sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Trapalhada Digital Terrestre (actual.)

Chegamos ao final de mais um ano em que, à semelhança de outros, praticamente nada se alterou na TDT portuguesa. O que estava mal, mal continua, sem que o Estado tenha feito o que quer que seja para inverter a situação. Desde 2008 tenho alertado as entidades competentes e os portugueses para os erros e irregularidades que se têm cometido no processo de introdução da Televisão Digital Terrestre. No blogue TDT em Portugal foram publicados, até ao momento, 159 textos e inúmeros comentários. Criei e enviei para as autoridades competentes a única petição a nível nacional relacionada com a TDT portuguesa. Ainda no verão passado voltei a alertar o Governo para a situação da TDT. Felizmente não estou só, há cada vez mais vozes de protesto contra a TDT que nos é imposta. Com alguma frequência, frases e afirmações publicadas neste blogue aparecem repetidas por outras pessoas noutros locais, embora raramente seja referida a fonte das mesmas.

Infelizmente, apesar de muitos portugueses (mais de 1500) se terem manifestado por uma TDT melhor, através da Petição pela emissão RTP Memória e RTP-N na TDT em canal aberto, que cumpriu todas as formalidades e foi reconhecida pelas entidades públicas, estando todo o processo acessível para consulta, nem os meios de comunicação do serviço público a ela fazem referência nas suas peças e reportagens, uma atitude de desrespeito pelos cidadãos e por um instrumento da nossa democracia. Lamentavelmente, até algumas pessoas que agora dão entrevistas e dizem defender mais canais na TDT não assinaram a dita petição nem ajudaram à sua divulgação, apesar de dela terem tido conhecimento.

Como (mais uma vez) pode ser constatado pelas notícias mais recentes, os avisos, criticas e alertas que tenho lançado tinham toda a pertinência. Estamos a dias da data prevista para o primeiro verdadeiro “apagão” analógico e o que se pode constatar é que não há condições para avançar, como previ há precisamente um ano atrás. As próprias televisões, que durante anos marginalizaram a TDT (informaram pouco e mal sobre a TDT, afirmaram ser contra mais canais gratuitos e utilizaram tácticas para impedir a melhoria da oferta da TDT), estão agora (de uma forma cínica) finalmente a criticar o modelo da TDT portuguesa, pois já se aperceberam da revolta crescente das populações e do facto de que se o apagão avançar irão perder muitos telespectadores. Não há desculpas, há culpados! Todos foram avisados!

Deixo aqui alguns excertos de alguns dos muitos posts que se tornaram premonitórios do que estava para vir:

«…Portugal acabou por ser um dos últimos países a iniciar o processo de transição para a televisão digital terrestre e é também um dos países com um período de simulcast mais curto. …Como escrevi em 2008, ao ser um dos últimos países a avançar para a TDT, Portugal teria a hipotética vantagem de poder evitar os erros cometidos por outros países e de seguir os bons exemplos (a vizinha Espanha é caso de estudo). Mas, como sabemos, não foi nada disso que aconteceu!» in blogue TDT em Portugal 28/12/2010

«…por tudo o que tem acontecido e tenho relatado no blogue TDT em Portugal, cada vez mais me convenço de que o Estado, afinal, entregou o ouro ao bandido! O monopólio consentido na difusão do sinal de televisão digital, tem-se revelado um entrave ao desenvolvimento da televisão em Portugal. Como já disse, o que está a acontecer (por acção e inacção), é uma verdadeira sabotagem da TDT em favor das plataformas de televisão por subscrição!...» in blogue TDT em Portugal 28/12/2010

«…a seis meses da data anunciada para o arranque oficial das emissões (Abril de 2009) não foram ainda tornadas públicas as opções tecnológicas adoptadas. …Na ausência de informação oficial, cresce a especulação, instala-se a dúvida e a descrença. Ou seja, começámos mal e continuamos mal! … Se não são conhecidos os requisitos técnicos dos aparelhos (Tv’s e STB), como é que os fabricantes e comerciantes sabem que modelos devem produzir e comercializar em Portugal? Mais uma vez, não sabemos adoptar as boas práticas de outros países, que têm gerido muito melhor o processo de transição da televisão analógica à digital.» in blogue TDT em Portugal 14/10/2008

« Será já pois impossível concretizar um processo tranquilo de transição para a televisão digital terrestre em tão curto espaço de tempo. Dado o número altíssimo de sistemas de recepção que será necessário adaptar, dificilmente será possível completar estes trabalhos até Abril de 2012. … E como será impensável que tanto aos canais de TV (RTP, SIC e TVI) fiquem sem boa parte dos seus telespectadores, como que os telespectadores fiquem sem acesso aos seus canais de TV, o cenário mais plausível é que a data do desligamento das emissões analógicas acabe adiada!» in blogue TDT em Portugal 28/12/2010

