínimo de bom senso permitiria que tal acontece-se!
Vaticinei o adiamento do fim das emissões analógicas ainda antes de ser conhecido o adiamento dos encerramentos piloto. Desde então novos desenvolvimentos tornam o adiamento do desligamento dos principais emissores cada vez mais provável.
De acordo com o plano para a cessação das emissões analógicas, um emissor não poderá ser desligado sem que a população abrangida seja servida há mais de um ano por emissões de televisão digital terrestre. Como o Blogue TDT em Portugal tem informado, a rede de emissores, que deveria ter ficado completa até 31/12/2010, ainda não está terminada. Só este facto justifica um adiamento de pelo menos 6 meses na data do desligamento dos emissores analógicos. Talvez por esse motivo o administrador da Anacom responsável pela TDT tenha afirmado que a rede TDT ficou pronta em 2010, quando o Blogue TDT em Portugal tem demonstrado que não ficou.
Recordo que a CPMCS (que agrega os operadores de TV) também já teceu criticas quanto ao andamento da TDT. Mas talvez o mais preocupante é o facto da TVI (Media Capital) estar aparentemente a assumir uma posição de ruptura com o regulador (e o Governo). Tanto assim que a publicidade à TDT não passa na TVI!
Mais, a Media Capital ainda detém uso de uma rede própria de emissores de televisão analógica (RETI), apesar de ter negociado a sua alienação à PT pouco antes de abrirem os concursos para a TDT. A rede de emissores é gerida pela PT, mas continua propriedade da Media Capital (dona da TVI) e só após o desligamento analógico passará a ser propriedade da PT. Não conhecendo os termos exactos do negócio, não é de excluir a possibilidade da TVI ter acautelado a sua posição e decidir boicotar o desligamento analógico, continuando a emissão em analógico, caso entenda que não estejam reunidas todas as condições para o encerramento das emissões em analógico. Embora remota, a possibilidade do negócio não se concretizar está prevista no contrato. Se a TVI decidir boicotar os desligamentos, SIC e RTP iriam atrás. Seria o mais claro sinal do fracasso da “estratégia” de implementação da televisão digital terrestre em Portugal.
Tal como já comentei, recordo que ao contrário do que alguns responsáveis pretendem fazer crer, não existe obrigação de Portugal encerrar as emissões de televisão analógica em 2012. Existe apenas uma recomendação da Comunidade Europeia. E, apesar da maioria dos países europeus ter decidido encerrar as emissões de televisão analógica até 2012, nem todos o irão fazer. Como já comentei, a Polónia decidiu só encerrar as emissões analógicas até 31/07/2013. Só em Junho de 2015 desaparece a protecção às emissões analógicas, ou seja, as emissões analógicas, se necessário, poderiam prolongar-se até 2015. Claro que isso não irá acontecer pois o Estado tem pressa em libertar espectro para leiloar e os operadores de telecomunicações têm pressa em utilizá-lo para ganhar dinheiro. Só não houve pressa em arrancar a sério com a TDT oferecendo de facto alguma coisa em troca ao consumidor!
Dado o baixíssimo nível de adesão à TDT, ou o futuro Governo trata de aumentar a oferta de canais (como tenho reclamado e já deveria ter acontecido há anos), ou ver-se-á obrigado a custear a 100% o custo dos adaptadores TDT. De qualquer forma, o adiamento do desligamento das emissões analógicas em pelo menos 6 meses parece ser um dado adquirido.
27/07/2011:
Confirma-se a recusa da TVI em participar na campanha de "publicidade" da TDT, tal como referi em 28 de Maio.
Agora é o jornal Correio da Manhã que noticia o facto da TVI não ter participado na primeira campanha publicitária que se iniciou em Março. O jornal afirma ainda que, segundo a ANACOM, apenas a RTP aceitou participar em futuras campanhas. A campanha de publicidade à TDT nas TV's foi planeada para duas fases, estando previsto que a segunda fase arranque em Setembro ou Outubro. A mensagem desta segunda fase será a obrigatoriedade da mudança.
3/10/2011:
A ANACOM ou o Governo terão conseguido convencer a TVI e a SIC a passar a segunda campanha de publicidade à TDT nos seus canais. Os spots publicitários estão a passar (pelo menos) na RTP1, SIC e TVI.
