quinta-feira, 19 de julho de 2012

PT Faz Correcções na Rede de Emissores TDT

Como tem sido noticiado na comunicação social, algumas localidades do país têm enfrentado problemas na recepção do sinal da TDT. Como tenho afirmado, os problemas têm várias causas e não é correcto responsabilizar apenas a empresa responsável pela rede emissora. Como tenho desde há muito alertado através do blogue TDT em Portugal, a Televisão Digital Terrestre é muito mais exigente do que a televisão analógica relativamente aos sistemas de antena e de distribuição do sinal e nem todos têm noção dessa particularidade. Muitos dos problemas de recepção têm origem em deficiências do sistema de recepção (antena, cablagem, etc) que se podem manifestar a qualquer momento. 

Dito isto, há de facto indícios de haver zonas onde existem dificuldades de recepção do sinal devido ao deficiente planeamento da rede e/ou à deficiente instalação dos equipamentos emissores. Ao longo de quase 3 anos testemunhei e tomei conhecimento de várias situações através de testemunhos credíveis, que me levaram a ter afirmado que a rede de emissores TDT foi implementada de forma "trapalhona". As provas de que o planeamento e/ou a execução da rede de difusão do sinal da TDT foram deficientes avolumam-se. 

Após determinação recente da ANACOM, a PTC tem finalmente vindo a introduzir correcções na rede no sentido de eliminar ou minorar alguns dos problemas de recepção que ocorrem em alguns locais. Como referi em post de Dezembro de 2011, a localização, potência e diagrama de irradiação das antenas dos emissores têm que ser muito bem calculados para reduzir ao mínimo o potencial de interferência, uma vez que no Continente e na Madeira é utilizada rede de frequência única (SFN). O alcance dos emissores é deliberadamente limitado de forma a não chegarem sinais demasiado desfasados no tempo (fora do chamado intervalo de guarda) o que provocaria interferência destrutiva no sinal e a impossibilidade de receber as emissões sem falhas. Daí ter escrito há muito que tinha algumas reservas relativamente à localização e potência de alguns emissores que servem a faixa litoral Centro - Norte, nalguns casos instalados praticamente “em cima” do mar e com potências superiores a 1Kw. E tudo indica que não foram mesmo tomados todos os cuidados necessários. 

Um exemplo chega-nos de Viana do Castelo. Tanto na cidade como no Alto do Galeão (Darque) foram introduzidas alterações nas antenas dos respectivos emissores de forma a limitar o alcance dos sinais para Sul. Concretamente foi recentemente aplicado Tilt (inclinação) e reduzida a potência de emissão nos painéis orientados a sul. Isso pode ser constatado nas imagens enviadas pelo leitor Abílio Azevedo, instalador e residente na zona. Como se pode verificar na imagem acima, os emissores de Viana do Castelo têm o potencial de causar interferências destrutivas no sinal recebido em algumas localidades distantes junto à costa, pois a maioria do trajecto do sinal é sobre o mar, o que com frequência permite excelentes condições de propagação e um maior alcance dos sinais. 

Aplicar um ângulo de inclinação nos painéis emissores, permite reduzir o cone de sombra da antena, aumentando a intensidade do sinal nas proximidades do emissor e, mais importante, limitar o alcance do emissor a uma distância inferior à chamada “linha de vista”. Isso permite reduzir a possibilidade do emissor alcançar distâncias muito superiores ao alcance para o qual o mesmo foi calculado aquando da presença de fenómenos de propagação já referidos em post anterior e frequentes na costa portuguesa, sobretudo por altura do Verão, o que causaria interferências destrutivas no sinal recebido em várias localidades distantes a sul, para além da linha de vista, sobretudo ao longo da costa. 

É perfeitamente possível utilizar redes de frequência única (SFN) a nível nacional, basta planear e implementar correctamente. A PT sabe isso certamente. Este é apenas um exemplo onde aparentemente houve falha no planeamento e/ou execução da instalação da cobertura de uma zona específica mas que, devido a se tratar de rede SFN, tem impacto negativo em zonas afastadas. Isso leva a supor que mais casos semelhantes existirão e infelizmente, apesar de os emissores terem sido instalados há muitos meses, ainda se anda a corrigir a rede.