«De acordo com o plano para a cessação das emissões analógicas, um emissor não poderá ser desligado sem que a população abrangida seja servida há mais de um ano por emissões de televisão digital terrestre. Como o Blogue TDT em Portugal tem informado, a rede de emissores, que deveria ter ficado completa até 31/12/2010, ainda não está terminada.» in blogue TDT em Portugal 28/05/2011

«… é legítimo considerar que a candidatura às licenças da TDT paga, não passou de uma estratégia para eliminar a concorrência. Julgo também, ter ficado claro que, desde muito cedo a PT terá desistido da TDT. …Esta decisão da PT representa um rude golpe na TDT portuguesa, mas também na credibilidade e imagem da Portugal Telecom e da autoridade reguladora! Se o processo de transição para a TDT já se antevia difícil, agora será ainda mais complicado. » in blogue TDT em Portugal 22/01/2010

«Creio pois que o desligamento nestes locais não vai permitir um verdadeiro teste ou ensaio para os desligamentos de 2012. Mais parece que a verdadeira intenção desta escolha foi causar o menor impacto possível junto da população e, mais uma vez, não encarar de frente os problemas que a TDT portuguesa enfrenta: preço dos adaptadores e oferta de canais. Assim, espera-se que estes "pilotos" sejam mais um "sucesso" para os responsáveis políticos.» in blogue TDT em Portugal 6/08/2010

«Apesar de afectar uma quantidade mínima de telespectadores, a experiência piloto de Alenquer serviu para desmentir a ilusão criada por alguns de que tudo corre bem com a implantação da televisão digital terrestre em Portugal. Se não forem tomadas medidas rapidamente, quando se iniciar o encerramento dos grandes emissores, que naturalmente afectam muitos milhares de telespectadores, será a confusão generalizada. Quem disser o contrário estará a dourar a pílula.» in blogue TDT em Portugal 16/05/2011

« A RTP que tanto se tem "inspirado" na RTVE e na BBC, porque não "copia" também o exemplo desses serviços públicos que introduziram novos canais temáticos na plataforma (gratuita) da TDT?» in blogue TDT em Portugal 3/06/2009

«A RTP que siga o exemplo das suas congéneres italiana, espanhola ou inglesa … Porque será que RTVE, RAI, BBC, e tantas outras estações públicas apostam na televisão digital terrestre e a RTP não? Qual a razão? Afinal quem manda na RTP? » in blogue TDT em Portugal 26/01/2011

«…A adopção da TDT pelos portugueses terá de ser ganha e não imposta. A história ensina que quem governa contra os interesses da população acaba sempre derrotado.» in blogue TDT em Portugal 22/01/2010

«Mas a culpa não é só do Estado. A verdade é que praticamente ninguém denúncia ou critica estes comportamentos ou situações. Como é habitual, em Portugal todos esperam pela hora H para se fazerem ouvir. Mais tarde, não hão-de faltar “especialistas”, estudiosos e pretensos defensores do interesse público, que pouco ou nada tendo feito ou tentado fazer para inverter o estado das coisas, darão então a sua (já irrelevante) opinião sobre o que correu mal com a televisão digital terrestre portuguesa.» in blogue TDT em Portugal 10/02/2011

Bom 2012!

03/01/2012: As críticas sobem de tom!

Com o aproximar da data prevista para o 1º “apagão” analógico, intensificam-se as criticas à TDT. Hoje foi a vez da comissão de trabalhadores da RTP que lançou fortes críticas à forma como está a ser desenvolvida a implementação da Televisão Digital Terrestre (TDT) em Portugal. A representante dos trabalhadores do grupo RTP classificou este processo como "um verdadeiro escândalo económico e político com graves consequências sociais a curto, médio e longo prazo". Para a CT, o primeiro erro terá sido a aceitação da PT (que vende o serviço MEO, um produto pago) como concorrente no processo de candidaturas. Vários jornais referem ainda que outro erro foi exigir-se à PTC que fosse assegurada a "cobertura de uma percentagem de território em vez de assegurar a cobertura de uma percentagem de população". Presumo que haja algum equívoco nesta afirmação, pois as metas de cobertura exigidas à PTC referem-se a percentagem de população e não de território. De qualquer forma é irrelevante, conseguir-se-ia uma cobertura mais equilibrada do país simplesmente exigindo uma maior taxa de cobertura da população.

