segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Falhas na recepção da TDT têm origens múltiplas

Desde que arrancaram as emissões de Televisão Digital Terrestre, as questões relacionadas com a recepção do sinal têm motivado um interesse crescente, o que é compreensível. A tecnologia utilizada é bastante mais exigente quanto à qualidade das instalações de recepção e coloca novos desafios aos técnicos instaladores. Embora o blogue TDT em Portugal não seja um consultório técnico, tenho dedicado vários posts aos assuntos mais técnicos tentando utilizar uma linguagem o mais acessível possível. Muitos leitores e instaladores têm partilhado experiências, muitas vezes queixando-se de problemas na recepção do sinal. Muitos mostram-se decepcionados, pois dizem que, “afinal não é só ligar e já está, como diz a publicidade”.

Como tenho escrito, as causas dos problemas podem ser de vária ordem e muitas vezes não têm origem na emissão de TDT mas sim nos sistemas de recepção que não estão devidamente adaptados ao novo sinal. Muitas antenas são simplesmente instaladas “a olho”, orientadas para o emissor mais próximo quando em muitos casos o emissor mais próximo não é a melhor opção. Noutros casos simplesmente não há condições para se obter uma recepção fiável e a solução é a recepção da TDT por satélite. No entanto, de facto, algumas falhas na recepção do sinal TDT têm origem na rede de distribuição/emissão do sinal. Estas falhas traduzem-se em pixelizações e congelamento da imagem(*) ou até à interrupção momentânea da emissão. Importa dizer que não existe uma rede perfeita, as falhas fazem parte da equação.

A rede de TDT utilizada em Portugal é operada e propriedade da PT Comunicações. No Continente e na Madeira foi adoptada a tipologia SFN (rede de frequência única), o que significa que todos os emissores utilizam a mesma frequência (canal 56 no Continente e canal 54 na Madeira). Este facto apresenta vantagens mas também algumas desvantagens importantes! A vantagem principal reside no facto de se poupar imenso espectro, pois apenas se utiliza um único canal de emissão. No entanto, para que todos os emissores utilizem a mesma frequência são necessários cuidados extremos no planeamento e execução da rede para que se garanta a máxima disponibilidade possível do sinal, ou seja, para se conseguir uma recepção com o menor número possível de falhas. Para que todos os emissores possam utilizar a mesma frequência, o sinal é emitido obedecendo a um parâmetro chamado “Intervalo de Guarda”, que permite a sobreposição de sinais provenientes de vários emissores desde respeitem uma distância máxima entre si, que no Continente é de aprox. 67Km.

Como disse, as falhas de sinal podem ter várias causas, tanto no lado da recepção como no lado da emissão. A rede que vem sendo implementada tem-me suscitado algumas reservas, nomeadamente relativamente à localização escolhida e potência de alguns dos emissores, especialmente na faixa do Litoral entre a Figueira da Foz e o Porto, dado que é uma zona onde com alguma frequência (sobretudo no Verão) as condições de propagação podem mais que duplicar o alcance dos emissores, criando naturalmente interferências destrutivas que podem impossibilitar a recepção correcta do sinal.

Já disse que na minha opinião esta rede teve por base essencialmente critérios economicistas. Tenho guardado a maioria dessas reservas para mim mesmo uma vez que a rede ainda não estava completa, o que parece ser agora o caso. Recordo que a rede TDT obedece a um plano técnico apresentado pela PTC na fase de concursos. A PTC deve cumprir esse plano e, caso pretenda introduzir alterações, tem que as submeter à aprovação da ANACOM. Ora, curiosamente, as potências de emissão dos emissores TDT divulgadas pela ANACOM sofreram recentemente em muitos casos aumentos significativos sem que haja conhecimento de algum pedido nesse sentido e respectiva autorização por parte da ANACOM. Como já comentei, isso não quer dizer que as potências tenham de facto aumentado, pois pode dar-se o caso das potências anteriormente divulgadas estarem erradas. Aliás, recebo vários emissores e não notei variação na potência de emissão, embora isso também não seja garantia absoluta que ela não tenha ocorrido. Caso tenham de facto ocorrido os aumentos de potência relativamente ao plano inicial, sem que tenham sido adoptadas outras alterações, isso terá forçosamente um impacto significativo no comportamento da rede, especialmente tendo em conta o que escrevi mais acima. Mas, como escrevi há muito tempo atrás, tão importante como conhecer a localização e potência de emissão dos emissores é conhecer o seu diagrama de irradiação, um dado que quer a PTC quer a ANACOM não facultam.

Do lado da emissão as falhas podem ter várias origens: na cabeça de rede (em Monsanto), na rede de distribuição e nos emissores. Falhas com origem na cabeça de rede serão necessariamente propagadas por toda a rede e serão reproduzidas em todos os equipamentos de recepção. Falhas na rede de distribuição afectam a parte da rede imediatamente a seguir ao local da falha. Uma falha num emissor afecta a zona servida por esse emissor mas, consoante o tipo de problema, pode afectar também outras zonas que o seu sinal alcance.

