quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Governo não vai alterar a oferta de canais na TDT

O ministro Miguel Relvas declarou em entrevista à Antena 1 que o Governo não iria alterar a oferta de canais em sinal aberto na Televisão Digital Terrestre. Falando sobre o processo de migração, disse ainda que, “tirando casos pontuais o processo está a correr bem”. Questionado se não seria possível alterar nada, o ministro desculpa-se com a decisão do governo anterior e o concurso público. Ou seja, o modelo que foi decidido está errado, falhou, é alvo de críticas generalizadas, mas mesmo assim o Governo mantém tudo na mesma. Esta declaração do ministro não constitui no entanto surpresa, pois desde que foi conhecido que a RTP iria abandonar a sua participação no canal Euronews que se tornou evidente que a TDT ficaria tal como está, uma das mais pobres do mundo.

O ministro aparenta estar mais preocupado com os lucros da PT, pois segundo o mesmo a PT terá “investido em 6 canais e só terá 4 que vão pagar o respectivo serviço”. Não se preocupe Sr. Ministro, a PT ganha mais dinheiro com a TDT com quatro canais do que ganharia com uma TDT com seis canais! Já todos perceberam isso! A PT (e a ZON) agradecem a sua inacção, estou certo disso!

O processo do Quinto Canal está em tribunal, é certo, mas um dos fundadores (Carlos Pinto Coelho) entretanto faleceu e a empresa (TeleCinco) há anos que já nem sequer tem Web site activo! Se, eventualmente, o tribunal vier a dar razão à TeleCinco e ela pretender avançar com o seu canal, o Governo poderia sempre, como último recurso, substituir um dos novos canais.

Então e para o Canal HD houve algum concurso? O canal não foi atribuído directamente à RTP, SIC e TVI? Então a RTP a SIC e a TVI há três anos que “não chegam a acordo” e o Governo não intervém? As televisões mantêm há três anos um autêntico bloqueio à TDT, não avançando com o canal (que ocupa cerca de 30% do espectro) e o Governo assobia para o lado? É claro que RTP, SIC e TVI não estão interessados no Canal HD e muito menos interessados estão que o espectro reservado para o canal seja utilizado para disponibilizar novos canais!

O Governo avançou para a privatização de um canal da RTP sem pedir primeiro uma inspecção às contas do grupo. A razão é fácil de encontrar, tanto o PSD como o PS têm responsabilidades nos défices acumulados, não há interesse em tirar “esqueletos” do armário. Mas avançar para a privatização de um canal sem primeiro proceder a uma avaliação rigorosa e independente às contas e à gestão do grupo será pouco mais que uma operação de cosmética, que poderá poupar alguns Euros aos cofres do Estado, mas que poderá ser errada e irá empobrecer ainda mais a televisão portuguesa.

Tornámo-nos  “Os Miseráveis” da Europa!

13/02/2012:
O presidente da ANACOM José Manuel Amado da Silva voltará ao Parlamento na próxima quarta-feira, 15/02/2012 pelas 9H30, na sequência de requerimento apresentado pelo Bloco de Esquerda. O presidente na ANACOM já se tinha deslocado ao Parlamento em 20/09/2011 para dar explicações sobre a TDT, como foi noticiado neste blogue.

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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Apagão analógico em Lisboa afecta 2 milhões de pessoas

O “apagão” do sinal analógico de televisão chega hoje a Lisboa, com o desligamento do emissor de Monsanto. Este emissor é um dos mais potentes e importantes do país e serve, não só a cidade de Lisboa, mas também muitas outras localidades. É também a partir do Centro Emissor de Monsanto, que o sinal de todas as estações de televisão nacionais é distribuído para o resto do país. Para além do emissor de Monsanto serão desligados vários retransmissores: Areeiro, Barcarena, Caparica, Carvalhal, Cheleiros, Estoril, Graça, Montemor-o-Novo, Odivelas, Sintra, Malveira, Sobral de Monte Agraço, Coruche e Cabeção. Com este “apagão”, marcado para as 11 horas da manhã, serão afectados os distritos de Lisboa, Setúbal, Santarém e Évora.

Nalguns casos será necessário reorientar as antenas de recepção porque alguns dos emissores da Televisão Digital Terrestre estão localizados em locais diferentes dos emissores e retransmissores analógicos.

