sexta-feira, 14 de outubro de 2011

TDT: "apagão" analógico na Nazaré afectou 2000 famílias

Decorreu ontem na Nazaré o terceiro e último “apagão” analógico “piloto” antes do switch-off final das emissões televisivas analógicas, agendado para 2012. Cerca das 15H30 o emissor analógico de TV foi desligado, ficando a zona da Nazaré e parte de Alcobaça apenas com sinal digital. Este desligamento do sinal analógico afecta cerca de 2000 famílias. No concelho da Nazaré, as freguesias de Famalicão, Nazaré e Valado de Frades, e, no concelho de Alcobaça, as freguesias de Alfeizerão e Cela.

Nos dias que antecederam o “apagão” a ANACOM divulgou dados de um inquérito que indicava que 90% da população dizia estar preparada para o desligamento da televisão analógica. Dois dias antes do desligamento informou ter feito chegar a todos os lares das freguesias de Famalicão (concelho da Nazaré) e de Alfeizerão (concelho de Alcobaça) uma carta a alertar para a necessidade de se prepararem para a recepção do sinal de televisão digital terrestre (TDT) via satélite (DTH), pois estas duas freguesias não têm cobertura de sinal terrestre. Isto porque, segundo o inquérito, apenas 30% dos residentes dessas freguesias diziam ter conhecimento de morar numa zona com cobertura por satélite. Os residentes destas freguesias sem acesso ao sinal terrestre terão que comprar o kit TDT Complementar fornecido em exclusivo pela Portugal Telecom.

O emissor de TDT da Nazaré está localizado na localidade do Sítio da Nazaré e a maioria dos residentes terá que reorientar a antena para receber o sinal digital.

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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Só 3% dos portugueses já mudaram para a TDT!

Não há como mascarar os factos, a TDT está atrasadíssima como tenho vindo a dizer há largos meses. Finalmente há dados novos sobre o grau de “adesão” à Televisão Digital Terrestre e, sem surpresa, os números são péssimos. De acordo com um estudo realizado em Setembro, apenas 3% dos portugueses sem televisão paga já fez a migração para a TDT!

Recordo que em Novembro de 2010, um inquérito revelou que apenas 1,1% dos portugueses tinha mudado para a TDT. Ou seja desde Novembro de 2010 até meados de Setembro de 2011 (data deste inquérito), apenas mais 1,9% dos portugueses mudaram para a TDT! Tal como venho comprovando no terreno, e alertando, a taxa de migração é baixíssima e não há demagogia que consiga ocultar a realidade: a introdução da TDT em Portugal está a falhar!

Como será possível iniciar o switch-off analógico (apagão) em Janeiro de 2012 (daqui por 3 meses), quando 97% dos portugueses (sem televisão paga) ainda não estão preparados para a TDT?

Alguns dados do estudo:
  • 38.3% dos inquiridos não possuem TV paga em casa;
  • 92.4% dos inquiridos sem TV paga afirmaram receber TV analógica, via antena tradicional;
  • 3% dos inquiridos sem TV paga afirmaram receber televisão digital terrestre (TDT);
  • 62% dos inquiridos sem TV paga desconhecem que em 2012 está previsto o desligamento do sinal de TV analógica terrestre ;
  • 43.9% dos inquiridos sem TV paga afirmaram que o seu televisor não é compatível com a TDT e 41.5% responderam não saber se é compatível;
  • 55.4% dos inquiridos sem TV paga responderam não saber o que fazer para ter TDT;
  • 70.4% dos participantes no inquérito sem TV paga responderam não saber se podem receber TDT;
  • 44.6% responderam não saber se é necessário adaptar antena ;
  • 37.2% dos inquiridos sem TV paga e com TV analógica terrestre responderam que pensam adquirir um televisor ou caixa descodificadora só quando for obrigatório.
Tal como escrevi em Dezembro de 2010, antes mesmo de serem publicados os dados da taxa de migração, atingiu-se na altura um ponto a partir do qual já não seria possível concretizar um processo tranquilo de transição para a Televisão Digital Terrestre e o adiamento seria praticamente inevitável. Os dados agora divulgados confirmam que, basicamente, se perdeu mais um ano!

Resta saber até quando é que os políticos vão aguardar para tomar medidas concretas. Eu, pessoalmente e através do Blogue TDT em Portugal, já apontei os erros e apresentei soluções. Espero que após a entrega do estudo sobre o conceito de serviço público de rádio e televisão pelo Grupo de Trabalho criado para o efeito pelo Governo, sejam finalmente adoptada a solução defendida há anos pelo Blogue TDT em Portugal: RTP Memória e RTP Informação na TDT

Tal como o primeiro, este estudo é da responsabilidade da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias e pode ser consultado na integra aqui.