14/08/2012:
A ANACOM anunciou o prolongamento do prazo para requerer os apoios e comparticipação à aquisição de receptores TDT para a recepção terrestre e DTH (satélite). O prazo limite foi prolongado até 31/12/2012. Já anteriormente o prazo havia sido prolongado até 31/08/2012. A razão para mais este prolongamento deverá estar na reduzida adesão à modalidade DTH (TDT Complementar), já referida no blogue TDT em Portugal, em locais considerados oficialmente sem cobertura terrestre ou com reduzida probabilidade de cobertura. A data 31/12/2012 ocorre cerca de um mês após o fim previsto das emissões temporárias em frequências alternativas.

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terça-feira, 10 de julho de 2012

A RTP TRAIU OS PORTUGUESES!

Como é do conhecimento público o Governo pretende avançar com a privatização de um canal do serviço público de televisão até ao final do ano. O mesmo deverá suceder com a rádio, isto depois de, com base em “estudos” sustentados em informações erradas, em 2011 ter encerrado as emissões em Onda Curta da RDP Internacional, a voz de Portugal no Mundo. Como já afirmei no blogue TDT em Portugal, a privatização de um canal de televisão vai poupar muito pouco dinheiro ao Estado e vai comprometer ainda mais a qualidade do serviço público (ainda) prestado.

Este tema tem naturalmente gerado grande polémica, com apoiantes e defensores desta medida do Governo. A grande maioria dos que são a favor da privatização invocam os custos astronómicos que a RTP tem custado a todos os portugueses. E não lhes nego alguma razão! A RTP tem sido um sorvedouro de dinheiro, mas porque tem sido muito mal gerida ao longo de muitos anos. E todos os governos têm responsabilidade na matéria! Não faltam exemplos de despesismo. Ainda recentemente, apesar de ter uma dívida astronómica, a RTP avançou para a construção de vários estúdios ultra modernos. O serviço público melhorou? Não creio! Outro exemplo. Há muitos anos atrás, foram contratados sete (!) jornalistas só para assegurar o serviço de teletexto. Mas, apesar dos grandes investimentos, a verdade é que a RTP pouco evoluiu nos últimos 15 anos. E será que um serviço público de televisão de um país pequeno, pobre e falido, onde se cortam reformas acima de 600€, pode pagar dezenas de milhares de euros por mês a apresentadores? Não. É imoral! 

São gastos muitos milhões anualmente, mas não há dinheiro para melhorar a qualidade lastimável da emissão da RTP Internacional, a cara de Portugal no mundo?

A Televisão Digital Terrestre não pode ser esquecida. A RTP falhou completamente a sua missão de serviço público ao não apostar na TDT, ao contrário de todas as televisões de serviço público europeias. Falhou e em toda a linha: não aumentou a oferta de canais (que estava prevista antes do inicio da TDT), não disponibilizou os canais da RTP já existentes (RTP Memória, RTP Informação, RTP HD) e não utiliza os serviços acessíveis através do DVB-T, como a áudio-descrição. A RTP assumiu inclusivamente uma posição contra a disponibilização de mais canais em sinal aberto na TDT. Falhou também o dever de informar devidamente os telespectadores sobre a mudança para a TDT e ainda, a par com as outras estações, ocultou do público informação relevante sobre o desenrolar do processo. A forma como a TDT foi introduzida em Portugal foi escandalosa. Num país normal teriam sido apuradas responsabilidades, e haveriam consequências para os responsáveis, mas não em Portugal.

Entretanto a RTP1 é cada vez mais um canal de promoção à televisão por assinatura e aos operadores móveis. É vergonhosa a forma como a televisão pública é utilizada para promover operadores privados. A RTP1 é o tal canal “cavalo de Tróia” que a ZON “alegadamente” pretendeu lançar através da TDT para promover os seus canais pagos, mas que (felizmente) foi chumbado. Em breve arrancam os Jogos Olímpicos e a RTP, mais uma vez, será utilizada para vender assinaturas do MEO e da ZON através da promoção do novo canal RTP Olímpicos, em Alta Definição, mas como já vem sendo habitual apenas disponível através dos operadores de televisão por subscrição. Isto apesar de haver espaço suficiente para a sua emissão na TDT para todos os portugueses. A propósito de Alta Definição, recordo que quatro novos estúdios foram preparados para a Alta Definição e pagos com os impostos de todos os portugueses, mas na prática servem para promover a adesão aos operadores de televisão por subscrição, pois só através destes é possível assistir a emissões da RTP em HD. 