A CT da RTP critica ainda o reduzido número de canais da TDT portuguesa, ao contrário do que acontece resto da Europa. Segundo a mesma, ao atribuir-se o desenvolvimento da plataforma de TDT à PT "está a perder-se uma oportunidade histórica para efectuar um salto gigantesco na qualidade e variedade do serviço televisivo prestado às populações". Exige um outro modelo de TDT que integre os canais que actualmente existem e os que facilmente podem ser criados e com cobertura total do território de forma a garantir um serviço público de televisão e rádio.

A CT lança ainda fortes críticas à ANACOM pois, segundo a mesma, apesar de todas as críticas e problemas apontados publicamente ao processo (não diz por quem), "faz a defesa deste modelo de TDT e dos seus intervenientes, contra tudo e contra todos". E prossegue: "tudo neste processo da TDT foi motivado, não pela defesa do bem público, mas sim pela defesa do bem privado, nomeadamente das operadoras de telecomunicações móveis".

Como os mais atentos saberão, a maioria destas criticas têm sido apontadas desde há anos neste blogue, chamando a atenção de todos para aquilo que se estava a tentar impor aos portugueses. É lamentável que só a poucos dias da data prevista para o primeiro grande “apagão” outros levantem a voz contra o que está mal há já muito tempo!

04/01/2012: PCP agendou debate urgente sobre a TDT. PS também critica e apresenta recomendação ao Governo.

A rádio TSF informa que o PCP agendou para esta quinta-feira um debate de urgência sobre a instalação da Televisão Digital Terrestre, pedindo o adiamento dos desligamentos analógicos. O PS criticou também a oferta reduzida de canais e diz que o Governo deverá avaliar se o aumento dessa oferta implica ou não o adiamento do "apagão".

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Falhas na recepção da TDT têm origens múltiplas

Desde que arrancaram as emissões de Televisão Digital Terrestre, as questões relacionadas com a recepção do sinal têm motivado um interesse crescente, o que é compreensível. A tecnologia utilizada é bastante mais exigente quanto à qualidade das instalações de recepção e coloca novos desafios aos técnicos instaladores. Embora o blogue TDT em Portugal não seja um consultório técnico, tenho dedicado vários posts aos assuntos mais técnicos tentando utilizar uma linguagem o mais acessível possível. Muitos leitores e instaladores têm partilhado experiências, muitas vezes queixando-se de problemas na recepção do sinal. Muitos mostram-se decepcionados, pois dizem que, “afinal não é só ligar e já está, como diz a publicidade”.

Como tenho escrito, as causas dos problemas podem ser de vária ordem e muitas vezes não têm origem na emissão de TDT mas sim nos sistemas de recepção que não estão devidamente adaptados ao novo sinal. Muitas antenas são simplesmente instaladas “a olho”, orientadas para o emissor mais próximo quando em muitos casos o emissor mais próximo não é a melhor opção. Noutros casos simplesmente não há condições para se obter uma recepção fiável e a solução é a recepção da TDT por satélite. No entanto, de facto, algumas falhas na recepção do sinal TDT têm origem na rede de distribuição/emissão do sinal. Estas falhas traduzem-se em pixelizações e congelamento da imagem(*) ou até à interrupção momentânea da emissão. Importa dizer que não existe uma rede perfeita, as falhas fazem parte da equação.

A rede de TDT utilizada em Portugal é operada e propriedade da PT Comunicações. No Continente e na Madeira foi adoptada a tipologia SFN (rede de frequência única), o que significa que todos os emissores utilizam a mesma frequência (canal 56 no Continente e canal 54 na Madeira). Este facto apresenta vantagens mas também algumas desvantagens importantes! A vantagem principal reside no facto de se poupar imenso espectro, pois apenas se utiliza um único canal de emissão. No entanto, para que todos os emissores utilizem a mesma frequência são necessários cuidados extremos no planeamento e execução da rede para que se garanta a máxima disponibilidade possível do sinal, ou seja, para se conseguir uma recepção com o menor número possível de falhas. Para que todos os emissores possam utilizar a mesma frequência, o sinal é emitido obedecendo a um parâmetro chamado “Intervalo de Guarda”, que permite a sobreposição de sinais provenientes de vários emissores desde respeitem uma distância máxima entre si, que no Continente é de aprox. 67Km.

Como disse, as falhas de sinal podem ter várias causas, tanto no lado da recepção como no lado da emissão. A rede que vem sendo implementada tem-me suscitado algumas reservas, nomeadamente relativamente à localização escolhida e potência de alguns dos emissores, especialmente na faixa do Litoral entre a Figueira da Foz e o Porto, dado que é uma zona onde com alguma frequência (sobretudo no Verão) as condições de propagação podem mais que duplicar o alcance dos emissores, criando naturalmente interferências destrutivas que podem impossibilitar a recepção correcta do sinal.