Em termos de população afectada será o maior apagão da migração para a TDT, cerca de dois milhões de pessoas segundo a ANACOM. Segundo dados divulgados pela mesma, no início de Janeiro 30% dos telespectadores (600 mil) ainda não tinha feito a migração e 10% (200 mil) não contava fazê-la a tempo do switch-off. No entanto, um estudo independente realizado a nível nacional apenas 3 meses antes (em Setembro de 2011), indicava uma taxa de migração de apenas 3% das famílias sem televisão por subscrição! É assim previsível que um número significativo de população, sobretudo a mais carenciada, perca hoje o acesso aos quatro canais de televisão. Uma situação que aparentemente não preocupa demasiado os nossos responsáveis políticos.

A próxima fase do plano de switch-off ocorrerá a 13 de Fevereiro com o desligamento do emissor de Reguengo do Fetal e os retransmissores de: Vale de Santarém, Sobral da Lagoa, Mira de Aire, Candeeiros, Alcaria, Tomar, Ourém, Caranguejeira, Leiria, Alvaiázere, Avelar, Pombal, Castanheira de Pera, Espinhal, Senhora do Circo, Padrão, Ceira dos Vales, Vale de Açôr, Vila Nova de Ceira, Ceira, Coimbra, Caneiro, Cidreira, Lorvão, Penacova, Mortágua, Avô e Benfeita.

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Introdução da TDT foi criticada no Parlmento

Teve ontem lugar um colóquio parlamentar sobre a Televisão Digital Terrestre promovido pela Comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação da Assembleia da República. A convite participaram: António Pedro Vasconcelos (cineasta), Sérgio Denicoli (jornalista e investigador da U.M.) e Eduardo Cardadeiro (administrador da ANACOM). O público presente pôde também dirigir questões aos convidados.

Os convidados teceram fortes críticas ao modelo da TDT portuguesa e à actuação da ANACOM. A presença da RTP Memória e da RTP Informação na TDT, que começou por ser reclamada pelo blogue TDT em Portugal em 2009 em nome dos portugueses, foi mais uma vez defendida por António Pedro Vasconcelos que referiu ainda os dois canais previstos no serviço público mas ainda não implementados, um canal para público infanto-juvenil e um canal do conhecimento. Sérgio Denicoli pediu a instauração de uma comissão parlamentar de inquérito à actuação da ANACOM.

Mas infelizmente é penoso verificar que estas discussões sobre a TDT no Parlamento parecem não passar de uma encenação. Como é possível serem apontados tantos erros tão graves, haver tantas críticas de todos os partidos políticos e o processo continuar sem nenhuma correcção? Como é possível o grupo Parlamentar do PSD ter tantas dúvidas sobre o processo e o Governo (que é do mesmo partido) nada fazer? Será que temos um Governo Bipolar?

Como já é hábito ouvimos o representante da ANACOM dizer que tudo corre bem e que no processo tudo foi feito de forma transparente. Enquanto isso, ouvimos testemunhos da falta de actuação da ANACOM e da ausência de resposta da mesma às reclamações dos cidadãos. Todos os erros do processo de introdução da TDT em Portugal já foram apontados HÁ ANOS! Estamos agora a colher os frutos da má semente que foi plantada!

Organizar debates e colóquios para se dizer que se está preocupado, atento aos problemas e às dificuldades, que se dá voz às críticas e para mais tarde dizer que o processo decorreu com a maior das transparências não será a maior das hipocrisias?!

No final do colóquio o PCP anunciou que iria apresentar um projecto-lei que proporá que a cobertura da TDT (terrestre) não seja inferior à cobertura da RTP1 e o acesso em sinal aberto de todo o serviço público de televisão para toda a população portuguesa. Será que a maioria PSD/CDS irá aprovar? Qual a desculpa que irão dar?