A RTP é pois também vítima da deturpação da sua missão de serviço público. Vejamos o caso da RTP1. É uma mixórdia de conteúdos, sem programação e horários estáveis e acaba por alienar muitos telespectadores. E muito pior irá ficar o serviço público após a privatização de um canal, como já vaticinei algum tempo atrás. 

A RTP não deve concorrer com a SIC ou a TVI! O negócio da SIC e da TVI é vender publicidade. A missão da RTP é servir todos portugueses! Mas a RTP concorre com a SIC e a TVI, porque os governos (todos) querem ter um canal de televisão ao seu serviço que, naturalmente tem que ter audiências altas para lhes ser útil. Isso vai naturalmente fazer com que o único canal público que restar irá continuar a apostar em programas popularuchos iguais ou semelhantes aos que os privados oferecem para manter audiências. Adeus serviço público… 

É por estes e outros motivos que muitos pedem a extinção pura e simples da RTP. Mas o que realmente deveriam pedir era a responsabilização e demissão de todos os políticos que permitem ou incentivam estas práticas de gestão que desvirtuam e levarão à destruição do serviço público de rádio e televisão. A sabotagem descarada da TDT em Portugal, que ainda continua, um episódio vergonhoso, na qual a televisão pública alinhou e teve a “bênção” do governo actual e anterior, tem agora como consequência o avivar das chamas da fogueira inquisitória pelo número crescente daqueles que, empurrados para a televisão por assinatura, para a qual verdadeiramente não têm posses, não estão dispostos a continuar a suportar a taxa de contribuição audiovisual e o desgoverno da RTP através dos seus impostos. A RTP traiu os portugueses que a suportaram ao longo dos anos e agora, muitos portugueses viram-lhe as costas

Desde há alguns anos que assisto a mais cinema português através da RAI3 do que através da RTP. Oiço musica portuguesa através da RNE3 que não oiço através da RDP. Na prática, a contra-gosto, sigo o conselho dos nossos governantes e “emigro”. E não estou só!

11/07/2012:
De acordo com notícia de hoje, a RTP não está a renovar contratos com as produtoras responsáveis pela grelha de programas da RTP2 para 2013. Isso poderá ser um claro indício do tipo de programação adoptada para o único canal do serviço público que ficará acessível em sinal aberto após a privatização de um canal, presumivelmente a RTP1. Ou seja, ficaremos com um canal generalista cuja grelha de programação será definida essencialmente com base nas audiências. Adeus RTP2...

3/08/2012:
No inicio de Julho foi noticiado na comunicação social a criação de um manifesto contra a privatização da RTP. O referido manifesto terá sido assinado por 30 personalidades e publicado em exclusivo no jornal semanário Expresso (edição em papel). Tal como a maioria dos portugueses, não tive acesso ao texto do manifesto, pois não sou leitor do Expresso. Não deixa de ser irónico que um manifesto que se diz ser contra a privatização do serviço público de rádio e televisão tenha ele próprio sido "privatizado" pelos seus autores pois, aparentemente e até agora, apenas os leitores da edição em papel do Expresso tiveram acesso ao texto do referido manifesto.

É também sem surpresa que constato a relativa falta de criticas da sociedade à privatização da RTP. À boa maneira portuguesa, deixa-se andar para ver no que vai dar e, na Hora H, quando o processo já for irreversível, todos criticam. Muitos só irão dar valor ao serviço público quando um dia ligarem o televisor ou o rádio e já não existir a  RTP2 e a Antena 3. Alguns, como já vem sendo hábito, abraçam determinadas causas apenas em busca de protagonismo, para se promoverem. Aguardam de forma cínica que a comunicação social dei-a maior destaque ao assunto, para depois darem entrevistas onde se dizem defensores do serviço público. Foi o que aconteceu com a TDT e tudo indica é o que irá acontecer com a privatização da RTP. Quem não os conhece que os compre...

