segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Grupo de Trabalho propõe fim da RTP Memória, RTP Informação e alterações na TDT.

O relatório do Grupo de Trabalho criado pelo Governo para redefinir o conceito de serviço público na comunicação social foi hoje entregue ao ministro Miguel Relvas. O relatório recomenda o fim da RTP Informação, RTP Memória e a fusão da RTP África e RTP Internacional.

O grupo de trabalho não vê "qualquer interesse público num canal como a RTP Memória" e diz que os seus conteúdos deviam passar para a página de Internet da estação! Não há qualquer interesse público na RTP Memória?! Será que estas pessoas têm real noção das implicações da sua proposta? Julgam que a Internet chega a todo lado com velocidades aceitáveis que permita aceder a esses conteúdos com qualidade? Este e muitos outros obstáculos. Que ignorância...

Mais uma vez se ignora que os portugueses já se manifestaram a favor da RTP Memória e em sinal aberto! Insistem em fazer de conta que a Petição pela RTP Memória e RTP-N em canal aberto na TDT não existiu e nem o programa "A Voz do Cidadão" onde o acesso livre ao canal também foi pedido. Recordo que toda a documentação relativa a este assunto foi facultada ao grupo de trabalho!

Apesar disso, o grupo de trabalho afirma que não vê qualquer interesse público num canal como a RTP Memória! Então, se o grupo de trabalho não vê interesse na RTP Memória, podemos concluir que o grupo de trabalho não representa nem defende o interesse dos portugueses!

Os autores do relatório consideram também que a missão da RTP Açores e RTP Madeira está terminada.

Relativamente à Televisão Digital Terrestre a posição do grupo é contraditória. Senão leia-se (os destaques a negrito são de minha autoria):

«..o Estado deve tomar de imediato decisões de correcção do processo de criação da Televisão Digital Terrestre... A TDT, embora permitindo aumentar a oferta de acesso livre, foi limitada aos quatro canais de difusão analógica terrestre já existentes. A TDT, deste modo, em vez de representar uma melhoria para as pessoas com menos recursos, nomeadamente os mais idosos, representa antes um custo, para muitos difícil de suportar, na compra de equipamento e serviços. Em vez de aumentar o contacto da população de menos recursos com o media, a TDT prevista poderá, bem ao contrário, provocar o isolamento dos portugueses incluídos nesses grupos sociais, o que constituiria um retrocesso civilizacional e uma grave ofensa aos direitos dos cidadãos aos media de acesso livre.»

«Uma redefinição de serviço público tem em primeiro lugar de se confrontar com esta transformação primordial nos mecanismos de acesso ao sinal: deixa de fazer sentido defender os princípios do serviço público através da garantia de acesso a um meio que perdeu relevância para uma parte significativa dos públicos, os quais, ou acedem a esses conteúdos por outros meios, ou pura e simplesmente não os consideram. O problema do acesso em Portugal é hoje particularmente relevante, nomeadamente porque a solução de TDT, desenhada para responder ao princípio da universalidade num conceito de transmissão digital de sinal, não possui canal de retorno e irá provavelmente - não só mas também por isso - servir apenas uma parte reduzida da população, recorrendo grande parte desta a plataformas pagas para efeitos de acesso a conteúdos televisivos e também radiofónicos.»

«Consideramos, entretanto, que o Estado deve reflectir sobre a oferta de canais estatais de TV em plataformas pagas, as quais não são acessíveis a toda a população. É certo que cresce a presença de plataformas pagas no país, estando já na maioria dos lares, mas uma parte resiste a essa despesa ou não tem interesse em mais canais. Recomendamos que sejam estudadas a viabilidade e os impactos da facilitação do acesso a plataformas de cabo pelas pessoas com menos meios e/ou mais resistentes à mudança

Por um lado diz que o Estado deve tomar decisões de correcção do processo da criação da TDT. Mas afirma que deixa de fazer sentido defender os princípios do serviço público através da garantia de acesso a um meio que perdeu relevância para uma parte significativa dos públicos, ou seja, (subentende-se) a recepção por sinal terrestre. Recomenda que seja facilitado o acesso às plataformas de TV por subscrição pelas pessoas mais carenciadas ou resistentes à mudança.

Afinal o grupo de trabalho defende a aposta na TDT ou a sua extinção?

Em Outubro troquei impressões sobre a TDT com José Manuel Fernandes, um dos membros do grupo de trabalho. A resposta foi reveladora da posição do grupo de trabalho relativamente à TDT:

Na rádio o grupo de trabalho considera que a existência de três canais de rádio nacionais do Estado é “desproporcionada”.

Outras recomendações:
  • Serviço público de televisão e rádio deve ter conteúdos noticiosos mínimos;
  • Serviço público de comunicação social não deve ter publicidade;
  • ERC deve ser extinta e dar lugar à autorregulação.
O grupo de trabalho foi notícia nos últimos dias, pelos piores motivos, pois foi conhecida a demissão de três dos seus membros: Francisco Sarsfield Cabral, João Amaral e Felisbela Lopes.

Após a leitura do relatório chego à conclusão que é um documento confuso e contraditório, onde fica patente a ausência de fundamentação credível para muitas das recomendações que emite. Outra nota negativa vai para a forma como este documento foi elaborado. O grupo de trabalho reconhece que recebeu contributos para o seu trabalho (entre eles esteve o blogue TDT em Portugal) mas, cita apenas as instituições a quem solicitou esse contributo, ignorando cidadãos que voluntáriamente dedicaram parte do seu tempo dando o seu contributo para o trabalho do grupo.