Já disse que na minha opinião esta rede teve por base essencialmente critérios economicistas. Tenho guardado a maioria dessas reservas para mim mesmo uma vez que a rede ainda não estava completa, o que parece ser agora o caso. Recordo que a rede TDT obedece a um plano técnico apresentado pela PTC na fase de concursos. A PTC deve cumprir esse plano e, caso pretenda introduzir alterações, tem que as submeter à aprovação da ANACOM. Ora, curiosamente, as potências de emissão dos emissores TDT divulgadas pela ANACOM sofreram recentemente em muitos casos aumentos significativos sem que haja conhecimento de algum pedido nesse sentido e respectiva autorização por parte da ANACOM. Como já comentei, isso não quer dizer que as potências tenham de facto aumentado, pois pode dar-se o caso das potências anteriormente divulgadas estarem erradas. Aliás, recebo vários emissores e não notei variação na potência de emissão, embora isso também não seja garantia absoluta que ela não tenha ocorrido. Caso tenham de facto ocorrido os aumentos de potência relativamente ao plano inicial, sem que tenham sido adoptadas outras alterações, isso terá forçosamente um impacto significativo no comportamento da rede, especialmente tendo em conta o que escrevi mais acima. Mas, como escrevi há muito tempo atrás, tão importante como conhecer a localização e potência de emissão dos emissores é conhecer o seu diagrama de irradiação, um dado que quer a PTC quer a ANACOM não facultam.

Do lado da emissão as falhas podem ter várias origens: na cabeça de rede (em Monsanto), na rede de distribuição e nos emissores. Falhas com origem na cabeça de rede serão necessariamente propagadas por toda a rede e serão reproduzidas em todos os equipamentos de recepção. Falhas na rede de distribuição afectam a parte da rede imediatamente a seguir ao local da falha. Uma falha num emissor afecta a zona servida por esse emissor mas, consoante o tipo de problema, pode afectar também outras zonas que o seu sinal alcance.

É convicção minha que muitos dos problemas de recepção têm origem em falhas na rede de distribuição do sinal. Os emissores são alimentados por rede de fibra óptica ou rádio frequência, consoante a disponibilidade no site. Todos os emissores têm, num dado momento, de emitir exactamente o mesmo conteúdo, bit por bit. Caso isso não aconteça em algum emissor devido a uma falha momentânea na rede de distribuição, perante a rede SFN o sinal desse emissor comporta-se como sinal interferente, com efeito destrutivo, podendo naturalmente afectar a recepção do sinal TDT em zonas abrangidas por outros emissores, mesmo que elas ainda estejam dentro do intervalo de guarda! Uma discrepância na configuração de um emissor pode também causar efeitos semelhantes.

Naturalmente, são situações que requerem uma investigação meticulosa e deveriam merecer a atenção da PTC e da ANACOM o que aparentamente não tem acontecido. Dada a forma "trapalhona" como a rede tem sido implementada não me surpreendia se não existisse qualquer tipo de monitorização das emissões.

É aliás um problema que não afecta só as emissões TDT. A distribuição do sinal de rádio da RDP é também da responsabilidade da PTC e tem sofrido problemas semelhantes (embora parte da rede seja diferente) que duram há vários anos, tendo eu também escrito a esse respeito. Neste caso a RDP atira as responsabilidades para a PTC e a PTC atira as responsabilidades para a RDP!

Volto a frisar que muitos dos problemas de recepção da TDT devem-se a deficiências nas instalações de recepção dos telespectadores e podem ser facilmente corrigidos. Apesar das falhas ocasionais, a qualidade de imagem dos quatro canais (RTP1, RTP2, SIC e TVI) através da recepção da TDT por antena terrestre é actualmente superior à qualidade de imagem desses canais obtida através dos serviços de televisão via satélite.

* estas falhas são muitas vezes causadas por interferências causadas ao sinal no local de recepção.

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Retransmissor da TVI de Vale de Cambra alimentado com sinal TDT

O retransmissor da TVI de Vale de Cambra que emite no canal 58 banda UHF e que serve boa parte do distrito de Aveiro deixou de ser alimentado a partir da rede de distribuição da RETI e é agora alimentado pelo sinal da rede de TDT. Infelizmente, esta alteração foi mal implementada e a qualidade de imagem baixou bastante pois os níveis de video não estão correctos. Também o som sofre interferências frequentes das redes de telemóvel. É certo que já falta pouco para o encerramento das emissões analógicas, mas isso não é desculpa para brindar os telespectadores com má qualidade de imagem.


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