9/08/2012:
Como informado anteriormente no blogue TDT em Portugal, o Governo pretende vender um canal de televisão.  Alguma comunicação social afirma que será privatizada a licença de utilização da frequência da RTP1. Esta informação é INCORRECTA. Com o encerramento da televisão analógica não há mais sentido falar em frequências de canais televisivos, pois todos os canais televisivos são emitidos no mesmo canal radioelectrico, neste caso o Multiplex A. Não existem portanto frequencias autónomas para RTP1 e RTP2 (e SIC e TVI), e como tal é incorrecto referir a venda da frequência a RTP1. O que poderá ser vendido será sim, o espaço (espectro) da RTP1 ou da RTP2 no Multiplex A.

24/08/2012:
Segundo notícias publicadas em vários jornais, o Governo terá já decidido encerrar a RTP2 e afigura-se como provável a concessão do serviço público da RTP1 a privados. Este assunto tem continuação no post Liquidação Total! - RTP2 acaba e RTP1 concessionada.

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terça-feira, 22 de maio de 2012

TDT - Emissão em Frequências Alternativas

Nota: O titulo original deste post era "Nova alteração da frequência TDT em curso?". Uma vez que pouco tempo após a sua publicação foi conhecida informação oficial sobre a matéria, o titulo foi alterado para "TDT - Emissão em Frequências Alternativas". A informação actualizada está assinalada mais adiante.

Segundo vários relatos, estão no ar, em vários pontos do país, emissões TDT em novas frequências. As alegadas novas emissões do Mux A utilizam os canais 42 e 49 da banda UHF. A confirmar-se esta informação, poderá tratar-se de uma solução para ultrapassar algumas limitações da rede SFN (já abordadas pelo blogue TDT em Portugal) adoptada para a cobertura de Portugal Continental e Madeira ou, para reduzir o potencial de interferência com a rede 4G/LTE, que utiliza frequências próximas do canal 56 utilizado pelo Mux A, dentro da faixa UHF de televisão. 

A confirmar-se a informação, a rede poderá em breve deixar de ser exclusivamente SFN e passar a MFN ou (mais provável) mista. A utilização de mais de uma frequência de emissão permite utilizar maiores potências de emissão e diagramas de irradiação menos restritos em locais com cotas mais elevadas, como acontece com algumas serras do país, onde até ao fim das emissões analógicas se utilizavam emissores potentes. No entanto, poderemos estar apenas perante a preparação de uma nova alteração da frequência TDT a nível nacional. Essa alteração era aliás previsível a médio prazo pois, como o blogue TDT em Portugal divulgou, a ITU aprovou recentemente a atribuição de uma faixa adicional de frequências UHF, o que implica a alteração de todas as frequências TDT acima do canal 49 até 2015. Recordo que aquando da consulta sobre a alteração da frequência TDT, a PT favoreceu a adopção do canal 36 ou canal 40 em detrimento do canal 56, mas a ANACOM decidiu pelo canal 56. 

A confirmar-se a alteração na rede de emissão de SFN para MFN ou mista, estará a fazer-se o mesmo que outros países fizeram, mas logo de início! Por exemplo, a vizinha Espanha, utiliza sobretudo redes SFN nos muxes com cobertura nacional, mas utiliza também frequências alternativas nas emissões com desconexão regional e em vários locais. Como já comentei em post anterior, vários países com muitos mais canais analógicos (espectro mais saturado), conseguiram colocar no ar vários muxes SFN e MFN em coexistência com vários canais analógicos. 

Caso se confirme a alteração na rede TDT, os telespectadores afectados terão de resintonizar os seus televisores ou receptores TDT e eventualmente reorientar a antena de recepção. Importa referir que ainda não há qualquer informação sobre o assunto por da parte da PT ou da ANACOM.

CONFIRMADO: MUX A ESTÁ A SER EMITIDO EM VÁRIAS FREQUÊNCIAS


Em vários pontos do país o Mux A está a ser recebido em duas ou mais frequências para além da emissão oficial no canal 56. Na primeira imagem pode ver-se em simultâneo o sinal de três frequências TDT activas (C42, C46 e C56). Nas outras imagens pode ver-se a sintonia individual do canal 46 (674000 Khz) e do canal 42 (642000 Khz). A emissão nos canais 46 e 42 são uma cópia exacta do canal 56.

