segunda-feira, 26 de março de 2012

30% da população não está preparada para a TDT a um mês do "apagão" final

A apenas um mês da data agendada para o “apagão” analógico final (26/04), a ANACOM acaba por reconhecer (tarde), não só o atraso do processo de migração, mas também a ineficácia do programa de comparticipação à aquisição de receptores TDT por parte das populações mais carenciadas. Segundo dados de Março da Marktest, cerca de 30% da população afectada pela migração ainda não tomou as medidas adequadas e necessárias para a adaptação à TDT.

A ANACOM reconhece também que o número de Kits DTH (satélite) entregues até ao momento é muito reduzido e afirma que existem receios fundados de que a população que vive em zonas servidas por cobertura via satélite não faça a migração de forma atempada.

Este estado de coisas não deverá surpreender ninguém atento ao processo. Recordo que o programa de comparticipação só arrancou em Abril de 2011, ou seja, há menos de um ano! Além de ter arrancado tarde, o processo necessário para a obtenção da comparticipação foi pouco divulgado e é demasiado complicado e burocrático para a maior parte do público-alvo, o que fica comprovado pelo reduzido número de pedidos.

Seria também interessante comparar, no final do processo de migração, se não haverá uma estreita ligação entre a fraca adesão ao programa de subsidiação e aquisição do kit DTH e a subida assinalável no número de adesões aos serviços de televisão por subscrição. Os dados agora (re)conhecidos pela ANACOM comprovam uma vez mais o falhanço da massificação da TDT, justamente o critério a que foi atribuida mais importância no concurso da Televisão Digital Terrestre.  

Assim, a ANACOM acaba por reconhecer alguns erros há muito apontados e decidiu tomar algumas medidas adicionais de última hora para tentar acelerar a migração:

Novo subsídio, no valor de 61 euros - atribuído para custear a contratualizar da adaptação da instalação para recepção via TDT ou DTH (satélite). Este subsídio adicional é atribuído aos beneficiários do programa de subsidiação, em concreto famílias cujo requerente tenha 65 ou mais anos de idade, que se encontrem em situação de isolamento social, por razões conjunturais ou estruturais.

Redução do preço do kit DTH - o valor baixa para 30 euros, após comparticipação.

Extensão do subsídio ao 1º receptor DTH adicional - o subsídio passa a abranger dois receptores satélite.

Nova modalidade de aquisição do kit DTH - é agora possível encomendar o kit e pagar o respectivo preço final (30 Euros) no acto de levantamento, após verificação/confirmação pela PTC.

Como comentei em diversas ocasiões, o adiamento da migração por parte de muitos, era inevitável. A desigualdade nas condições de acesso ao sinal TDT (custos), motivaram que muitos adiassem a migração na expectativa de novos desenvolvimentos, o que acabou por se verificar. Para além da redução (tardia) do preço dos kits TDT satélite, recordo que está em curso a ampliação da rede de emissores de TDT, o que evitará que muitos residentes em chamadas zonas “sombra” tenham que recorrer à recepção da TDT via satélite.

As decisões da ANACOM podem ser consultadas na íntegra nos textos seguintes:
Ajustamento do programa para atribuição de subsídio à aquisição de equipamentos de receção das emissões TDT

Alteração do valor do Kit DTH, de extensão da comparticipação à primeira set-top-box adicional e ajustamentos do programa de comparticipação

Posts relacionados:
Aprovado subsidio para a compra de receptores de TDT
TDT via satélite poderá custar mais de 200€
PT vai reforçar cobertura TDT em sedes de concelho
Receptores TDT: qualidade deixa muito a desejar
Problemas de recepção, Antenas, etc

quarta-feira, 21 de março de 2012

16:9 vs. 4:3 - Canais resistem à mudança

A mudança para a Televisão Digital Terrestre era suposto introduzir um conjunto de melhorias na televisão portuguesa: mais canais, melhor qualidade de imagem e som, alta definição e guia de programação electrónica. Mas, aproxima-se a data do “apagão” final das emissões analógicas e quase tudo ficou por cumprir. Em 2009 defendi que a emissão dos canais em formato panorâmico 16:9 seria um incentivo maior à migração voluntária para a TDT do que o canal de Alta Definição (Canal HD). O Canal HD, como todos sabem, nunca funcionou como previsto e está sem emitir desde o arranque da TDT em 2009. É também certo que as emissões já não irão ser retomadas, pois o seu funcionamento está previsto durar apenas durante a fase de transição (simulcast) da TDT, que termina já a 26 de Abril próximo.

