terça-feira, 27 de agosto de 2019

Alteracoes à rede de TDT começam em Janeiro de 2020

A alteração da rede de TDT, noticiada pelo blog TDT em Portugal em Junho e cujo inicio estava previsto para o Outono, foi adiada para Janeiro de 2020. O adiamento não constitui surpresa pois em Junho era já evidente o atraso do processo. Relativamente ao plano de migração (o designado roteiro nacional para a faixa dos 700Mhz), pode dizer-se que a ANACOM fez uma inversão de 180 graus!

Assim, a alteração da frequência dos emissores, que estava inicialmente planeada para começar de Norte para Sul irá agora decorrer de Sul para Norte. Segundo a ANACOM, o processo não terá qualquer impacto juntos dos utilizadores que já estão a sintonizar os canais 40, 42, 45, 46, 47 e 48. Os utilizadores que estão a sintonizar o canal 49, 54, 55 ou 56 terão de proceder à ressintonia dos seus equipamentos receptores, mas não será necessária a reorientação das respectivas antenas de recepção.

Mas a alteração mais significativa consiste na manutenção da rede MFN, a designada rede overlay! Recordo que o plano original previa o desaparecimento desta segunda rede. Isto é muito importante, pois como venho alertando desde 2013, a transformação da rede SFN nacional em redes SFN mais pequenas  (desaparecendo a rede MFN) não iria resolver todos os problemas de recepção.

«A solução adoptada para a rede TDT não é isenta de riscos
Alerta-se o regulador para o facto da decisão de transformação da rede SFN nacional em MFN’s de SFN’s não constituir solução para todos os problemas de recepção do sinal TDT. As dificuldades de recepção têm causas múltiplas já abordadas pelo blogue TDT em Portugal e não são apenas consequência de fenómenos de propagação. Devido ao tamanho das áreas MFN definidas e porque no seu interior continuam em operação redes SFN, continuam a impor-se especiais precauções quanto à potência dos emissores, diagramas de radiação e sincronismo (offset temporal). É essencial que as simulações de cobertura utilizem modelos de propagação adequados aos sites e respectivas áreas de serviço, salvaguardando todas as condições de propagação. A não observância destas precauções teria consequências nefastas pois desaparecerá a rede (alternativa) MFN “pura” e continuariam os problemas de recepção associados à utilização de rede SFN. » - Em Resposta ao Projecto de Decisão da Evolução da rede de TDT – Abril/2013

Felizmente a Altice chegou à mesma conclusão que eu e propôs a manutenção da rede overlay, tendo a ANACOM finalmente acabado por reconhecer que esta seria a melhor opção.

Ainda em Junho expliquei que a rede MFN actual utiliza poucos emissores na mesma frequência, limitando o potencial de auto-interferência e instabilidade da rede. E que se a ampliação da rede MFN não for cuidadosamente planeada (por exemplo ditada por critérios economicistas) poderiam voltar a ocorrer problemas de recepção, tal como acontece com a rede SFN. Ora, de acordo com o SPD da Anacom, a migração da rede SFN irá mesmo ser condicionada por critérios economicistas, constituindo a manutenção da rede overlay (MFN) uma importante rede de segurança.

O cronograma actual para a migração dos emissores é o seguinte:


As perguntas mais frequentes relacionadas com o processo de migração foram publicadas no post anterior, pelo recomendo a sua consulta levando em conta as alterações divulgadas neste post.
 
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segunda-feira, 10 de junho de 2019

Alterações à rede TDT começam no Outono

Uma nova alteração à rede de TDT está planeada para começar no quarto trimestre de 2019. A alteração consiste na alteração do canal utilizado para difundir o MUX A da Televisão Digital Terrestre em rede SFN (rede de frequência única).

Porquê alterar o canal de emissão?

Por disposição da União Europeia será necessário libertar as frequências acima de 700Mhz até Junho de 2020 (o chamado dividendo digital II). Tal significa que os emissores de TV que utilizem frequências acima de 700Mhz terão que migrar para um canal de emissão inferior aos 700Mhz.

Dos vários Muxes inicialmente previstos em 2008, o MUX A, o que difunde a RTP1, RTP2, RTP3, SIC, TVI, RTP Memória e ARTV, foi o único que viria a ser utilizado. O MUX A utiliza duas redes, uma (principal) de frequência única (SFN) que utiliza o canal 56 (frequência 754Mhz) em todo o território do Continente e uma rede "complementar" de frequências múltiplas (MFN).  