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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O Futuro do Serviço Público de Rádio e Televisão

Como é do conhecimento público, o Governo reafirmou a sua intenção de privatizar parte do serviço público de rádio e televisão. A justificação é a contenção de custos. Prevê-se assim que em 2012 a RTP1 desapareça dos ecrãs e dei-a lugar a mais um canal privado.

Que é necessário reduzir drasticamente os custos da televisão pública, não tenho duvidas. Está à vista de todos que a RTP gasta claramente acima das possibilidades do país. Descontadas as especificidades do serviço público, as televisões privadas fazem o mesmo (e muitas vezes melhor) com menos recursos. Apesar de acumular dívidas milionárias, a RTP tem gasto dinheiro “à grande”, apresentando novos projectos que pouco ou nada têm a ver com a sua missão de verdadeiro serviço público. Mas, ao mesmo tempo que continua a fornecer o acesso exclusivo a programas pagos pelos impostos de todos os portugueses aos operadores de televisão paga, não gasta um centavo com a Televisão Digital Terrestre!

Privatizar um dos canais é a pior solução. A poupança será mínima e o país ficará com um serviço público mais pobre.

O Governo pediu à RTP a apresentação de um plano de reestruturação contemplando já a alienação da RTP1. Na minha opinião saltou um passo essencial. Antes de apresentar o plano de reestruturação, a RTP deveria ter sido alvo de uma inspecção pelo Tribunal de Contas. Estou certo de que seriam encontradas formas de se poupar muitos milhões.

O pior de tudo é que, com um serviço público de televisão de um único canal, a tentação de “desfigurar” a RTP2 vai ser enorme. É na RTP2 que o verdadeiro espírito de serviço público se cumpre. O canal não se orienta pela lógica populista e, necessariamente, tem um share muito baixo, mas normal para este tipo de canais. Sem a RTP1, a tentação de transformar a RTP2 numa espécie de salada russa televisiva vai ser enorme. Imaginam o que seria a RTP2 com: novelas, concursos, talkshows de manhã e à tarde, futebol, missa, etc? A pressão para aumentar o share do canal pode fazer com que os portugueses fiquem sem um espaço único na televisão portuguesa. Mesmo sem a RTP1, os custos não irão baixar consideravelmente e o serviço público acabará por se tornar num alvo ainda mais fácil de pressões, pois acabará por gastar quase o mesmo e (se não houver uma reformulação profunda da RTP2) terá audiências muito inferiores às actuais.

Sem a RTP1, muitos artistas portugueses irão também perder um espaço que, apesar de todas as criticas, lhes permite recuperar das barbaridades cometidas pelos programadores dos canais privados. Ninguém pode ignorar o que as mudanças de horários (com total desrespeito pelos telespectadores), fizeram a alguns programas. Dou o exemplo da SIC com o “Programa da Maria”, da Maria Rueff. Com um serviço público mais fraco teremos inevitavelmente pior televisão!

Não será de estranhar que um dos interessados à privatização da RTP1 seja a “incontornável” PT. Ainda há bem poucos meses a PT tentou entrar no capital da TVI (embora tenha negado) e o negócio só não aconteceu porque rebentou um escândalo. Na rádio, alguns grupos privados têm andado a "comprar" frequências locais, criando redes nacionais virtuais. Agora surge a intenção de privatizar a RTP1 e também um ou mais canais da rádio pública (Antena 1, Antena 2, Antena 3...). Será apenas coincidência, ou será a crise mera desculpa para saciar interesses privados?

Como já disse, acho que a reestruturação do serviço público está a ser mal conduzida. Que sentido faz criar um Grupo de Trabalho para definir o que é serviço público, quando à partida já se decidiu privatizar canais de televisão e rádio. E se o Grupo de Trabalho, que se supõe autónomo e isento, concluir que o serviço público de televisão, para cumprir os seus objectivos, necessita de dois canais? Irá o Governo dar o dito por não dito? Não faz sentido.

Actualização:
O programa "A Voz do Cidadão" da RTP abordou o tema no seu último programa. Pode consultar a emissão aqui.

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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Receptores TDT: qualidade deixa muito a desejar

A esmagadora maioria dos televisores comprados antes de 2009 não é compatível com a TDT portuguesa. Muitos aparelhos até têm sintonizador DVB-T (TDT), mas não suportam a norma adoptada por Portugal (MPEG-4/H.264), logo não exibem os canais portugueses. Perante esta situação desagradável, temos duas soluções: a substituição do televisor por um novo, já compatível, ou a compra de um receptor de TDT (também apelidado de set-top-box, adaptador ou descodificador) que, ligado ao actual televisor, permite a recepção dos canais. É previsível que a maioria dos consumidores opte por comprar um receptor TDT, pois um televisor novo e de boa qualidade, apesar da progressiva baixa dos preços devido às contínuas inovações tecnológicas, ainda representa um investimento considerável.