Em 1994, Portugal até foi um dos países europeus pioneiros das emissões de televisão em formato panorâmico 16:9, utilizando o padrão PALplus (PAL+). A TVI terá emitido alguma programação, mas abandonou o padrão passado pouco tempo. A partir de 1997, graças a financiamento da União Europeia, a RTP passou também a emitir alguma programação em PAL+, o que ainda acontece esporadicamente. No entanto, o PAL+ é uma extensão do sistema analógico PAL e não é possível desfrutar dos benefícios das emissões PAL+ na TDT. Como tenho escrito, já praticamente todas as principais estações de televisão europeias “migraram” para o 16:9. Acho incompreensível que, em 2012, as televisões portuguesas continuem a emitir no “velho” formato 4:3 quando praticamente toda a programação está disponível no formato 16:9. A emissão em HD, naturalmente, utiliza o formato 16:9, mas parece pouco provável que venha a ser adoptada para a TDT, apesar de já ter sido equacionada a possibilidade. Por dois motivos: falta de espectro (no Mux A) e os altos custos associados. Como já referi em posts anteriores, a emissão em Alta Definição necessita de muito mais espectro, espectro esse que é pago pelos canais que o utilizam. Ora, RTP, SIC e TVI estão interessadas em baixar os custos com a emissão e não em suportar custos (muito) superiores.   

Com a migração para a TDT muitas famílias substituíram os seus televisores por aparelhos novos com ecrã 16:9 e, naturalmente, é um “desperdício” de área de ecrã e uma desilusão assistir a emissões no antigo formato 4:3 num televisor com ecrã 16:9. Se a emissão utiliza o formato 4:3 (nativo ou adaptado), para respeitar o formato da imagem, há que aceitar as barras laterais negras. A alternativa é seleccionar no televisor (ou no receptor TDT) um modo de adaptação, o que implica o corte de parte superior e inferior da imagem ou a distorção da imagem. Normalmente os aparelhos vêm programados para “esticar” automaticamentea a imagem na horizontal, o que leva alguns a comentar que os televisores modernos “engordam” as pessoas.

Mas não se trata apenas de um “incómodo” visual. Os principais fabricantes de televisores alertam para o facto do visionamento de emissões 4:3 (com as barras negras laterais) em ecrãs 16:9, de forma prolongada, provoca danos nos painéis!

Será que após 26 de Abril, com o fim das emissões analógicas, os canais portugueses irão finalmente adoptar o formato 16:9? Ou será necessário ser assinante de televisão paga, receber a TDT espanhola ou televisão via satélite de outros países para poder desfrutar de emissões em formato panorâmico? Os jogos Olímpicos estão quase a chegar, será que quem só recebe a TDT portuguesa não vai poder assistir às competições e cerimónias em 16:9? Até quando vai a RTP HD continuar a ser exclusivo da televisão por subscrição? Se depender dos lobbies que “de facto” governam Portugal, acredito que será ainda por algum tempo…

Emissão do jogo Sporting - Manchester City em formato panorâmico 16:9 (ITV4)


Emissão do jogo Sporting - Manchester City em formato tradicional 4:3 (SIC)


Os fabricantes avisam: visionar programas em formato 4:3 por períodos prolongados danifica os ecrãs!


28/12/2012:
A RTP2 está desde 27/04/2012 a emitir em formato panorâmico16:9. Mas, o formato original dos programas não está a ser respeitado! Alguma programação em formato 4:3 é simplesmente adaptada pela RTP ao 16:9 "esticando" a imagem, o que já podia ser feito pelos telespectadores se assim quisessem. Aos pouquinhos, parece que a RTP está finalmente a apanhar o comboio do 16:9. Esperemos que a situação evolua favoravelmente.

7/05/2012 - RTP2 em 16:9 a partir de 14 de Maio
Comunicado da RTP:

A RTP2 é o primeiro canal de televisão em sinal aberto a difundir a sua emissão, na íntegra, no formato 16:9 já a partir do próximo dia 14 de maio.