Como a rede SFN utiliza uma frequência acima dos 700Mhz será necessário alterar o canal de emissão. Já a rede "complementar" que foi activada a partir de 2012 devido às graves deficiências da rede SFN, ao contrário da rede SFN, já utiliza canais com frequências abaixo dos 700Mhz.

Quando ocorrerá a migração?

O início da migração está previsto para o quarto trimestre de 2019 e deverá terminar em Maio de 2020. De notar que não está excluído um possível adiamento até 2022. Essa possibilidade é contemplada pela União Europeia e inclusivamente defendida pelo operador da rede de TDT. O mapa seguinte contém o cronograma da migração.


Espera-se que a ANACOM e/ou o operador da rede de TDT (MEO) divulgue atempadamente informação adequada. Nomeadamente o dia e a hora em que em cada região ou emissor se procederá à alteração do canal de emissão.

Quem será afectado pela migração?

Quem recebe a TDT através do canal 56 (frequência 754Mhz). Apesar de existir a emissão em rede complementar (MFN), esta rede ainda dispõe de poucos emissores e muitos espectadores ainda dependem da rede SFN (canal 56).

Como será feita a migração?

A migração ocorrerá de forma faseada por regiões e de Norte para Sul. Açores de Madeira serão as últimas regiões a migrar. No total a migração de frequência abrangerá cerca de 240 emissores.

A ANACOM optou pela opção com menos custos para o Estado, decidindo não impor um período de simulcast (ao contrário do que propus em consulta pública). Assim sendo, em cada região, a emissão no canal 56 será desligada até as alterações estarem concluídas. Isso implica que quem recebe a TDT através do canal 56 (C54 nos Açores e Madeira) ficará temporariamente sem sinal. Uma vez concluída a alteração do canal de emissão os emissores serão ligados no novo canal de emissão que será o canal da rede MFN atribuído à respectiva região e os telespectadores terão que efectuar uma pesquisa de canais para voltarem a receber os programas.

Na prática, trata-se da ampliação da rede MFN à custa da eliminação da rede SFN. No final passarão a existir várias SFN's de menor dimensão.

Quanto tempo durará a interrupção?

Nada a este respeito foi ainda esclarecido. No entanto é previsível que a interrupção da emissão (no pior cenário) possa durar até um par de horas enquanto os emissores são reconfigurados para a nova frequência. É igualmente previsível que posteriormente à alteração da nova frequência a emissão sofra pequenas interrupções para que se proceda a ajustes.

Será necessário comprar um receptor novo?

Não. Não haverá alteração das normas de emissão, continuando a utilizar-se o DVB-T MPEG-4 (H.264/AVC), pelo que os equipamentos actualmente utilizados estão aptos a receber a emissão na nova frequência devendo apenas ser necessário realizar uma pesquisa de canais.

Como receber a nova frequência?

Quem actualmente recebe a TDT através do canal 56 (frequência 754Mhz) deverá efectuar uma pesquisa de canais no canal atribuído à sua região de residência de acordo com o mapa e na data que vier a ser anunciada. 

Como infelizmente tem sido a norma, a ANACOM é parca em informações não fornecendo dados muito pertinentes quer para o público quer para os profissionais. Por exemplo, se as alterações aos emissores se ficam pela alteração da frequência ou poderão contemplar outras alterações, como a alteração da potência de emissão e/ou o diagrama de radiação de alguns emissores. É que se as alterações não se limitarem à alteração do canal de emissão nalgumas situações poderá ser necessário proceder à reorientação das antenas de recepção.

Espera-se que a ANACOM e/ou o operador da rede de TDT (MEO) divulgue atempadamente informação adequada. Nomeadamente o dia e a hora em que em cada região ou emissor se procederá à alteração do canal de emissão.

O sinal TDT vai melhorar?

Para quem recebe a TDT através do canal 56 (rede SFN) é previsível que o sinal melhore. No entanto, para quem actualmente sintoniza os canais da rede complementar (MFN), tal como alertei em consulta pública em 2013, a qualidade de emissão poderá piorar comparativamente à rede MFN actual: 

«A solução adoptada para a rede TDT não é isenta de riscos
Alerta-se o regulador para o facto da decisão de transformação da rede SFN nacional em MFN’s de SFN’s não constituir solução para todos os problemas de recepção do sinal TDT. As dificuldades de recepção têm causas múltiplas já abordadas pelo blogue TDT em Portugal e não são apenas consequência de fenómenos de propagação. Devido ao tamanho das áreas
MFN definidas e porque no seu interior continuam em operação redes SFN, continuam a impor-se especiais precauções quanto à potência dos emissores, diagramas de radiação e sincronismo (offset temporal). É essencial que as simulações de cobertura utilizem modelos de propagação adequados aos sites e respectivas áreas de serviço, salvaguardando todas as condições de propagação. A não observância destas precauções teria consequências nefastas pois desaparecerá a rede (alternativa) MFN “pura” e continuariam os problemas de recepção associados à utilização de rede SFN. » - Em Resposta ao Projecto de Decisão da Evolução da rede de TDT – Abril/2013