É convicção minha que muitos dos problemas de recepção têm origem em falhas na rede de distribuição do sinal. Os emissores são alimentados por rede de fibra óptica ou rádio frequência, consoante a disponibilidade no site. Todos os emissores têm, num dado momento, de emitir exactamente o mesmo conteúdo, bit por bit. Caso isso não aconteça em algum emissor devido a uma falha momentânea na rede de distribuição, perante a rede SFN o sinal desse emissor comporta-se como sinal interferente, com efeito destrutivo, podendo naturalmente afectar a recepção do sinal TDT em zonas abrangidas por outros emissores, mesmo que elas ainda estejam dentro do intervalo de guarda! Uma discrepância na configuração de um emissor pode também causar efeitos semelhantes.

Naturalmente, são situações que requerem uma investigação meticulosa e deveriam merecer a atenção da PTC e da ANACOM o que aparentamente não tem acontecido. Dada a forma "trapalhona" como a rede tem sido implementada não me surpreendia se não existisse qualquer tipo de monitorização das emissões.

É aliás um problema que não afecta só as emissões TDT. A distribuição do sinal de rádio da RDP é também da responsabilidade da PTC e tem sofrido problemas semelhantes (embora parte da rede seja diferente) que duram há vários anos, tendo eu também escrito a esse respeito. Neste caso a RDP atira as responsabilidades para a PTC e a PTC atira as responsabilidades para a RDP!

Volto a frisar que muitos dos problemas de recepção da TDT devem-se a deficiências nas instalações de recepção dos telespectadores e podem ser facilmente corrigidos. Apesar das falhas ocasionais, a qualidade de imagem dos quatro canais (RTP1, RTP2, SIC e TVI) através da recepção da TDT por antena terrestre é actualmente superior à qualidade de imagem desses canais obtida através dos serviços de televisão via satélite.

* estas falhas são muitas vezes causadas por interferências causadas ao sinal no local de recepção.

Posts relacionados:
TDT: problemas de recepção
TDT: como melhorar o sinal
TDT: emissores e mapas de cobertura
TDT via satélite poderá custar mais de 200€
RDP emite silêncio!

Retransmissor da TVI de Vale de Cambra alimentado com sinal TDT

O retransmissor da TVI de Vale de Cambra que emite no canal 58 banda UHF e que serve boa parte do distrito de Aveiro deixou de ser alimentado a partir da rede de distribuição da RETI e é agora alimentado pelo sinal da rede de TDT. Infelizmente, esta alteração foi mal implementada e a qualidade de imagem baixou bastante pois os níveis de video não estão correctos. Também o som sofre interferências frequentes das redes de telemóvel. É certo que já falta pouco para o encerramento das emissões analógicas, mas isso não é desculpa para brindar os telespectadores com má qualidade de imagem.


Posts relacionados:
A Má Imagem da TVI

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Nível de migração para a TDT é baixo

A pouco mais de um mês da data prevista para o desligamento de vários emissores e retransmissores de sinal analógico de televisão, a ANACOM reconhece finalmente que o nível de migração para a TDT é muito baixo, algo que venho alertando há muito tempo e que tem posteriormente sido confirmado por inquéritos.

Segundo a ANACOM, de um total estimado de 1,3 milhões de lares que serão afectados pelo fim das emissões analógicas, menos de 200 mil já mudaram para a TDT. Ainda segundo a ANACOM, dos 1,3 milhões de famílias, um milhão está na zona que terá que o fazer até 12 de Janeiro.

Tanto o número de famílias que já fizeram a mudança para a TDT como o número de famílias afectadas a 12 de Janeiro me parece exagerado. Estimo que a percentagem de lares que já recebem a TDT está ainda abaixo dos 10% (e não os 15% estimados pela ANACOM) e o número de famílias afectadas pelo “apagão” agendado para 12 de Janeiro será inferior a 1 milhão, pois importantes centros emissores (Lousã, Monte da Virgem, Montejunto e Marão) que servem uma vasta população do litoral não serão desligados a 12 de Janeiro.

Segundo Eduardo Cardadeiro, a venda de “descodificadores” está muito aquém do necessário para fazer a migração. Ainda segundo este administrador da ANACOM, aquela estima que cerca de 120 mil famílias residem em zonas onde só será possível receber o sinal digital por satélite, anunciando para breve a descida do preço do respectivo kit para cerca de 40 Euros.

Estes dados foram divulgados ontem durante o lançamento de nova campanha publicitária que custou 1,2 milhões de Euros e que já passa nas televisões (ver post anterior).