A emissão em 16:9 apresenta uma maior amplitude de imagem, mais informação disponível, uma imagem mais adaptada à visão humana. Com este novo formato pode disfrutar de imagens num ecrã panorâmico, com mais 1/3 da imagem.

É um passo decisivo na difusão de conteúdos utilizando as mais recentes tecnologias.

Notas técnicas:
Dia 14 terão início as emissões da RTP2 em formato 16:9, sendo enviada a respetiva sinalização para os aparelhos recetores. Este novo formato de imagem abrange quase toda a emissão à exceção dos programas originalmente produzidos em 4:3, sendo que o número destes programas será progressivamente cada vez mais residual.

Os telespetadores que tenham televisores com ecrã 16:9 podem procurar nas configurações de ecrã, ou de imagem, dos seus equipamentos o modo automático. Desta forma o televisor adaptar-se-á sempre à imagem que estiver a ser transmitida.

Posts relacionados:
TDT HD em Portugal: realidade ou ilusão?
Televisões criticam TDT portuguesa (act.)
TDT - Alta (in)definição...
Comparativo TDT portuguesa / TDT espanhola

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Governo "chumba" RTP Memória e RTP Informação na TDT (actualizada)

Segundo notícia de 27/02 do jornal Correio da Manhã, o governo irá votar contra a proposta do PCP que propõe, entre outras coisas, a disponibilização de todos os canais da RTP na TDT. O mesmo deverá fazer o CDS, tornando o chumbo da proposta inevitável. O desfecho anunciado não constitui surpresa, pois tornou-se evidente desde há algum tempo quais os interesses que o Governo defende. A concretizar-se o chumbo assistiremos ao Parlamento a decidir contra os interesses dos cidadãos, ainda por cima fundamentando a decisão com base em dados que com alta probabilidade estão errados. Não seria a primeira vez que tal acontece. Basta recordar os recentes "estudos" invocados para encerrar as emissões de rádio em Onda Curta, que se basearam em informações erradas, mas que serviram de fundamentação para a tomada da decisão. Parece ter cabido à Sra. deputada Francisca Almeida (PSD) dar a “boa nova” aos portugueses, ao declarar ao referido jornal que o chumbo da proposta será devido aos alegados custos. Segundo a deputada, colocar os canais na TDT «representaria um acréscimo de custos de 3,5 milhões de euros anuais por canal» e seria ainda necessário somar «uma perda de receitas de 5,5 milhões de euros», valor que os canais recebem por fazer parte dos pacotes da ZON e MEO.

Já comuniquei à Sra. deputada o meu cepticismo quanto aos valores apresentados e pedi esclarecimentos. O custo de 3,5 milhões anuais por canal não será certamente o custo com a emissão do sinal. E, relativamente á hipotética perda de receitas dos operadores de televisão paga, já aqui referi, em diversas ocasiões, que se trata de uma falácia. Ao contrário da justificação apresentada, a presença dos canais na TDT não implica a saída dos pacotes dos operadores de televisão por subscrição. Se os canais recebem 5,5 milhões pela presença na ZON e MEO, a presença na TDT nunca iria provocar a perda dessa receita pois, como expliquei, os canais não abandonam as plataformas pagas. Quanto muito poderá haver uma pequena redução das receitas desses operadores por deixar de haver exclusividade. Mas os canais são "apetecíveis" (especialmente a RTP Memória) e têm poder negocial. Os operadores têm todo o interesse em mantê-los também nos seus pacotes de canais, logo poderá nem haver redução dessas receitas. Mas se houver, será que o interesse público não vale esse hipotético custo adicional?

Contudo o insulto final poderá acontecer em breve, quando for disponibilizado o Canal Parlamento na TDT. A casa que é incapaz de salvaguardar o interesse público tornando a disponibilização da RTP Memória e RTP Informação na TDT (já reclamada por muitos) uma realidade, será "recompensada" com a presença do seu canal de televisão na…TDT! Haja vergonha!