Para que não restem dúvidas:

  • Não há imposição do fim das emissões analógicas de televisão em 2012. Com referi em várias ocasiões, há apenas uma recomendação da CE. Tanto que a Polónia terá emissões analógicas até meados de 2013. O que está decidido é que em 2015 termina a protecção às emissões de televisão analógica ou seja, termos simples as emissões DVB-T terão prioridade.
  • Existe espectro livre no Mux A para emitir com qualidade mais três ou quatro canais utilizando o espaço reservado (e não utilizado) pelo Canal HD e o Quinto Canal.
  • O fim da exclusividade dos canais RTP Memória e RTP-I nas plataformas pagas não implica o fim das receitas obtidas pela presença nessas plataformas, apenas uma redução dessa receita. São canais apetecíveis e os operadores de televisão paga não iriam abdicar da sua presença.
  • Relativamente aos recentes leilões 4G/LTE, como também já referi, na faixa de frequências de televisão leiloadas (790-862Mhz) apenas alguns pequenos retransmissores utilizam parte dessa faixa de frequências, em algumas zonas do país. Seria relativamente fácil e não dispendioso alterar a frequência de emissão desses retransmissores de forma a não causar qualquer problema ao avanço do LTE.
Existem pois condições para se alterar o modelo da TDT portuguesa e relançar a TDT em Portugal, haja vontade política.

Entretanto os “apagões” continuam…

Video do colóquio


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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

PT vai reforçar cobertura TDT em sedes de concelho

A Portugal Telecom informou que vai reforçar a cobertura do sinal de TDT nas sedes de concelho com menor cobertura, sempre que haja viabilidade técnica e que a complexidade do sistema o permita. Segundo a mesma, este reforço será gradual e de acordo com o calendário do switch-off, passando a cobertura dos cerca de 90% actuais (segundo a mesma) para 93/94%. Tal como o blogue TDT em Portugal informou, ainda no final da semana passada entrou em funcionamento um emissor TDT na cidade de Ourique.

Como habitual, a operadora deixa os consumidores em “suspense” pois não divulga os locais onde esse reforço irá ocorrer. Isto é mau (como já critiquei em diversas ocasiões) porque os cidadãos arriscam-se a gastar mais dinheiro do que o necessário. Nalguns casos, com o reforço da cobertura poderá já não ser necessário trocar a antena ou nos casos mais complicados pode já não ser necessário recorrer à recepção via satélite (compra do kit TDT Complementar). Os portugueses que tantas vezes são criticados por deixarem tudo para a última hora, infelizmente, no caso da TDT, têm muitas razões para adiarem a migração. Muitas famílias poderão já ter gasto dinheiro desnecessariamente. E não se divulgando as localidades onde o reforço de sinal irá ter lugar, poderá muito bem acontecer que com este anúncio muitas pessoas adiem ainda mais a migração para a TDT.

Está pois a verificar-se a situação para a qual alertei em Junho de 2010:

«Tal como a Anacom reconhece, Portugal vai ter um dos menores períodos de simulcast. Este período, em que as emissões digitais e analógicas coexistem, é fundamental para dar tempo, não só para os telespectadores prepararem as suas instalações para o sinal TDT, mas também para o operador de rede proceder a correcções na cobertura! Por muitas medições no terreno que sejam realizadas, só após uma adesão significativa da população serão detectados muitos problemas na recepção da televisão digital terrestre! E acreditem, em muitos locais do país vão existir problemas de cobertura que será necessário solucionar. Se não há ninguém a captar o sinal, os problemas, naturalmente, passam despercebidos.»

Só agora, a poucas semanas ou meses dos desligamentos e com uma adesão minimamente significativa da população, muitas das dificuldades de recepção do sinal estão a ser detectadas. Dificuldades essas que levam tempo a solucionar. Esta situação era previsível, pois em Portugal e ao contrário de praticamente todos os países, a TDT está a ser imposta à população que, naturalmente, adiou o mais possível a migração o que vai tornar os desligamentos tudo menos “tranquilos”.

Recordo mais uma vez que a PT garantiu em diversas ocasiões que estaria em condições de antecipar o switch-off em 12 meses (para Janeiro de 2011) e que Portugal seria exemplar no switch-off. As palavras são do CEO da PT:

«em 1 de Janeiro de 2011 Portugal estará na linha da frente de tudo o que de melhor vai acontecer na Europa»
«o nosso país vai ser exemplar no switch-off e uma referência a nível europeu»

A realidade, como sabemos, é bem diferente! A novela da TDT à portuguesa continua…

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