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4 comentários:
Não sei como é noutras zonas do país mas aqui na zona norte do Tejo, desde o desligamento de Alenquer - talvez por causa da cobertura mediática dada ao acontecimento - que a loja da Worten aqui do Retail Park todas as semanas tem que repôr o stock de sintonizadores para a TDT, ou seja, estão a vender à volta de 30 receptores por semana. Isto sem contar com os que o IZI, Rádio Popular, E.Leclerc, Tien 21 e várias outras lojas de electrodomésticos estão a vender, nem sem contar com os televisores, que também têm estado a vender bem.
se boicotar não tenho pena nenhuma da pt, que metam mais canais como fazem os outros paises.
Até há poucos dias atrás, em Aveiro, os receptores TDT ficam nas prateleiras. Pelo que me foi dado constatar, vendem-se muito pouco. Há até uma grande superfície de electrodomésticos nacional que não tinha um único receptor à venda (e não foi por esgotamento de stock).
De qualquer forma não me parece que 30 receptores/semana para uma grande superfície de electrodoméesticos seja um valor extraordinário.
Ontem, finalmente, aderi à TDT (DVB-T). Apesar de ter um retransmissor mesmo aqui perto (a 4 Km), não me sentia motivado para fazer a transição (que ainda decorre: faltam adPtar, ou substituir, dois televisores). Não me sentia motivado, porquê? Por tudo aquilo que já tem sido denunciado aqui neste excelente blogue e porque a televisão digital, com as suas imagens 'pastelizadas', o hiato entre a muda de canal, os 'crashes' e os 'freezes', o esticamento da imagem para 'justificar' a diagonal do ecrã, etc, não se me revelam nada atraCtivos, a menos que ofereça algo de realmente bom em troca. Já tive TV digital em casa, via satélite (DVB-S), a pagar (Zon e meo) ou de graça (com recePtores que crasharam, de vez, a seu tempo). A experiência nunca foi inteiramente do meu agrado, sobretudo com o recePtor de satélite da meo, que tinha um rácio de freezes, de todo exasperante, obrigando a 'reboots' multidiários. Os recePtores que tivemos para os canais livres, sempre eram um pouco melhores (até crasharem em definitivo), mas a oferta de canais eram todos em língua estrangeira, maioritáriamente alemães, idioma que não domino. É, pois, com alguma apreensão que vejo não só o povão, mas sobretudo a população mais envelhecida, que por vezes tem apenas a televisão como distraCção, embrenhar-se nestes meandros, ao ter que lidar com caixas adaPtadoras e recePtores de satélite baratos, ser receber praticamente nenhuma mais valia, e ainda por cima ter que pagar das suas já esticadas economias. Acho que se justifica por tudo isto, e muito mais, adiar o cancelamento das emissões analógicas, até a tecnologia ter evoluído um pouco mais, e a oferta ser bem mais atraCtiva, a exemplo dos nossos parceiros europeus.
E quais são as primeiras impressões desta minha 'inauguração' na TDT portuguesa? Enfim, nenhuma novidade, fiquei só a saber que a instalação da antena estava boa (a analógica era mesmo má, mas nem assim eu... Estão a ver?), a recePção é excelente, tão boa que pondero adquirir antenas interiores para a TDT portuguesa, e virar a exterior para Espanha ;-) Mas asseguram-me que aqui, em pleno coração do Vale do Ave (Santo Tirso), as ondas digitais espanholas não chegam cá satisfatóriamente (gostava de ter aqui algum feedback de outros internautas).
Defini a imagem do novo televisor para 4:3 (irritam-me as imagens esticadas) e descobri que os quatro canais emitem maioritariamente naquele formato, sendo que são os anúncios que mais arriscam noutros mais panorâmicos, incluindo o televendas (fantástico, Mike!). As rugas das pessoas, essas desapareceram, bem com tudo que seja detalhe mais fino (Já assisti a emissões HD, e aí, a história é bem diferente, mas isso paga-se). Ainda não tive nenhum freeze, mas o televisor também não foi barato, mas quando há mais acção e movimento nas imagens, nota-se algum arrastamento destas. Descobri também um hiato (delay) entre a emissão analógica e a digital de cerca de 8 segundos, pelo que, transmissões verdadeiramente em directo, vão acabar ;-). Assistir a jogos de futebol pela TV, com relatos via Rádio Renascença (ou Comercial, etc), será impraticável. No global, não gosto nada da imagem digital, mesmo que esta venha desprovida de 'fantasmas' e afins, mas isso já eu sabia. Cerca de um terço do ecrã fica desperdiçado na maior parte do tempo, e, tirando o EPG (espécie de TV Guia digital), que no meu Samsung está particularmente bem concebido, não consigo encontrar qualquer vantagem em relação a uma boa emissão/recePção analógica.
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