E, enquanto alguns políticos brincam com a TDT, os portugueses assistem cada vez mais à TDT espanhola. E, também os que moram longe da fronteira são por vezes brindados com boas condições de propagação que permitem receber os sinais da TDT espanhola, como aconteceu no passado sábado. Foi o caso de parte do litoral, onde foi possível receber dezenas de canais gratuitos de televisão e rádio, de cobertura nacional, regional e local, públicos e privados, emitidos a partir da Galicia. Como já referi em diversas ocasiões, a TDT espanhola oferece aos cidadãos canais para todos os gostos e idades. É assim possível a muitos comprovar os motivos porque a TDT espanhola é um caso de sucesso e em Espanha foi possível fazer a migração sem ameaçar os cidadãos, ao contrário do que sucede em Portugal. Enquanto a TDT espanhola avança com novos canais e novos serviços, por cá, a TDT está parada há praticamente três anos, vítima de alguns interesses e da actuação desastrosa das autoridades “responsáveis”.

É absolutamente escandaloso que nem sequer um Mux completo seja utilizado! Terminada a fase de migração, Portugal utilizará apenas 2,5% (leu bem, dois virgula cinco porcento) do espectro livre de UHF atribuído a emissões de televisão e cerca de 30% desses 2,5% são utilizados para emitir um canal “fantasma” chamado Canal HD. A sabotagem da TDT portuguesa continua...

Algumas capturas de alguns das dezenas de canais espanhóis recebidos:



Actualização: Alguns números interessantes sobre a RTP Memória e RTP Informação

Pelo resumo acima pode constatar-se aquilo que há muito afirmei neste blogue, ou seja, os canais RTP Memória e RTP-N (agora RTP informação) representam um custo muito baixo para a RTP. Segundo dados de 2010, a RTP obteve cerca de 14 milhões de Euros de receitas pela presença de todos os seus canais nos operadores de televisão paga. Sabendo que a RTP Memória teve um share de apenas 1,4% (e a RTP Informação tem um valor semelhante), é um pouco estranho que se afirme que a disponibilização na TDT implique uma perda de receitas de 5,5 milhões de Euros, ou seja, 39% das receitas que a RTP obtém do cabo. Ou a RTP conseguiu contratos fabulosos com os operadores de televisão paga para a RTP Memória e para a RTP Informação, ou esta hipotética perda de receitas está muito mal calculada, como suspeito. E claro, é óbvio que com a presença na TDT o share dos canais aumentaria, pelo menos para o dobro, logo aumentavam as receitas com a publicidade. Atente-se também nos 11.8 milhões de Euros pagos à PT Comunicações, que é a responsável pela emissão do sinal de todos os canais da RTP. Como já afirmei em diversas ocasiões, os custos da emissão digital são muitíssimo inferiores à emissão analógica. Estimo que a PT tenha um custo total anual próximo dos 2.5 milhões de Euros com a emissão da TDT. Logo, o valor a cobrar por cada canal da TDT deverá ser bastante inferior e o hipotético aumento de custos de 3.5 milhões por canal referidos pela deputada carece de esclarecimento, como já solicitei. A bem da transparência a RTP deveria apresentar informação detalhada sobre o negócio dos seus canais pagos, como já solicitei, nomeadamente ao Provedor do telespectador, que ignorou a questão. 

A proposta do PCP será debatida na Assembleia da República no próximo dia 9 de Março da parte da manhã.

9/03/2012:
A proposta 167/12 do PCP (universalidade do acesso à televisão digital terrestre e o alargamento da oferta televisiva ) foi REJEITADA com os votos contra do PSD e CDS-PP. Votaram a favor o PCP, o BE e os Verdes. O PS absteve-se.
A proposta do 238/12 do PS (abertura dos canais da RTP Madeira e da RTP Açores na TDT) foi REJEITADA com os votos contra do PSD e CDS-PP. Votaram a favor o PS, BE e os Verdes. O PCP absteve-se.

Recebi ontem resposta da deputada Francisca Almeida (PSD) à mensagem que enviei em 27/02/2012.
Eis o conteúdo da mensagem recebida:

Exmos. Senhores,

O Partido Social Democrata acompanhou, desde a primeira hora, com muita preocupação a implementação da Televisão Digital Terrestre (TDT) em Portugal. Já na anterior legislatura alertámos para os sucessivos atrasos, nomeadamente, os que se reportam à informação da população.

Já nesta legislatura apresentámos um Projecto de Resolução que, uma vez aprovado conjuntamente com o de outros grupos parlamentares, conduziu à redacção conjunta da recomendação ao Governo que envio em anexo.

