terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

TDT: ANACOM nega evidências

Os leitores mais atentos saberão que tenho criticado as televisões pela ausência quase total de informação relacionada com a televisão digital terrestre, apesar de não ter faltado matéria de interesse, como poderão verificar consultando o histórico de posts do blogue TDT em Portugal. Apesar de serem as principais interessadas que o processo de adesão à TDT decorra da melhor forma, as poucas notícias ou reportagens já emitidas têm sido curtas, pouco esclarecedoras e quase sempre com alguma informação errada pelo meio. Ontem a SIC Notícias destacou a TDT no seu programa Falar Global, onde entrevistou dois responsáveis da ANACOM, entidade intimamente ligada à implantação da televisão digital terrestre no nosso país.

Na referida reportagem os responsáveis da ANACOM afirmaram que apenas cidadãos a receber o rendimento social de inserção, reformados e pensionistas com rendimentos inferiores a 500 Euros ou cidadãos com grau de deficiência superior a 60% terão direito a comparticipação parcial do custo do equipamento (as instituições de comprovada valia social parecem ter sido esquecidas). Esta comparticipação será atribuída após o envio da respectiva factura de aquisição e de documentos comprovativos da sua situação para um endereço postal a divulgar. Segundo a ANACOM, após o recebimento da comparticipação, o custo final do equipamento ficará entre 15 a 20 Euros.

Infelizmente, no essencial, e excluindo o paradoxo do tema principal do programa ser a TDT e do programa ser emitido apenas num canal codificado (logo em principio não acessível aos potenciais interesssados na TDT), o que poderia ter sido uma oportunidade para obter respostas às questões mais pertinentes, foi na minha opinião, pouco mais do que tempo de antena concedido à ANACOM para mais uma vez negar as evidências e distorcer a realidade.

Na entrevista um responsável da ANACOM afirmou que a cobertura terrestre da TDT ficou completa no final de 2010! Ora, como todos podem comprovar e já foi oportunamente noticiado pelo blog TDT em Portugal, no site oficial da TDT, a indicação da meta de cobertura de muitas localidades, que apontava para 31/12/2010 (data fixada como limite para a cobertura total da população), foi no final do ano substituída pela informação: cobertura em actualização! Ainda hoje 22/02/2011, também no site oficial, a lista de emissores com data de 31/12/2010 não está ainda completa, do total de 180 emissores adiantados pela PTC no inicio da implantação da rede, apenas 153 se encontram listados. Situação idêntica se verifica no site da ANACOM. Aí, apenas 152 emissores estão listados e com data de actualização já de 16-02-2011! Mas, apesar disso, o responsável da ANACOM afirmou que: «instalação da rede, coberturas, está tudo montado», «as obrigações de cobertura da totalidade do território…foi concluído até ao final do ano passado»!

Também relativamente aos receptores TDT (vulgo caixas adaptadoras), necessárias para tornar a esmagadora maioria dos televisores compatível com a TDT portuguesa, a informação da ANACOM é enganadora. A ANACOM refere um equipamento de baixo custo (30-35 Euros) e que esteve disponível no mercado durante um curto período de tempo. Segundo a avaliação da própria DECO (parceira da ANACOM através de protocolo de colaboração), a compra desse equipamento não é aconselhada, para além de se informar que está em período final de comercialização. Eu próprio investiguei esse receptor quando surgiu no mercado (entretanto já fora de comercialização) e cheguei à conclusão que o mesmo não oferecia garantias de suporte técnico (essencial caso seja necessário actualizar ou corrigir falhas no equipamento), um parâmetro que considero fundamental, mas aparentemente negligenciado quer pela DECO quer pela ANACOM. Actualmente, o equipamento mais acessível à venda (de gama baixa) custa aproximadamente 50 Euros. Utilizando como referência os modelos referidos nos testes da DECO (testes que me suscitam algumas reservas), o preço médio dos modelos recomendáveis (boa qualidade) é de aproximadamente 79 Euros, ou seja mais do dobro do equipamento referido.

É lamentável que os entrevistadores não confrontem os responsáveis com estas e outras contradições, aceitando respostas tão facilmente refutáveis. Por exemplo, porque não se questionou também sobre o que sucedeu ao processo de certificação de televisores e set-top-box’s? Terá sido deficiente preparação dos entrevistadores ou condição prévia para obter a “colaboração” da ANACOM?

Este tipo de “informação” parece-me uma tentativa desesperada da ANACOM de mascarar a realidade. Mas qualquer cidadão interessado e minimamente inteligente pode facilmente comprovar quem fala verdade. Basta pesquisar na Web e procurar nas grandes superfícies e no comércio especializado.

Infelizmente, a prometida campanha de informação à população tarda, mas a máquina de desinformação já faz horas extra!

