sábado, 3 de maio de 2025

DAB+ - A rádio digital terá nova oportunidade em Portugal

DAB+
A rádio digital irá ter nova oportunidade para vingar em Portugal. Após o fracasso das emissões DAB que foram encerradas em 2011, em breve será iniciado um período de teste e avaliação do sistema DAB+.
As informações ainda são escassas tendo apenas sido adiantado que o teste terá a duração de dois anos e serão utilizados dois multiplexes, um cobrirá a região da grande Lisboa e outro a do grande Porto. Os custos serão suportados pelas rádio difundidas. O anúncio foi feito pelo secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Carlos Abreu Amorim, no âmbito do Dia Mundial da Rádio. Recordo que o blogue TDT em Portugal foi a única entidade que publicamente (aqui no blogue e através de consultas públicas) tem pedido a divulgação do DAB+ junto das rádios e o inicio de emissões em DAB+ à ANACOM e ao Governo. Portugal será um dos últimos países da Europa a iniciar emissões radio no sistema DAB+.

Como tenho dito, a introdução do DAB+ faz todo o sentido por diversos motivos: a falta de frequências do FM para as novas rádio (por exemplo, Observador e CMR), a redução dos custos de operação comparativamente ao FM e diversas vantagens técnicas como a melhoria da qualidade áudio, a possibilidade de difundir imagens e texto em simultâneo com a emissão áudio e a maior robustez do sinal.

A superioridade técnica do DAB+ tem ainda outras importantes vantagens que a qualquer momento poderão ser de grande importância na esfera da proteção civil como o "apagão" do dia 28 de Abril nos recordou. Uma está relacionada com o consumo de energia elétrica que, por ser inferior à do FM, em caso de falha de energia elétrica permite aos emissores emitirem durante mais tempo com recurso a baterias. Outra vantagem do DAB+ é a de permitir a ativação imediata de canais rádio de emergência em que não é necessário o ouvinte sintonizar o canal de emergência, os próprios equipamentos ligam-se sozinhos e sintonizam-se no canal de emergência!
 
A possibilidade de ser utilizada como rede de comunicação de emergência de forma imediata e o menor consumo de energia elétrica por si só justificam o investimento na rádio digital.

Dito isto, a forma como o teste alegadamente irá decorrer suscita-me várias reservas. Não houve qualquer consulta pública prévia. Quem vai instalar a rede? A RTP ou a Altice/MEO? Também,  para avaliar devidamente o sistema seria necessário ativar mais emissores, pelo menos ao longo do litoral que é a zona mais afetada por variação das condições de propagação. E também porque o maior público da rádio são os automobilistas e atualmente praticamente todos os recetores em uso capazes de receber o DAB+ são os auto-rádios, deveriam ser ativados emissores de forma a permitir a receção das emissões DAB+ ao longo de (pelo menos) a autoestrada A1!

Outra preocupação diz respeito às rádios que irão ser difundidas nas emissões teste. Seria um grande erro disponibilizar apenas as rádio públicas. A oferta de rádio deverá ser diferenciadora relativamente ao FM com todas as rádios de âmbito nacional (RDP, RR, RFM, Comercial, TSF, Observador) mas também novos canais de forma a cativar os ouvintes. De outra forma acontecerá como com a TDT no período pré-desligamento, emissores no ar mas praticamente ninguém a utiliza-la. E é feita referencia a dois multiplexes, um em Lisboa e outro no Porto. Terá o Secretário de Estado confundido multiplexes com emissores? Dois multiplexes normalmente pressupõem emissões com oferta de rádios diferentes em cada um deles. 
 
Enfim, há ainda muito por esclarecer mas o anúncio do inicio de emissões teste em DAB+ é uma excelente notícia. Esperemos que o processo seja conduzido de forma séria e competente para que não termine noutro fracasso digital.
 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Contrato de concessão do serviço público de rádio e televisão "empurra" a RTP para a saída da TDT

O contrato de concessão do serviço público de rádio e televisão esteve em consulta pública. O blogue TDT em Portugal voltou a participar enviando um documento onde abordou o estado da Televisão Digital Terrestre e da rádio e propôs soluções.

Resumidamente, criticámos a falta de transparência da proposta. O orçamento proposto para o serviço público carece de qualquer esclarecimento, desenvolvimento ou justificação dos valores. Criticámos também a ausência de discriminação entre os serviços de televisão, rádio e online e dos gastos por programa/canal.

Apesar da ausência de qualquer fundamentação, a apreciação dos valores fornecidos permite identificar uma realidade confrangedora do estado do nosso serviço público. Assim: 

  • Os gastos com pessoal representam cerca de metade da totalidade dos gastos;
  • Os gastos com pessoal são consideravelmente superiores aos custos com a programação;
  • Os custos com programação representam apenas 31% da totalidade dos custos;

A titulo indicativo, o serviço público da BBC gasta cerca de 70% em programação e os gastos com pessoal representam apenas cerca de 25% do total dos gastos.

Diretamente nada é dito a respeito da Televisão Digital Terrestre. No entanto, na proposta o Governo autoriza a RTP a “proceder ao lançamento e ao encerramento de serviços de programas televisivos e radiofónicos” e dita que deverá focar-se nos serviços audiovisuais a pedido. Ou seja, tendo em conta o que se propõe no contrato e declarações anteriores, o Governo poderá estar a utilizar a RTP para (de forma encapotada) levar à sua saída da TDT, o que inevitavelmente ditará ao fim da mesma, algo que já foi pedido pelos operadores privados.

Criticámos também a ausência de propostas relativamente à rádio, nomeadamente o silêncio a propósito do DAB. Recordámos a falta de frequências livres no FM e a evolução muito positiva das condições necessárias para o lançamento do sistema DAB+ com sucesso.

O contributo completo pode ser consultado aqui.

Leitura adicional:

Serviço Minímo: TDT está por um fio, rádio parou no tempo
RTP aposta no streaming e desiste da TDT!
Para que tudo fique na mesma...
Portugal não é um país "normal"
TDT Portuguesa - Que futuro?
Trapalhada Digital Terrestre