No que se reporta à introdução de mais canais na TDT devo dizer que, pessoalmente, considero que os conteúdos produzidos pela RTP, que são suportados por todos os contribuintes, deveriam ter nascido, desde o primeiro momento, em sinal aberto. É uma opinião que – reitero- é pessoal, não obstante conhecer os condicionalismos, nomeadamente de largura de banda, que se colocavam à data da criação dos canais de cabo.

Sucede que, no momento actual, a introdução dos canais da RTP na TDT importa acrescidos custos para os contribuintes e para a empresa que, recordo, integra agora o perímetro do Orçamento de Estado. Custos de transmissão e perda de receitas de cabo, já que é inverosímil a manutenção no cabo de canais existentes em sinal aberto.

Recordo que, aquando do lançamento do concurso, o anterior Governo optou por uma solução de transmissão em definição standard dos 4 canais, um quinto a concurso, e um canal em HD. A opção, à data, poderia ser a da introdução de mais canais, nomeadamente da RTP, mas a opção do anterior governo não foi essa, razão pela qual é agora muito onerosa a introdução de mais canais RTP.

Gostaria ainda de salientar que, apesar destes constrangimentos, foi possível, com o empenho dos grupos parlamentares e, particularmente da Sra. Presidente da Assembleia da República e do Governo, encetar diligências no sentido de colocar em sinal aberto o canal Parlamento, o que me parece essencial no sentido de permitir o efectivo escrutínio público da actividade dos deputados a todos os cidadãos.

Fico ao dispor para qualquer esclarecimento adicional.

Com os melhores cumprimentos,
FRANCISCA ALMEIDA
Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata

O conteúdo desta mensagem motivou a minha resposta:

Exma. Srª deputada Francisca Almeida,
Agradeço a sua resposta, embora a mesma não responda de forma fundamentada às questões que coloquei, relacionadas com os alegados custos adicionais com a emissão da RTP Memória e da RTP Informação, em canal aberto na TDT. Lamento também que o partido do Governo tenha hoje chumbado uma proposta no sentido de garantir o acesso de todos os portugueses a esses canais.

De facto, a justificação que foi dada em 2004 para a não disponibilização da RTP Memória em canal aberto foi a falta de espectro. Na verdade esta justificação não convenceu quem é conhecedor destas matérias, pois muitos outros países fizeram uma gestão do espectro que permitiu o funcionamento de muitos mais canais analógicos. As verdadeiras razões foram de natureza política e económica. Aliás, com o passar dos anos as “desculpas” dadas foram-se alterando, primeiro foi a falta de disponibilidade de espectro, depois foi a falta de licenças e agora que há espectro livre na TDT, são os alegados custos excessivos.

A sua afirmação relativa à alegada perda de receitas do cabo, dado que «é inverosímil a manutenção no cabo de canais existentes em sinal aberto», não tem lógica. Como sabe, os canais emitidos em sinal aberto na televisão analógica e na TDT: RTP1, RTP2, SIC e TVI, também são emitidos no cabo (e DTH e IPTV). Segundo a sua argumentação, então também não faria sentido eles serem emitidos no cabo! Claro que faz sentido, e por isso eles são também emitidos nas plataformas de televisão paga.

Como tenho afirmado, a presença da RTP Memória e RTP Informação na TDT não implica a saída das plataformas pagas, nem consequentemente a perda total de receitas obtidas pela presença nos operadores de televisão paga. É do interesse dos operadores de televisão paga “oferecer” aos seus clientes o maior número de canais e de preferência em língua portuguesa logo, o abandono das plataformas pagas está fora de questão. A argumentação utilizada também não tem em consideração o natural e considerável aumento do share dos canais com a disponibilização dos canais também na TDT.

Quanto á questão dos custos de transmissão que refere, trata-se de uma falsa questão. Como afirmei e é sabido, os custos da transmissão digital são muitíssimo inferiores à transmissão analógica. É uma das principais razões que levaram à multiplicação de canais (públicos, privados, nacionais, regionais e locais) com a migração para a TDT. Isto nos outros países, claro! Portugal é a excepção! Agora já não há desculpa Sr.ª deputada!