Chamo a atenção para o facto de existirem no mercado muitos equipamentos que exibem a sigla MPEG-4, mas que são apenas capazes da leitura de ficheiros multimédia nesse formato, não permitindo a recepção da TDT portuguesa. Para que o equipamento seja apto a receber a TDT portuguesa deverá ser capaz de “descodificar” o sinal de antena emitido em MPEG-4 (ou H.264).

O video do programa Falar Global da SIC Notícias está disponível aqui.

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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

TDT: crime sem castigo?

Num post anterior afirmei que Portugal era um péssimo exemplo e o mau aluno da TDT. Acreditem que não exagerei! Em matéria de implantação da televisão digital terrestre o nosso país está na cauda do pelotão. A TDT portuguesa tem sido uma completa desilusão! Como disse algum tempo atrás, com esta TDT, vai mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma!

Após um falso arranque em 2001, só em 2008 se abriram novos concursos para introduzir a TDT em Portugal. E, apesar do significativo atraso português, as autoridades responsáveis pelo processo tomam decisões que só agravaram esse atraso, ao ponto de (a meu ver) estarem irremediavelmente comprometidas as datas definidas para o switch-off das emissões de televisão analógica (Janeiro a Abril 2012). Este assunto já foi abordado em pormenor em posts anteriores no blog TDT em Portugal, e pode ser consultado nas ligações disponíveis no final deste post.

Em 2008, o presidente executivo da PTC disse então que, em matéria de TDT, Portugal estava atrasado, mas que ainda havia tempo. E, em Janeiro de 2009, proferiu as seguintes palavras, que todos neste país sem memória parecem já ter esquecido:

«em 1 de Janeiro de 2011 Portugal estará na linha da frente de tudo o que de melhor vai acontecer na Europa»
«o nosso país vai ser exemplar no switch-off e uma referência a nível europeu»

Foi também prometido que a desistência da TDT paga por parte da PTC não afectaria a TDT gratuita. Promessas...

Infelizmente, a realidade é bem diferente! Em Fevereiro de 2011 Portugal tem uma das televisões digitais terrestres mais pobres do mundo: um único multiplex em utilização, com apenas metade da sua capacidade utilizada, apenas quatro canais generalistas (em SD, formato 4:3), sem canais rádio e sem DVB-SSU.

Recordo mais uma vez que o principal item de avaliação nos concursos TDT foi a contribuição para a rápida massificação da TDT, quer ao nível da sua promoção, quer ao nível da infra-estrutura! A falta de promoção está à vista de todos. Em Novembro de 2010 a adesão à TDT era de apenas 1,1% da população! Ou seja, desde o arranque oficial, em ano e meio conseguiu-se apenas a adesão de 1,1% da população sem TV por assinatura!

Também a cobertura de 100% da população pelo sinal TDT, a que a PTC estaria contratualmente obrigada a atingir até 31/12/2010 não foi ainda cumprida, tendo ficado muito aquém daquele valor. Nem sequer foi ainda dada qualquer justificação para o incumprimento! E este incumprimento é difícil de aceitar, tanto mais porque a PTC desistiu da TDT paga ficando apenas com a obrigação de implementar um único mux ao invés dos seis previstos inicialmente. Se a PTC garantiu ter capacidade para implementar seis mux’s, como não teve capacidade para implementar apenas um?!

Que a empresa que ganhou os concursos tinha capacidade para conseguir a rápida massificação da TDT, julgo que poucos duvidam. Creio é que já muito poucos acreditam no empenho da empresa em de facto implementar a TDT.

Não será então legitimo perguntar para que servem afinal os reguladores? Para que servem se não fazem cumprir nem sancionam quem viola compromissos com o Estado?

Em boa verdade o precedente já havia sido criado quando se devolveu a caução de 2.5 milhões de Euros à PTC. E a afirmação por parte de um membro do Governo de que a TDT portuguesa era um caso de sucesso, quando a realidade desmentia categoricamente tal apreciação, certamente que não contribuiu para aumentar o empenho dos intervenientes no processo. Elogiar o mau trabalho só poderia trazer resultados ainda piores.

Mas a culpa não é só do Estado. A verdade é que praticamente ninguém denúncia ou critica estes comportamentos ou situações. Como é habitual, em Portugal todos esperam pela hora H para se fazerem ouvir. Mais tarde, não hão-de faltar “especialistas”, estudiosos e pretensos defensores do interesse público, que pouco ou nada tendo feito ou tentado fazer para inverter o estado das coisas, darão então a sua (já irrelevante) opinião sobre o que correu mal com a televisão digital terrestre portuguesa. Será já tarde demais.

A permitir-se a continuação desta campanha de sabotagem da TDT, em 2013 já a maioria dos portugueses estará a pagar para poder continuar a ver televisão em língua portuguesa.

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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

TDT: falta de informação facilita burlas (act.)