Tudo indica que a PT está a fazer ensaios para alterar a frequência de emissão em pelo menos alguns emissores a fim de melhorar a recepção em algumas zonas do país.

 (act.) ALTERAÇÃO É TEMPORÁRIA!

De acordo com informação da ANACOM há pouco divulgada, a activação de novas frequências destina-se a minorar os problemas de recepção detectados em alguns locais do país e é temporária. Os emissores ficarão activados durante 6 meses, enquanto a PT procede à "optimização" da rede SFN, durante a altura do ano mais afectada por fenómenos de propagação e abrange a faixa do Litoral, a mais susceptível a dificuldades de recepção por auto-interferência, como justamente referi no post de Dezembro. Esta aliás foi a solução adoptada por Espanha para minorar o mesmo tipo de problema na costa sul do país, mas em Espanha os emissores "alternativos" têm permanecido "no ar" durante todo o ano. Extracto da resolução da ANACOM:

«...» o ICP-ANACOM deliberou, a 18 de Maio de 2012, o seguinte:
1. Atribuir à PTC uma licença temporária de rede, pelo prazo de 180 dias, constituída por 3 estações, a qual deve estar implementada até ao próximo dia 25 de maio, nos seguintes termos:
a) Emissor de Monte da Virgem: canal 42 (638-646 MHz);
b) Emissor da Lousã: canal 46 (670-678 MHz);
c) Emissor de Montejunto: canal 49 (694-702 MHz).

2. Determinar que a máxima potência aparente radiada (PAR) de cada estação, referida no número anterior, deve ser de 10 kW.

3. Determinar à PTC a apresentação ao ICP-ANACOM, no prazo de 15 dias, os seguintes elementos relativos a cada estação:
a) Coordenadas geográficas (WGS84);
b) Altura da antena;
c) Diagrama de radiação da antena;
d) Indicação da PAR a utilizar.

4. Determinar à PTC a otimização das características técnicas da rede suportada no canal 56, tendo em vista uma diminuição efetiva das zonas de auto interferência, com carácter prioritário nas zonas não abrangidas pela cobertura da rede cujo licenciamento temporário é atribuído na presente decisão.

5. Determinar à PTC, para efeitos do número anterior, o envio mensal ao ICP-ANACOM de um relatório com indicação das alterações das características técnicas efetuadas na rede, tendo em vista a diminuição das potenciais zonas de auto interferência, indicando igualmente as zonas onde é garantido um incremento da relação Sinal/Ruído (S/N) face à situação anterior.

6. Determinar à PTC a concretização, o mais tardar até à data da efetiva implementação pela PTC da rede referida no n.º 1, dos procedimentos adequados a eliminar os custos em que os utilizadores incorram para fazer a adaptação à rede agora licenciada, os quais devem ser comunicados ao ICP-ANACOM.

7. Determinar à PTC a concretização, o mais tardar até à data da efetiva implementação pela PTC da rede referida no n.º 1, de um plano de comunicação aos utilizadores de TDT afetados, adequado a divulgar a informação necessária decorrente da entrada em funcionamento da rede agora licenciada, o qual deve ser comunicado ao ICP-ANACOM.

Ou seja, a ANACOM, acaba por reconhecer (tarde) as deficiências da rede TDT e deu um "puxão de orelhas" à PT! Esta situação é lamentável, pois é (em parte) o resultado da migração apressada e mal conduzida, como tenho referido em diversas ocasiões no blogue TDT em Portugal. Por exemplo, recordo os alertas que lancei na sequência dos desligamentos piloto de Alenquer e Cacém.

O comunicado da ANACOM pode ser lido aqui.

