quinta-feira, 19 de julho de 2012

PT Faz Correcções na Rede de Emissores TDT

Como tem sido noticiado na comunicação social, algumas localidades do país têm enfrentado problemas na recepção do sinal da TDT. Como tenho afirmado, os problemas têm várias causas e não é correcto responsabilizar apenas a empresa responsável pela rede emissora. Como tenho desde há muito alertado através do blogue TDT em Portugal, a Televisão Digital Terrestre é muito mais exigente do que a televisão analógica relativamente aos sistemas de antena e de distribuição do sinal e nem todos têm noção dessa particularidade. Muitos dos problemas de recepção têm origem em deficiências do sistema de recepção (antena, cablagem, etc) que se podem manifestar a qualquer momento. 

Dito isto, há de facto indícios de haver zonas onde existem dificuldades de recepção do sinal devido ao deficiente planeamento da rede e/ou à deficiente instalação dos equipamentos emissores. Ao longo de quase 3 anos testemunhei e tomei conhecimento de várias situações através de testemunhos credíveis, que me levaram a ter afirmado que a rede de emissores TDT foi implementada de forma "trapalhona". As provas de que o planeamento e/ou a execução da rede de difusão do sinal da TDT foram deficientes avolumam-se. 

Após determinação recente da ANACOM, a PTC tem finalmente vindo a introduzir correcções na rede no sentido de eliminar ou minorar alguns dos problemas de recepção que ocorrem em alguns locais. Como referi em post de Dezembro de 2011, a localização, potência e diagrama de irradiação das antenas dos emissores têm que ser muito bem calculados para reduzir ao mínimo o potencial de interferência, uma vez que no Continente e na Madeira é utilizada rede de frequência única (SFN). O alcance dos emissores é deliberadamente limitado de forma a não chegarem sinais demasiado desfasados no tempo (fora do chamado intervalo de guarda) o que provocaria interferência destrutiva no sinal e a impossibilidade de receber as emissões sem falhas. Daí ter escrito há muito que tinha algumas reservas relativamente à localização e potência de alguns emissores que servem a faixa litoral Centro - Norte, nalguns casos instalados praticamente “em cima” do mar e com potências superiores a 1Kw. E tudo indica que não foram mesmo tomados todos os cuidados necessários. 

Um exemplo chega-nos de Viana do Castelo. Tanto na cidade como no Alto do Galeão (Darque) foram introduzidas alterações nas antenas dos respectivos emissores de forma a limitar o alcance dos sinais para Sul. Concretamente foi recentemente aplicado Tilt (inclinação) e reduzida a potência de emissão nos painéis orientados a sul. Isso pode ser constatado nas imagens enviadas pelo leitor Abílio Azevedo, instalador e residente na zona. Como se pode verificar na imagem acima, os emissores de Viana do Castelo têm o potencial de causar interferências destrutivas no sinal recebido em algumas localidades distantes junto à costa, pois a maioria do trajecto do sinal é sobre o mar, o que com frequência permite excelentes condições de propagação e um maior alcance dos sinais. 

Aplicar um ângulo de inclinação nos painéis emissores, permite reduzir o cone de sombra da antena, aumentando a intensidade do sinal nas proximidades do emissor e, mais importante, limitar o alcance do emissor a uma distância inferior à chamada “linha de vista”. Isso permite reduzir a possibilidade do emissor alcançar distâncias muito superiores ao alcance para o qual o mesmo foi calculado aquando da presença de fenómenos de propagação já referidos em post anterior e frequentes na costa portuguesa, sobretudo por altura do Verão, o que causaria interferências destrutivas no sinal recebido em várias localidades distantes a sul, para além da linha de vista, sobretudo ao longo da costa. 

É perfeitamente possível utilizar redes de frequência única (SFN) a nível nacional, basta planear e implementar correctamente. A PT sabe isso certamente. Este é apenas um exemplo onde aparentemente houve falha no planeamento e/ou execução da instalação da cobertura de uma zona específica mas que, devido a se tratar de rede SFN, tem impacto negativo em zonas afastadas. Isso leva a supor que mais casos semelhantes existirão e infelizmente, apesar de os emissores terem sido instalados há muitos meses, ainda se anda a corrigir a rede.

