Caro leitor, após prolongado silêncio ditado pela ausência de novidades,
não resisto a partilhar o meu desgosto sobre o estado da televisão e da
rádio no nosso pequeno Portugal. É mais um desabafo de quem vê o país a
andar para trás. Sei que não estou sozinho.
Comecemos pela televisão. Na vizinha Espanha em Fevereiro todos os
canais nacionais ficaram disponíveis em Alta Definição na TDT. Também na
TDT, a televisão pública TVE iniciou a emissão teste de dois canais em
UHD 4K HDR! Por cá, a nossa TDT continua em SD e sem os prometidos dois
novos canais. Nem privados, nem públicos. Nem mais canais nem HD. Canais
em Alta Definição, só nos operadores de TV por subscrição!
Mas as coisas ainda podem piorar! A licença TDT do operador da rede foi
renovada no final de 2022 por mais 7 anos, até 2030. No entanto e tal
como havia previsto em 2013, os privados há anos veem reclamando do
valor que pagam à Altice/MEO e já afirmam que não é viável continuarem
na TDT até 2030, pretendendo a possibilidade de sair antes de terminar a
licença!
«… Dada a pobreza da nossa TDT, não estranha por isso que o número de
lares que recebem apenas TDT esteja em queda acentuada. Poderá já não
estar longe o dia em que os operadores nacionais não estarão dispostos a
suportar os custos com a sua emissão na TDT. Quando esse dia chegar os
canais irão reivindicar uma de duas coisas: a redução brutal dos custos
de emissão na TDT ou o abandono puro e simples da mesma…» in Blogue TDT
em Portugal, 2/05/2013.
É oportuno recordar que estes privados foram contra a disponibilização
de mais canais na TDT, o que foi determinante para o fracasso da
Televisão Digital Terrestre. Os dois operadores privados e a RTP
apostaram no modelo de TV por subscrição em detrimento da TDT. O
interesse estrangeiro foi afastado. Os dois privados foram contra o
aumento da oferta de canais mas continuam a pretender beneficiar da
entrada da RTP3 e RTP Memória na TDT pagando menos na fatura que pagam à
Altice/MEO argumentando que a mesma tem mais receitas devido à
disponibilização dos mesmos na TDT. É preciso ter muita lata!
Os problemas na receção do sinal regressaram em força na minha zona,
com micro-falhas quase constantes por vezes ao longo de várias horas,
tanto no canal 44 como no 46. O canal 46 é emitido do
Trevim (Serra da Lousã) e também da Serra da Boa Viagem, o que pode causar interferência em determinados locais e circunstâncias. A cereja no topo do bolo vai para a ANACOM
que em Maio de 2023 deixou de divulgar a monitorização do sinal TDT sem
qualquer explicação!
Na rádio as coisas não estão melhores. A rádio pública deixou
"apodrecer" as antenas dos emissores e só com muita ginástica foi
possível manter as emissões, tendo nalguns sido necessário reduzir a
potência de emissão. Na Lousã as falhas de emissão em todas as rádios da
RDP com duração de várias horas repetem-se. Nos privados, os problemas
financeiros na TSF são públicos e a cobertura da Radio Observador
continua fraquíssima.
Numa democracia Ocidental com 50 anos, como é possível existirem apenas
três operadores de rádio FM de âmbito nacional?! Eles são a RDP(3), a
Rádio Comercial(1) e o grupo Renascença(2). O grupo Renancença pertence à
Igreja Católica e opera a Rádio Renascença e a RFM. O Estado tem o
dever de ser neutro e no entanto atribuiu duas redes com cobertura
nacional à Igreja Católica. No entanto a TSF nunca obteve uma rede
nacional e a rádio Observador apenas chega a quatro cidades! Entretanto,
por exemplo, em várias cidades a RFM pode ser recebida em três a cinco
frequências diferentes!
Estamos a celebrar os 50 anos do 25 de Abril e continuamos com um sério
défice democrático no que diz respeito à rádio. Em Portugal é o Estado e
a Igreja Católica que dominam o Éter! Quem controla a informação tem
poder e um Estado verdadeiramente democrático deve combater a
concentração do poder!
Na TDT portuguesa não houve vontade de disponibilizar emissoras de
rádio, nem públicas nem privadas. Na espanhola estão lá 26. Após o
falhanço do DAB (rádio digital) em Portugal em 2011, aparentemente
também não há qualquer sinal de interesse no nosso país. No entanto
outros países já avançaram com emissões em DAB+ com sucesso. É o caso do
Reino Unido, Alemanha, Suíça, França e Espanha para citar apenas
alguns.
O desinteresse nacional pelo DAB é lamentável e incompreensível porque
ele permite emitir várias rádios a partir do mesmo emissor, o que
constitui uma poupança enorme para as rádios e seria também uma
excelente oportunidade de melhorar a oferta de rádio no nosso país e
corrigir a desigualdade que apontei. É de lamentar que a ANACOM não tome
a iniciativa de divulgar e promover a oportunidade que o DAB+
representa.
Infelizmente somos um país que não perde uma oportunidade de ficar parado! O problema é que os outros avançam...
Leitura adicional:
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