Recordo alguns alertas  que fiz já têm algum tempo a propósito deste assunto: 

«...as falhas de sinal podem ter várias causas, tanto no lado da recepção como no lado da emissão. A rede que vem sendo implementada tem-me suscitado algumas reservas, nomeadamente relativamente à localização escolhida e potência de alguns dos emissores, especialmente na faixa do Litoral entre a Figueira da Foz e o Porto, dado que é uma zona onde com alguma frequência (sobretudo no Verão) as condições de propagação podem mais que duplicar o alcance dos emissores, criando naturalmente interferências destrutivas que podem impossibilitar a recepção correcta do sinal.»
in Falhas na recepção da TDT têm origens múltiplas - blogue TDT em Portugal, 11 de Dezembro de 2011

«Essa situação é possível que ocorra em determinados locais do país. Eu próprio pude verificar o problema este verão, que até foi bem fraquinho em termos de propagação troposférica. Esse problema era previsível e é quase impossível de eliminar totalmente mas, infelizmente algumas das opções tomadas quanto à rede de emissores não foi a mais acertada. Embora já tenha deixado alguns alertas em posts e comentários anteriores, optei aguardar pelo término da implantação da cobertura TDT para fazer novas considerações.»
in TDT: Apagão deixa Aveiro e Coimbra sem sinal digital - blogue TDT em Portugal, 2 de Dezembro de 2010

28/05/2012:
Ao contrário da informação da ANACOM, tudo indica que o canal 46 não está a ser emitido apenas a partir da Lousã. Estou a receber do norte sinal com boa intensidade, embora mais baixo que o canal 56. Possivelmente a partir do emissor de Lourosa ou Vale de Cambra. Actualização: trata-se de uma reflexão de sinal proveniente do emissor da Lousã.

ATÉ AO MOMENTO NENHUMA INFORMAÇÃO À POPULAÇÃO SOBRE A EMISSÃO DA TDT EM FREQUÊNCIAS ALTERNATIVAS POR PARTE  DA PT, ANACOM OU CANAIS DE TV.

30/05/2012:
Os instaladores TDT habilitados estão a receber da PTC informação e instruções como proceder relativamente à reorientação de antenas e resintonização de equipamentos. Para obter a comparticipação dos custos, a população afectada deverá contactar um instalador habilitado que confirmará junto da PT se o local está abrangido. O instalador facturará o serviço e entregará ao consumidor um formulário que deverá ser preenchido e enviado para posterior reembolso por transferência bancária.

TDT - Frequências alternativas e reorientação de antena - Carta aos agentes instaladores
Formulário pedido de reembolso do custo de reorientação de antena e sintonização de receptor TDT

(Nota: documentos enviados por um leitor e disponibilizados pelo blogue TDT em Portugal exclusivamente a titulo informativo!)

Uma questão pertinente se coloca: Se as novas emissões são temporárias (180 dias), como é afirmado na autorização da ANACOM, muitos cidadãos terão que pedir a reorientação da antena duas vezes este ano! Uma agora e outra novamente daqui por 6 meses. Sendo que só é custeada uma alteração por habitação.

Não há ainda qualquer informação à população relativamente a este assunto, o que parece ir contra o ponto 7 do comunicado da ANACOM. Se continuar assim, sem qualquer publicidade, este "programa" de reembolso vai ter o mesmo insucesso que o programa de subsidiação à aquisição de receptores TDT. Com isso ganha a PT, evidentemente, pois não suporta os custos das alterações.

19/11/2012:
A ANACOM prorrogou a licença temporária concedida à PTC. As emissões em canais alternativos (C42 Monte da Virgem, C46 Trevim-Lousã e C49 Montejunto) continua assim por mais 6 meses.
 
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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Fim da televisão analógica originou sofrimento e exclusão

A forma como a Televisão Digital Terrestre foi introduzida em Portugal não permitia esperar outro resultado. Os cidadãos em geral e as populações mais desfavorecidas em particular foram altamente lesados com a migração para a TDT. O processo de migração português foi concebido e implementado com quase total desrespeito pelos cidadãos, ignorando por completo as experiências de outros países, as recomendações de especialistas e as graves dificuldades económicas da maioria da população. 

Em Dezembro de 2010 alertei que já não seria possível implementar um processo de switch-off que decorre-se de forma tranquila. Os factos deram-me razão, em Portugal não tivemos uma verdadeira migração, mas sim uma expropriação. Tratou-se de uma verdadeira agressão à população, perpetrada por políticos sem escrúpulos ao serviço do lobby da televisão paga. A mudança foi imposta a todo o custo, sem estarem reunidas as condições, com grandes benefícios para alguns poucos, mas com uma factura pesada e sem contrapartidas relevantes para a população. 