O blog TDT em Portugal tem recebido diversas mensagens de leitores que dão conta de práticas desonestas por parte de alguns agentes de operadores de televisão por assinatura. Eu próprio já havia referido uma situação semelhante passada com familiares. As queixas multiplicam-se e o modo de actuação varia, no entanto o objectivo é o mesmo: levar os mais incautos a assinar um contrato de serviços de televisão paga.

Para tal, alguns agentes de operadores de televisão paga telefonam para casa das pessoas dizendo que a televisão analógica vai acabar e que para se continuar a ver os quatro canais de televisão será necessário aderir aos serviços do operador em questão. Há também relatos de agentes a visitar a casa das pessoas dizendo o mesmo e com o mesmo objectivo.

É evidente que esta prática é altamente censurável e porventura poderá até configurar um crime de burla. No essencial esses agentes ou colaboradores estão a enganar as pessoas com o intuito de lhes vender um serviço que não necessitam.

Importa lembrar que mesmo após assinado (salvo melhor opinião), é possível pedir a anulação deste tipo de contratos no prazo de 14 dias a contar da data da assinatura.

Embora seja impossível impedir que alguns casos destes aconteçam, a falta de informação da população acerca da televisão digital terrestre, e do processo de desligamento das emissões analógicas de televisão, certamente contribui para que estes casos se multipliquem um pouco por todo o país.

Como é sabido, até à data não houve ainda uma única campanha de informação à população acerca da TDT. Isto apesar da ANACOM ter reconhecido que era impossível adiar mais a divulgação e ter prometido o inicio de uma campanha de divulgação a seguir ao verão de 2010, mais tarde adiada para o inicio de 2011! Está também definido que as autoridades do poder local e outras entidades locais das zonas abrangidas pelos desligamentos serão envolvidas no processo de transição para a televisão digital terrestre.

Como já informei, o primeiro desligamento está previsto para 12 de Maio em Alenquer e afectará as localidades servidas pelo respectivo retransmissor.

É fundamental as pessoas saberem que só serão desligados emissores ou retransmissores de televisão analógica se existir cobertura de sinal de TDT na zona em questão.

Para receber o sinal TDT que transporta os quatro canais nacionais (mais os regionais nas ilhas) é necessário que o seu televisor seja capaz de receber o sinal da TDT portuguesa em DVB-T MPEG-4/H.264.

Caso o televisor não seja compatível (a maioria dos aparelhos comprados antes de 2009 não é), será necessário adaptar o televisor através de um receptor DVB-T MPEG-4/H.264.

Nalguns casos em que o sinal TDT não chega à sua zona de residência ou é demasiado fraco, será possível receber o sinal via satélite, em condições ainda a anunciar.

Esperemos pois que, o mais tardar após a saída da decisão final relativa à alteração das frequências TDT, a anunciada campanha de informação à população se materialize finalmente e que seja realmente esclarecedora para toda a população. Caso contrário, os oportunistas e vigaristas terão a vida facilitada.

24/05/2011:
A ANACOM determinou, por deliberação de 19 de Maio de 2011, que são proibidas as práticas comerciais que, por qualquer forma, induzam no consumidor a percepção de que para continuar a recepcionar os serviços de programas televisivos de acesso não condicionado livre, a saber RTP1, RTP2, SIC e TVI, bem como RTP Açores e RTP Madeira nas respectivas Regiões Autónomas, deve subscrever um serviço pago.
Esta proibição tem como destinatárias as empresas de comunicações electrónicas que prestam serviços de distribuição do sinal de televisão, bem como agentes que procedam à divulgação e ou comercialização destes serviços.
A violação, por parte das empresas, da medida cautelar agora adoptada pela ANACOM, para além de ser um comportamento punível nos termos do artigo 21.º do Decreto-Lei nº 57/2008, que regula as práticas comerciais desleais, traduz-se no incumprimento de uma ordem legítima do ICP-ANACOM, sendo punível com coima de €500 a €3.740 e de €5.000 a €5.000.000, consoante seja praticada por pessoa singular ou colectiva, respectivamente, nos termos do Regicom.

27/01/2012:
Mais um caso grave de angariação ilicita de clientes por parte de agentes das operadoras de TV por subscrição. Cerca de 50 habitantes, na maioria idosos, de Rego de Vide, em Mirandela, dizem ter sido enganados por agentes comerciais da Meo (PT) que terão dito aos habitantes que só celebrando um contrato com a empresa seria possível terem a Televisão Digital Terrestre (TDT). Só depois de assinarem os contratos é que os habitantes descobriram que bastava comprar um "descodificador" para continuar a ter acesso aos quatro canais de televisão. A PT informou que iria averiguar a situação. O caso foi tornado público pela rádio TSF, SIC e RTP.



28/04/2012:
Durante o programa Antena Aberta da Antena 1 de 26/04/2012, um vendedor de televisão por subscrição denunciou as práticas desonestas dos operadores de televisão por subscrição. Oiça a denúncia!



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