Segundo informação divulgada recentemente, a PTC cobrará 800 mil euros por ano, por 1 Megabit/s de largura de banda na TDT. É possível transmitir um canal de televisão como a RTP Memória ou a RTP Informação com boa qualidade de imagem e som utilizando apenas 2 Megabits/s. Ou seja, os custos de emissão seriam de apenas 3,2 milhões de euros para os dois canais e não os 7 milhões que a Sr.ª deputada referiu na sua entrevista.

Estranho também que a opção do Governo anterior seja referida como impedimento que não permite corrigir o que foi mal feito. Sr.ª deputada, quando um canal de televisão ganha uma licença fica obrigado a arrancar com as emissões num determinado espaço de tempo, se não o fizer arrisca-se a perder a licença! O Canal HD foi objecto de alguma licença de emissão? A quem foi atribuida? Há 3 anos que não funciona (nunca funcionou nos moldes previstos) e as autoridades nada fazem? Esse espectro (cerca de 30% do total do Mux A) não deveria reverter imediatamente para o Estado e ser utilizado pela televisão pública ou então leiloado? 

Como vê, a disponibilização da RTP Memória e da RTP Informação na TDT é possível e não implica o aumento de custos que o governo alega. O alegado aumento de custos para os contribuintes não pode funcionar como desculpa para se manter dois canais classificados de interesse público num exclusivo das plataformas de televisão paga. A crise não pode servir de desculpa para tudo!

Com os melhores cumprimentos,

13/03/2012:
Bem a propósito as criticas que tenho lançado a propósito do Canal HD. Parece que finalmente alguem se lembrou de que existe um canal de televisão que está atribuido mas não emite! A ERC finalmente abordou a questão do Canal HD da TDT e diz que vai intervir, mas não diz quando. Como tenho lembrado, RTP, SIC e TVI não se entendem há 3 anos, mas ninguém tem mexido uma palha para resolver o assunto. Na realidade nem RTP, nem SIC nem TVI estão interessadas no Canal HD. A única preocupação das estações é que o espectro não seja utilizado para a entrada de novos canais concorrentes. E o Governo continua a assobiar para o lado desculpando-se com a trapalhada que o governo anterior fez. Quem está "esquecido" do assunto pode consultar vários posts sobre o assunto, por exemplo este ou este.

Posts relacionados:
Comparativo TDT portuguesa / TDT espanhola
Anacom "estuda" possibilidade de mais canais na TDT
Introdução da TDT foi criticada no Parlmento
TDT: Blogue TDT em Portugal apelou ao Governo
TDT: problemas de recepção

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Televisão perde mais frequências

A ITU (International Telecommunications Unino) decidiu atribuir uma faixa adicional de frequências para comunicações electrónicas, actualmente utilizadas para emissões de televisão. A libertação desta nova faixa (694-790Mhz) é já apelidada de Dividendo Digital 2 e deverá ser aplicado em 2015. O primeiro dividendo digital , recorde-se, atribuiu a faixa 790-862Mhz também para comunicações electrónicas (redes 4G/LTE) e obrigou à alteração da frequência utilizada pela TDT portuguesa. No inicio do mês o Parlamento Europeu aprovou a  proposta que obriga os estados membros a autorizar a utilização da faixa 790-862Mhz para comunicações electrónicas até 1 de Janeiro de 2013. Em Portugal estas frequências já foram leiloadas prevendo-se para breve a sua utilização pelos operadores móveis TMN, Vodafone e Optimus.
Até 2015, será portanto necessário alterar novamente a frequência de emissão da TDT para todos os emissores do Continente e Madeira e alguns dos Açores. Isto porque a TDT utiliza canais que estão dentro da faixa de frequências que será "libertada". Recorde-se que aquando da fase de consulta à alteração do canal da TDT (numa altura que a proposta de atribuição dos 694-790Mhz já era conhecida), a Anacom não aceitou a proposta favorecida pela PT, que alertou para esta eventualidade e propunha utilizar-se o canal 40 (622-630Mhz), o que tornaria uma segunda alteração de frequências desnecessária.
Posts relacionados:
TDT: Mux A vai utilizar o Canal 56
Anacom decide alteração da frequência TDT
Impacto do Dividendo Digital na TDT
Testemunho - alteração da frequência TDT