ANACOM e responsáveis políticos decidiram que um ano bastaria para vários milhões de portugueses se prepararem e fazerem a mudança para a TDT. Apesar dos avisos e das inúmeras evidências em contrário, para eles foi um sucesso, pois avaliação diferente poria em causa os seus juízos e a sua competência. 

Aos olhos dos políticos o processo correu tão bem que o administrador da ANACOM com a responsabilidade da TDT (o mesmo que em Fevereiro de 2011 afirmou que a instalação de emissores tinha ficado concluída no final de 2010), foi “premiado” com novos pelouros. Entre outras atribuições, será responsabilidade deste Sr. coordenar e decidir a gestão e fiscalização do espectro radio-eléctrico. Já todos podem imaginar o que poderá vir a acontecer e qual será o futuro que espera a TDT portuguesa… 

Segundo a ANACOM, após as três fases de desligamento, terão sido recebidos no total 4.065 telefonemas para a linha de apoio da TDT por parte de pessoas que ficaram sem TV. A mesma considera estes números “pouco expressivos” e eu concordo. Os números são de facto pouco expressivos porque não expressam a realidade! A maioria das pessoas que liga para a linha de apoio sabe porque ficou sem televisão, simplesmente não tem disponibilidade financeira para fazer a mudança porque, ao contrário do que é afirmado na publicidade que passou na TV, na maioria dos casos não basta comprar um “descodificador” e ligar ao televisor.  

Como já referi neste blogue, o programa de subsidiação dos equipamentos TDT foi um fracasso, a verba utilizada ficou substancialmente abaixo dos valores apresentados pela PTC na fase de concursos. Ou seja, tudo indica que a PT acabou por poupar muito dinheiro com o programa de subsidiação! Terá sido porque os portugueses são ricos, ou devido à falta de divulgação e todas as burocracias necessárias para obter a comparticipação? Não há responsáveis?  

A contrapor ao sucesso apregoado pelos políticos e pelos responsáveis da ANACOM, há verdadeiros dramas de famílias e pessoas isoladas que ficaram sem televisão, a sua única fonte de distracção ou companhia. Eis o extracto de uma mensagem recebida pelo Blogue TDT em Portugal de uma funcionária da linha de apoio TDT que chega a atender várias dezenas de pessoas por dia:
Sou trabalhadora da linha de atendimento da TDT (a serviço da PT) há 7 meses. Lido diariamente com casos de telespectadores indignados que me deixam igualmente indignada e perplexa. Enquanto trabalhadora esforço-me ao máximo por ser imparcial, pessoalmente não consigo ficar indiferente aos problemas que este novo sistema está causar não a dezenas, nem a centenas, mas a milhares de cidadãos portugueses. Todos os dias regresso a casa com o sentimento de que estou a compactuar com o demónio. Raramente temos soluções gratuitas a baixo custo para oferecer aos telespectadores. Oiço pessoas a chorar, a gritar, a conformarem-se devido a esta situação. Estamos a falar da televisão, um bem adquirido pelos portugueses há 55 anos, o meio de informação das massas, o único meio de entretenimento ou a única companhia de alguns. «…» Existem direitos civis básicos que estão a ser violentados pelas entidades responsáveis da TDT. 

Segundo a ANACOM, terão sido 4.065 telefonemas, mas quantos mais milhares ficaram sem televisão e não telefonaram pelas mais variadas razões? Afinal, a experiência diz que quando um reclama muitos mais ficam em silêncio. 

O processo de migração para a Televisão Digital Terrestre, pela forma como decorreu, ficará registado como um marco negro, não só na história da televisão portuguesa, mas também na história da nossa democracia. Infelizmente, a maioria da população achará que se tratou apenas de mais um “assalto” ao bolso dos cidadãos, mas quem seguiu o processo com atenção e tem alguma experiência de vida, sabe que se tratou de algo bem mais grave. Ficou bem evidente que a nossa democracia está doente e certos políticos não passam de serviçais do poder económico, neste caso a PT, que é quem de facto "governa" as telecomunicações e a televisão em Portugal. 

Os dias que correm fazem recordar tempos anteriores ao 25 de Abril de 1974, quando uma ditadura mentia e oprimia a população em benefício de meia dúzia de capitalistas. Parece que em vez de avançar recuamos no tempo! 

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