terça-feira, 27 de junho de 2017

TDT "À prova de fogo"

Apesar de todos os problemas que lhe são conhecidos, a TDT veio mais uma vez demonstrar a sua importância estratégica para o país. Os trágicos incêndios de Pedrógão Grande, Góis e Pampilhosa da Serra vieram realçar essa importância de uma forma cruel. Em muitas localidades, devido à destruição dos cabos de telecomunicações pelos incêndios, o único acesso à televisão e por conseguinte à cobertura noticiosa, só foi possível através da TDT.

Não é a primeira vez que tal acontece e infelizmente não será a última. A vulnerabilidade das redes de fibra óptica e cabos de cobre a incêndios e tempestades, bem como a actos de vandalismo, está demonstrada.

Em diversas ocasiões tenho alertado para as vulnerabilidades dessas redes e para a importância estratégica da rede de TDT. Recordo que em Agosto de 2011, em alerta que dirigi ao Governo, escrevi:

"… é de interesse estratégico para o país a existência de uma rede de difusão televisiva terrestre abrangente e fiável." - Carta ao MAP, Agosto 2011.

Importa igualmente recordar que o projecto da Televisão Digital Terrestre foi definido e apresentado como dotado de importância estratégica e decisiva para o interesse nacional!

Quando a ANACOM submete proposta ao Governo onde se equaciona a passagem da actual rede de TDT para outra plataforma, ou seja, o fim da recepção por antena terrestre, é fundamental recordar que, embora não haja redes 100% fiáveis, são as redes de emissão hertziana (terrestre e satélite) que têm a maior cobertura do país e são as mais robustas perante desastres naturais e actos de vandalismo.

No entanto, a mudança da recepção terrestre para a recepção via satélite implica custos importantes para os telespectadores. Também por isso, mais uma vez reafirmo que é do interesse estratégico de Portugal manter a rede de difusão televisiva terrestre.

O interesse económico das televisões e dos operadores de TV por subscrição não pode novamente sobrepor-se ao interesse maior das populações e por conseguinte do País.

A todos os afectados pelos incêndios de Pedrógão Grande, Góis e Pampilhosa da Serra envio um abraço solidário.

Posts relacionados:
 

7 comentários:

Anónimo disse...

Mas com os incêndios do dia 15-10-2017 a rede já não aguentou.
pelo menos grande parte da zona centro (castelo BRANCO, Covilhã, Guarda) ficou as escuras.

Rui Magalhães disse...

Bom artigo!

E importante nota para nos lembrarmos no futuro.

Um assunto que estranho ninguem falar é:

- para quando os dois novos canais privados na TDT??

Cumprimentos

Yagi (autor do blog) disse...

Como afirmei no post, a rede TDT está longe da perfeição. Provavelmente, os emissores que falharam recebem o sinal através de cabos de fibra aéreos que arderam, ou acabou por falhar a energia eléctrica. E o problema não é apenas dos cabos, infelizmente há muitas infraestruturas que estão praticamente "engolidas" por mato! Na página dos emissores são visíveis várias situações dessas. De qualquer forma, as redes mais afectadas foram as redes móveis e de fibra óptica, porque se "abusa" do uso de cabos aéreos, porque fica mais caro enterra-los.

Em consulta pública afirmei que prevaleceram critérios economicistas na implementação da rede de TDT. As fragilidades são cada vez mais notórias. A ANACOM, que na altura desvalorizou a critica, acordou agora para o problema!

Helder disse...

Yagi, e porque não utilizar o sistema de feixes hertzianos como se usava nos emissores analógicos, e os emissores serem alimentados não por cabo mas sim via ar através de feixes que não deixa de ser um sinal digital a não ser que não suportem o sistema mpeg o que duvido, e como sistema alternativo caso falhem os feixes existir em cada emissor recepção via onda hertziana a partir do emissor mais próximo ou com melhor sinal no local.
Como diz e bem é tudo feito de um modo economicista e de maneira a favorecer sempre o gestor da rede que neste caso é a PT, isto já era de prever a mim não me espantou o que se passou com os incêndios mesmo no sistema siresp como não me espanta os problemas de cobertura e agora descobriu se que a melhor forma de alimentar um sistema de difusão seja ele radio,TV ou outra coisa qualquer não é por cabo mas pronto coisa que nasce torta já mais se endireita.
Fez se uma rede de tele difusão totalmente nova para se deixar ao abandono o que se podia aproveitar da rede analógica que de analógico só tinha a difusão no nosso país é assim somos ricos e depois quem paga é o zé povinho.

Anónimo disse...

Seria mais interessante só disponibilizar os canais de televisão digital por satélite.
Libertar todo o espectro rádio para os serviços de Internet.

Quem pagaria a disponibilização gratuita dos canais via satélite, em sinal totalmente aberto e sem qualquer cartão ou registo seriam os actuais operadores Altice e NOS... já que têm sido eles a beneficiar tanto com o péssimo TDT que tem ocorrido desde o início... e se recusassem a pagar-se era fácil: tirava-se lhes a licença de operadores, e atribuia-se a outros que não se importassem de pagar o sistema gratuito via satélite... em última instância pagava o estado, mas sem concorrência desleal dos privados.

Yagi (autor do blog) disse...

Como já referi neste blog, os emissores TDT são alimentados por fibra óptica onde ela está disponível e por sistema de feixes onde não há fibra. Como também já referi, ambos os sistemas falham porque as respectivas redes são deficientes. No seu planeamento o critério económico sobrepôs-se ao técnico. Isto é válido para a fibra e para os feixes. E claro, é válido também para a rede SIRESP, que é muito semelhante à rede TDT. As entidades são as mesmas e as fragilidades também. A ANACOM aprovou tudo e desvalorizou quem apontou as fragilidades, mesmo perante as evidências.

Yagi (autor do blog) disse...

Nada é fácil...
Os canais não podem ser transmitidos via satélite em "sinal aberto" devido a restrições de direitos de autor. Isso só seria possível se a cobertura do satélite se restringi-se ao território português (ou os canais conseguissem os obter os direitos e pagassem por eles).

"em última instância pagava o estado" - O Estado? Ou seja todos nós, com os nossos impostos?
Com um hipotético fim das emissões terrestres, que beneficia são os 3 operadores de televisão e os operadores de telecomunicações, eles que paguem!

Já questionei em consulta pública: que é feito dos milhões que deveriam ter sido aplicados na TDT pela M$O e não o foram?