A grande maioria dos telespectadores afectados pela mudança para a Televisão Digital Terrestre, terá assim que comprar um ou mais receptores TDT, para poder continuar a ver os quatro canais: RTP1, RTP2, SIC e TVI. No mercado estão disponíveis vários modelos, sendo alguns equipamentos praticamente idênticos. No entanto, a maioria dos receptores TDT não tem uma qualidade global boa. As falhas são de vária ordem e podem comprometer a experiência televisiva.

A grande maioria dos equipamentos à venda é de marcas pouco conhecidas. Muitas são marcas criadas por empresas importadoras que importam estes equipamentos do Extremo Oriente. A fim de poderem vender estes equipamentos ao preço mais baixo possível, a qualidade dos produtos é, regra geral, baixa. Também, muitos dos equipamentos à venda em Portugal são destinados prioritariamente ao mercado espanhol e, como tal, os parâmetros iniciais estão pré-programados para Espanha, o que pode criar dificuldades na primeira utilização, sobretudo para os mais idosos. Regra geral, as instruções de utilização são também insuficientes. Mas, mais grave, muitos destes equipamentos não estão aptos a receber correctamente a TDT portuguesa!

O guia electrónico de programação (EPG) é referido como um dos atractivos da TDT. Mas, em muitos receptores actualmente à venda, o EPG não funciona correctamente. Muitos equipamentos não interpretam correctamente determinados caracteres da língua portuguesa. Isto acontece porque os fabricantes não adaptaram o software dos equipamentos à língua portuguesa. Felizmente, este tipo de falha normalmente pode ser corrigida com uma actualização do equipamento mas, para isso, é necessário que a marca disponibilize a actualização e nem todos têm o à-vontade para realizar a operação.

Apesar desta e outras falhas, muitos equipamentos são colocados no mercado português e vendidos como preparados para receber a TDT portuguesa. Até receptores não preparados para a Alta Definição (HD) continuam a ser vendidos como compatíveis com a TDT portuguesa, o que não é o caso porque, como já alertei, os requisitos técnicos da TDT portuguesa exigem compatibilidade MPEG-4/H.264 HD (1920x1080i). Mais grave ainda, algumas lojas informam que se o Canal HD voltar a emitir os equipamentos em causa vão ser capazes de recebê-lo, o que é falso! É possível encontrar alguns destes equipamentos não conformes com a TDT portuguesa, inclusive em grandes superfícies comerciais e cadeias de bricolage. Alguns equipamentos têm a indicação SD ou DS no nome do modelo, indicando que são capazes de receber apenas emissões em Definição Standard.

Recordo que a PT, à semelhança do que sucede noutros paises, publicou os requisitos necessários para que receptores e televisores sejam capazes de receber a TDT portuguesa em perfeitas condições técnicas. Criou também um programa de certificação de equipamentos. Chegou inclusive a apresentar receptores TDT com a sua marca, mas disponibilizou um número baixíssimo de exemplares e quase ninguém pode compra-los. Foi inclusivamente lançado um concurso de design para um receptor TDT "Made in Portugal", mas tudo ficou em “águas de bacalhau”. Mais grave, os fabricantes ignoraram o programa de certificação e assim, os consumidores não têm a garantia de estarem a comprar equipamentos 100% conformes. Como referi na altura, até os modelos brevemente comercializados pela PT não respeitavam todos os requisitos para obter a certificação, o que levou a uma redução das exigências.

A ANACOM informou que reuniu com algumas empresas da grande distribuição (Media Markt, Worten, Radio Popular, Auchan, Makro e Intermarché), com o objectivo de preparar o primeiro momento do desligamento analógico. Espero que tenha aproveitado a ocasião para sensibilizar essas empresas para a necessidade de exigir aos fabricantes e distribuidores o fornecimento de equipamentos totalmente compatíveis com a TDT portuguesa. Isto porque, apesar do mercado português ser relativamente pequeno, as grandes cadeias de distribuição têm poder negocial. Como referi, já constatei a venda de equipamentos não HD em lojas de algumas destas empresas. Normalmente estes equipamentos não estão disponíveis para teste na loja, o que dificulta a vida dos consumidores no momento de comprar. E, como o Canal HD não emite, é fácil os mais incautos não se aperceberem que o equipamento em questão não suporta emissões em Alta Definição!

Importa realçar que este problema se coloca essencialmente com os receptores TDT. Os televisores, regra geral, são conformes com a TDT portuguesa e não apresentam problemas.

Como sempre, ao consumidor cabe um papel fundamental, pois deve exigir equipamentos totalmente funcionais. Comprar estes equipamentos é um risco, dada a incerteza que ainda rodeia o futuro da TDT portuguesa.

Exemplos de mau funcionamento do Guia de Programação Electrónico:



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