No próprio dia em que a PTelecom divulgou a informação sobre o processo de verificação de compatibilidade de televisores e set-top box’s (receptores ou adaptadores), deixei aqui o alerta. Não há qualquer referência à necessidade da presença da CI (Common Interface) nos aparelhos para os mesmos obterem a certificação de compatibilidade.
O facto de não ser exigida a presença da CI nos televisores e receptores TDT para os mesmos obterem a certificação de compatibilidade com a TDT portuguesa terá como consequência inevitável que alguns dos equipamentos certificados não permitam a recepção da TDT paga, com lançamento aguardado para dentro de alguns meses. A recepção da TDT gratuita não será afectada.
Isto porque é a CI que permite dotar os aparelhos com o módulo de descodificação apropriado para ver os canais da futura tdt paga (alguns receptores já vêm preparados de raiz para um determinado sistema de codificação). Recorde-se que também não é ainda do conhecimento público qual o sistema de codificação a utilizar pelo serviço.
Nos televisores, como na altura expliquei, o problema não deverá ser grave, pois quase todos já vêm equipados com a CI. Mas, nos receptores que a não possuam, isso vai impossibilitar a sua utilização (legal) com a tdt paga. Há modelos de receptores TDT à venda em Portugal que não possuem a CI e não permitirão a sua utilização com a TDT paga!
Na minha opinião o logotipo de compatibilidade deveria fazer essa distinção ou alertar para esse facto. De contrário, os consumidores podem ser induzidos em erro porque, devido à presença do logotipo, julgam que estão a comprar algo 100% compatível, o que pode não ser o caso.
Quando o Meo DT for lançado, certamente que finalmente irão aparecer receptores a preços mais “atractivos”, ou sob a forma de aluguer, mas certamente também com a contrapartida de um contrato de fidelização de um ou dois anos, com aliás já acontece com o serviço satélite.
Do ponto de vista comercial, a PTelecom parece não ter interesse em garantir a compatibilidade de equipamentos fornecidos por outras empresas com a TDT paga, “talvez” porque ela própria será fornecedora desses equipamentos.
A própria adopção do MPEG-4 para além da tão apregoada economia de espectro radioeléctrico, dadas as condições (previsíveis) do mercado, permitirá colocar a PTelecom numa situação de quase monopólio como fornecedor dos receptores TDT, pelo menos a curto/médio prazo.
Parece-me pois, que estamos na presença de um caso nítido de conflito de interesses em que o consumidor menos informado, mais uma vez, poderá vir a ser prejudicado.
Actualização 13/05/2009:
Desde o inicio deste Blog tenho citado a Irlanda como um bom exemplo a seguir no que ao processo de introdução da TDT diz respeito. Na Irlanda o arranque oficial da TDT está previsto para este Outono. Desde Fevereiro de 2008 que estão divulgados os requisitos técnicos dos televisores e receptores TDT. No documento seguinte são claramente distinguidos os requisitos mínimos, os recomendados e os opcionais.