Isto porque a rede MFN actual ainda utiliza poucos emissores na mesma frequência, limitando o potencial de auto-interferência e instabilidade da rede. Se a ampliação da rede MFN não for cuidadosamente planeada (não ditada por critérios economicistas) poderão voltar a ocorrer problemas de recepção, tal como acontece com a rede SFN.

E os novos canais?

Estão há muito prometidos dois novos canais privados na TDT, um canal de desporto e outro de informação. Estes canais estão sujeitos a concursos que têm sido sucessivamente prometidos e adiados, situação que se arrasta desde 2016.

Mais do mesmo?

A migração para a TDT foi um escandaloso desastre. Os alertas (o blogue TDT em Portugal fez vários) foram ignorados e as evidências negadas. Uma vergonha nacional! Mal planeada e mal executada, a migração falhou em quase tudo. Falhou o sinal, falhou a oferta de canais (ainda se recordam do Canal HD às escuras?), falhou a certificação de equipamentos, falhou a divulgação e informação à população e falhou a subsidiação dos custos de migração. Tudo isto contribuiu para que muitos desistissem da TDT e encheu os bolsos dos operadores de TV por subscrição. 

Estamos a poucos meses da data planeada para se iniciar a nova migração e o regulador ainda não informou como a migração irá ser comunicada à população. É um mau presságio! 

Que futuro para a TDT?

Tal como tendo afirmando desde 2009, em Portugal a TDT foi sabotada. A plataforma foi deliberadamente enfraquecida e marginalizada desde o inicio. O operador público cedo esqueceu as suas obrigações e deixou na gaveta os seus planos para a melhoria da oferta de canais temáticos.

Só a pressão pública (liderada pelo blogue TDT em Portugal) conseguiu que a RTP 3 e a RTP Memória chegassem (muito tarde) à TDT. Os operadores privados já instalados não estão interessados no aumento da oferta de canais e apenas em pagar o menos possível pelo sinal (como previ em 2013) e o interesse de novos operadores esmorece perante os obstáculos criados. 

Não menos desencorajador é o facto de a ANACOM ter encomendado um estudo sobre a viabilidade do aumento da oferta de canais na TDT à empresa que audita os grupos donos da SIC e da TVI

Como também alertei em 2014, o próprio operador da rede de TDT (MEO) comunicou que não pretende continuar a prestar este serviço para além de 2023, ano em que termina a obrigação contratual. 

O futuro da TDT em Portugal está pois longe de estar assegurado.


DIALOGO DE SURDOS (actualização 27/07/2019)
Quando escrevi este texto (inicio de Junho) era já evidente que Anacom e a Altice (MEO) não estavam "sincronizadas" (para não variar) a respeito deste assunto. Cerca de um mês após ter publicado este post ocorreu a primeira reunião do grupo de trabalho para a migração da TDT. Agora, mais um mês passou e o desentendimento não só persiste como parece ter-se agravado.

A Altice afirma que os trabalhos para a migração de frequência estão atrasados, não acredita que o processo esteja a ser bem conduzido, que o prazo previsto é insuficiente e que deveria ter-se optado por um período de simulcast (como defendi em consulta pública). 

As críticas têm razão de ser pois já só faltam cerca de três meses para a suposto inicio das alterações e a Anacom ainda não deu a conhecer o plano detalhado ao público nem (mais grave) à Altice. Lamentavelmente, o regulador parece alheio ao facto de que o operador da rede necessita planear os trabalhos com antecedência, pois normalmente este tipo de operação envolve a contratação de técnicos e pode eventualmente também requerer a aquisição de equipamentos. Entretanto, afirmou que não será necessário os telespectadores reorientarem as antenas de recepção.

A trapalhada da TDT portuguesa continua. Como sempre, quem paga é o telespectador/consumidor.  

INVERSÃO DE 180º (actualização 27/08/2019)
A alteração da frequência dos emissores, que estava inicialmente planeada para começar de Norte para Sul irá agora decorrer de Sul para Norte e arranca em Janeiro de 2020. Não será necessária a reorientação das respectivas antenas de recepção e será mantida a rede MFN! Mais informação aqui.

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