14/08/2012:
A ANACOM anunciou o prolongamento do prazo para requerer os apoios e comparticipação à aquisição de receptores TDT para a recepção terrestre e DTH (satélite). O prazo limite foi prolongado até 31/12/2012. Já anteriormente o prazo havia sido prolongado até 31/08/2012. A razão para mais este prolongamento deverá estar na reduzida adesão à modalidade DTH (TDT Complementar), já referida no blogue TDT em Portugal, em locais considerados oficialmente sem cobertura terrestre ou com reduzida probabilidade de cobertura. A data 31/12/2012 ocorre cerca de um mês após o fim previsto das emissões temporárias em frequências alternativas.

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terça-feira, 10 de julho de 2012

A RTP TRAIU OS PORTUGUESES!

Como é do conhecimento público o Governo pretende avançar com a privatização de um canal do serviço público de televisão até ao final do ano. O mesmo deverá suceder com a rádio, isto depois de, com base em “estudos” sustentados em informações erradas, em 2011 ter encerrado as emissões em Onda Curta da RDP Internacional, a voz de Portugal no Mundo. Como já afirmei no blogue TDT em Portugal, a privatização de um canal de televisão vai poupar muito pouco dinheiro ao Estado e vai comprometer ainda mais a qualidade do serviço público (ainda) prestado.

Este tema tem naturalmente gerado grande polémica, com apoiantes e defensores desta medida do Governo. A grande maioria dos que são a favor da privatização invocam os custos astronómicos que a RTP tem custado a todos os portugueses. E não lhes nego alguma razão! A RTP tem sido um sorvedouro de dinheiro, mas porque tem sido muito mal gerida ao longo de muitos anos. E todos os governos têm responsabilidade na matéria! Não faltam exemplos de despesismo. Ainda recentemente, apesar de ter uma dívida astronómica, a RTP avançou para a construção de vários estúdios ultra modernos. O serviço público melhorou? Não creio! Outro exemplo. Há muitos anos atrás, foram contratados sete (!) jornalistas só para assegurar o serviço de teletexto. Mas, apesar dos grandes investimentos, a verdade é que a RTP pouco evoluiu nos últimos 15 anos. E será que um serviço público de televisão de um país pequeno, pobre e falido, onde se cortam reformas acima de 600€, pode pagar dezenas de milhares de euros por mês a apresentadores? Não. É imoral! 

São gastos muitos milhões anualmente, mas não há dinheiro para melhorar a qualidade lastimável da emissão da RTP Internacional, a cara de Portugal no mundo?

A Televisão Digital Terrestre não pode ser esquecida. A RTP falhou completamente a sua missão de serviço público ao não apostar na TDT, ao contrário de todas as televisões de serviço público europeias. Falhou e em toda a linha: não aumentou a oferta de canais (que estava prevista antes do inicio da TDT), não disponibilizou os canais da RTP já existentes (RTP Memória, RTP Informação, RTP HD) e não utiliza os serviços acessíveis através do DVB-T, como a áudio-descrição. A RTP assumiu inclusivamente uma posição contra a disponibilização de mais canais em sinal aberto na TDT. Falhou também o dever de informar devidamente os telespectadores sobre a mudança para a TDT e ainda, a par com as outras estações, ocultou do público informação relevante sobre o desenrolar do processo. A forma como a TDT foi introduzida em Portugal foi escandalosa. Num país normal teriam sido apuradas responsabilidades, e haveriam consequências para os responsáveis, mas não em Portugal.

Entretanto a RTP1 é cada vez mais um canal de promoção à televisão por assinatura e aos operadores móveis. É vergonhosa a forma como a televisão pública é utilizada para promover operadores privados. A RTP1 é o tal canal “cavalo de Tróia” que a ZON “alegadamente” pretendeu lançar através da TDT para promover os seus canais pagos, mas que (felizmente) foi chumbado. Em breve arrancam os Jogos Olímpicos e a RTP, mais uma vez, será utilizada para vender assinaturas do MEO e da ZON através da promoção do novo canal RTP Olímpicos, em Alta Definição, mas como já vem sendo habitual apenas disponível através dos operadores de televisão por subscrição. Isto apesar de haver espaço suficiente para a sua emissão na TDT para todos os portugueses. A propósito de Alta Definição, recordo que quatro novos estúdios foram preparados para a Alta Definição e pagos com os impostos de todos os portugueses, mas na prática servem para promover a adesão aos operadores de televisão por subscrição, pois só através destes é possível assistir a emissões da RTP em HD. 

A RTP é pois também vítima da deturpação da sua missão de serviço público. Vejamos o caso da RTP1. É uma mixórdia de conteúdos, sem programação e horários estáveis e acaba por alienar muitos telespectadores. E muito pior irá ficar o serviço público após a privatização de um canal, como já vaticinei algum tempo atrás. 