Perante esta realidade, o adiamento do “apagão” parece inevitável, como venho alertando há muitos meses, sem que nada tenha sido feito para o contrariar. E se isso vier a acontecer, a culpa não será dos consumidores, como alguns já pretendem fazer crer, mas sim de todos os responsáveis que durante anos afirmaram que tudo estava a correr bem, ignorando todos os sinais e alertas, deixando a TDT ao abandono! Que mais provas serão necessárias para que se proceda a um relançamento da TDT com uma oferta alargada de canais? Que forças ou poderes o impedem? São poderes democraticamente eleitos ou outros?

Mas mesmo perante esta realidade, tudo indica (espero estar enganado) que o Governo, em vez de tomar medidas, vai antes adoptar uma atitude de “esperar para ver”. Tal como informei há dias, o canal de notícias Euronews poderá vir a reforçar a TDT portuguesa, dependendo no entanto da evolução do “mercado” TDT. Ou seja, tudo aponta para que o Governo não vá “mexer” na TDT para já e, consoante a “adesão” dos portugueses, procederá ou não ao reforço do número de canais. Mas, se o eventual reforço de canais passar apenas pela Euronews será insuficiente e demasiado tarde.

Repito o que já disse em ocasiões anteriores e de que muitos portugueses já se deram conta. Há poderosos interesses a quem interessa que a Televisão Digital Terrestre não seja minimamente atractiva. Até aqui, todos os interesses têm sido tidos em conta menos os interesses dos telespectadores e consumidores. Uma eventual promessa vã de mais canais após o "apagão" de 2012 não passará disso, mais uma promessa, como tantas outras que não foram cumpridas! Se o switch-off for avante com esta oferta de canais, a Televisão Digital Terrestre ficará definitivamente parada no tempo.

Posts relacionados:
TDT: Blogue TDT em Portugal apelou ao Governo
Caos na TDT – Governo pondera adiar “apagão” analógico! 
TDT: adiamento do fim da televisão analógica no horizonte
Só 3% dos portugueses já mudaram para a TDT!

ANACOM lançou nova campanha publicitária à TDT

Arrancou ontem uma nova campanha publicitária para divulgação da TDT. Esta nova campanha é da responsabilidade da ANACOM e pretende explicar o processo de migração para a Televisão Digital Terrestre. Tal como o blogue TDT em Portugal informou em Julho, a campanha, que irá custar 1,2 milhões de Euros, terá três fases: a que arrancou ontem, outra entre 2 e 17 de Janeiro e a terceira entre 12 de Abril e 1 de Maio.

O spot publicitário, que já passa nas televisões, à semelhança dos anteriores, è muito pouco informativo e tão curto que se pestanejar quase não dá por ele. Mais uma vez se aposta no medo de ficar sem televisão para levar o consumidor a mudar para a TDT, uma táctica arriscada. 

Facto interessante é que a RTP terá prometido passar o anúncio mais vezes do que o contratado pela agência de publicidade responsável pela campanha. O administrador da ANACOM responsável pela introdução da TDT em Portugal Eduardo Cardadeiro, espera que as outras televisões também “cooperem” nesse sentido.

Esta “cooperação” entre a televisão do Estado e o regulador do Estado para as telecomunicações não é surpreendente, mas é tardia. Também não me surpreendia se as televisões privadas alinhassem nesta verdadeira campanha de medo. Agora que o switch-off se aproxima e, na eminência de perderem telespectadores, os responsáveis pelos canais têm motivos para estar apreensivos.

As entidades responsáveis que pouco ou nada têm feito para acelerar a migração para a TDT, parecem pois apostadas num bombardeamento dos telespectadores para evitarem o adiamento do “apagão” a todo o custo. Tivessem feito o que deveria ter sido feito há muito tempo: informação atempada e de qualidade e aumento da oferta de canais (RTP Memória e RTP Informação e até mais porque há espaço) e a maioria dos portugueses já teria mudado para a TDT. Assim, o mais provável é que seja necessário adiar o apagão, como venho alertando há largos meses. Aliás a ANACOM reconheceu finalmente que o nível de migração para a TDT é muito baixo. Não é num mês que a situação se vai inverter.

Alguns já atiram as culpas para os “malandros” dos portugueses que deixam tudo para a última hora. Mas quem menos responsabilidades tem nesta trapalhada são os consumidores que têm sido enganados e diria mesmo roubados de uma oportunidade para se fazer um salto qualitativo e quantitativo na televisão portuguesa. Vergonha para todos os que colaboram com este estado de coisas.

Video da publicidade da ANACOM



Video de um dos vários spots de publicidade à TDT espanhola


Posts relacionados:
TDT: 2ª campanha publicitária arrancou hoje
TDT: 1ª Campanha de informação não traz novidades
Caos na TDT – Governo pondera adiar “apagão” analógico!
TDT é alvo de publicidade enganadora