A RTP não deve concorrer com a SIC ou a TVI! O negócio da SIC e da TVI é vender publicidade. A missão da RTP é servir todos portugueses! Mas a RTP concorre com a SIC e a TVI, porque os governos (todos) querem ter um canal de televisão ao seu serviço que, naturalmente tem que ter audiências altas para lhes ser útil. Isso vai naturalmente fazer com que o único canal público que restar irá continuar a apostar em programas popularuchos iguais ou semelhantes aos que os privados oferecem para manter audiências. Adeus serviço público… 

É por estes e outros motivos que muitos pedem a extinção pura e simples da RTP. Mas o que realmente deveriam pedir era a responsabilização e demissão de todos os políticos que permitem ou incentivam estas práticas de gestão que desvirtuam e levarão à destruição do serviço público de rádio e televisão. A sabotagem descarada da TDT em Portugal, que ainda continua, um episódio vergonhoso, na qual a televisão pública alinhou e teve a “bênção” do governo actual e anterior, tem agora como consequência o avivar das chamas da fogueira inquisitória pelo número crescente daqueles que, empurrados para a televisão por assinatura, para a qual verdadeiramente não têm posses, não estão dispostos a continuar a suportar a taxa de contribuição audiovisual e o desgoverno da RTP através dos seus impostos. A RTP traiu os portugueses que a suportaram ao longo dos anos e agora, muitos portugueses viram-lhe as costas

Desde há alguns anos que assisto a mais cinema português através da RAI3 do que através da RTP. Oiço musica portuguesa através da RNE3 que não oiço através da RDP. Na prática, a contra-gosto, sigo o conselho dos nossos governantes e “emigro”. E não estou só!

11/07/2012:
De acordo com notícia de hoje, a RTP não está a renovar contratos com as produtoras responsáveis pela grelha de programas da RTP2 para 2013. Isso poderá ser um claro indício do tipo de programação adoptada para o único canal do serviço público que ficará acessível em sinal aberto após a privatização de um canal, presumivelmente a RTP1. Ou seja, ficaremos com um canal generalista cuja grelha de programação será definida essencialmente com base nas audiências. Adeus RTP2...

3/08/2012:
No inicio de Julho foi noticiado na comunicação social a criação de um manifesto contra a privatização da RTP. O referido manifesto terá sido assinado por 30 personalidades e publicado em exclusivo no jornal semanário Expresso (edição em papel). Tal como a maioria dos portugueses, não tive acesso ao texto do manifesto, pois não sou leitor do Expresso. Não deixa de ser irónico que um manifesto que se diz ser contra a privatização do serviço público de rádio e televisão tenha ele próprio sido "privatizado" pelos seus autores pois, aparentemente e até agora, apenas os leitores da edição em papel do Expresso tiveram acesso ao texto do referido manifesto.

É também sem surpresa que constato a relativa falta de criticas da sociedade à privatização da RTP. À boa maneira portuguesa, deixa-se andar para ver no que vai dar e, na Hora H, quando o processo já for irreversível, todos criticam. Muitos só irão dar valor ao serviço público quando um dia ligarem o televisor ou o rádio e já não existir a  RTP2 e a Antena 3. Alguns, como já vem sendo hábito, abraçam determinadas causas apenas em busca de protagonismo, para se promoverem. Aguardam de forma cínica que a comunicação social dei-a maior destaque ao assunto, para depois darem entrevistas onde se dizem defensores do serviço público. Foi o que aconteceu com a TDT e tudo indica é o que irá acontecer com a privatização da RTP. Quem não os conhece que os compre...

9/08/2012:
Como informado anteriormente no blogue TDT em Portugal, o Governo pretende vender um canal de televisão.  Alguma comunicação social afirma que será privatizada a licença de utilização da frequência da RTP1. Esta informação é INCORRECTA. Com o encerramento da televisão analógica não há mais sentido falar em frequências de canais televisivos, pois todos os canais televisivos são emitidos no mesmo canal radioelectrico, neste caso o Multiplex A. Não existem portanto frequencias autónomas para RTP1 e RTP2 (e SIC e TVI), e como tal é incorrecto referir a venda da frequência a RTP1. O que poderá ser vendido será sim, o espaço (espectro) da RTP1 ou da RTP2 no Multiplex A.

24/08/2012:
Segundo notícias publicadas em vários jornais, o Governo terá já decidido encerrar a RTP2 e afigura-se como provável a concessão do serviço público da RTP1 a privados. Este assunto tem continuação no post Liquidação Total! - RTP2 acaba e RTP1 concessionada.

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