O relatório está disponível para consulta aqui.

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18 comentários:

Yagi (autor do blog) disse...

Ainda não são conhecidos pormenores, mas dúvido que se proponha pura e simplesmente a extinção da RTP Memória! Os operadores de televisão por subscrição não vão gostar e não vão permitir tal coisa!

O que provávelmente se propõe deverá ser o fim da RTP Memória tal como está, mas a criação de um novo canal com programação com origem apenas no arquivo histórico da RTP. Veremos...

Miguel Couto disse...

Na minha opinião, isso não passa de notícias fantasiosas para nos enganar. Não é objectivo do Governo extingir a RTP Memória e RTP Informação derivado aos lucros que esses canais ganham por causa da publicidade constante que é garantida para a sobrevivência dos canais. Mais esses mesmos dois canais não constam no Serviço Público de Televisão, que sucessivos Governo tanto enganaram.
Enquanto não houver decisões tomadas nem se quer conclusões do grupo de estudo, não nos devemos precipitar! Viram o que foi a polémica do gurpo de estudo para a restruturação dos transportes públicos?... Deu em 'caldeirada' e no fim, nenhuma conclusão foi aprovada pelo Ministro da Economia.

CMatomic disse...

aqui fica o video da noticia da RTP sobre este assunto e também inclui a noticia irónica 1 milhão de clientes Meo depois da noticia restruturação da RTP
http://www.youtube.com/watch?v=9Pcwzb26-X0

CMatomic disse...

aqui fica o relatório deste assunto http://www.portugal.gov.pt/pt/GC19/Documentos/MAAP/Rel_GT_Servico_Publico_Comunicacao_Social.pdf

songohan disse...

http://static.publico.pt/docs/media/relatorioGTCS_141111.pdf

Aqui está o relatório todo completo para consulta.

E é mesmo extinguir yagi.
"62. Não vemos qualquer interesse público num canal como a RTP Memória, cuja programação
apenas parcialmente apresenta conteúdos do passado da RTP. Seria mais útil, e provavelmente
teria mais audiência, a plena disponibilização dos conteúdos históricos da RTP através do seu
site."

Alguém se esqueceu de avisar estes senhores que mais de 3/4 da população não tem acesso a internet de alta velocidade (nem consumos) que permitam aceder a esses conteúdos. Mas, isto foi alterado à última hora porque na versão inicial era dito que interessava mais colocar o espólio nas mãos de uma empresa para promover a sua divulgação.

Yagi (autor do blog) disse...

No Fórum de hoje da TST (15/11/2011) dois contributos importantes em defesa da TDT:

Nuno Artur Silva (Produções Fictícias) - defendeu (mais uma vez) a emissão da RTP Memória em sinal aberto na TDT.

António-Pedro Vasconcelos - (cineasta) defende a aposta na TDT e considera que a TDT que está a ser oferecida aos portugueses é uma FRAUDE!

Anónimo disse...

Eu tb estou totalmente de acordo para que a RTP Memoria e Informação desapareçam... estão a ser pagas com o meu dinheiro, o pais esta em crise, e como tal não precisamos de tal despesa astronomica...
Quem quiser, que compre os canais e faça o q quiser com eles...

"derivado aos lucros que esses canais ganham por causa da publicidade constante que é garantida para a sobrevivência dos canais. "
deve ser verdade... enfim...

CMatomic disse...

O provedor do telespectador da RTP, José Carlos Abrantes, apoia a redução do tempo dos noticiários dos canais públicos e nãc concorda com o fim da publicidade e da ERC
http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=2123195&page=2

Yagi (autor do blog) disse...

Mais uma vez se ignora que os portugueses já se manifestaram a favor da RTP Memória e em sinal aberto. Insistem em fazer de conta que a Petição pela RTP Memória e RTP-N em canal aberto na TDT não existiu e nem o programa "A Voz do Cidadão" onde o acesso livre ao canal também foi pedido. Recordo que toda a documentação relativa a este assunto foi facultada ao grupo de trabalho!

Apesar disso o grupo de trabalho afirma que não vê qualquer interesse público num canal como a RTP Memória!
Então, se o grupo de trabalho não vê interesse na RTP Memória, o grupo de trabalho não defende o interesse dos portugueses!

Joana disse...

para mim o que esse grupo de trabalho se esqueceu de fazer foi dizer que iriam disponibilizar inernet gratuitamente para podermos aceder aos conteúdos atualmente transmitidos na RTP Memoria, a partir do site da RTP.

Yagi (autor do blog) disse...

A disponibilização de conteúdos da RTP Memória já existe através da plataforma RTP Play. Mas a disponibilização através da Internet NÃO deve substituir as outras formas de distribuição (cabo, satélite, IPTV e TDT). Por vários motivos!

Para disponibilizar os conteúdos com qualidade é necessário possuir ligações de acesso Internet rápidas (que a inda não chegam à maioria do país) e se o telespectador acedesse com regularidade aos conteúdos, rápidamente atingiria consumos elevadíssimos de tráfego Internet, com consequências inevitáveis no custo da mensalidade de acesso Internet ou até mesmo a limitação do tráfego por parte do Internet Service Provider!

Além disso ignora-se completamente o facto de que uma enorme faixa da população não tem acesso à Internet nem sabe utilizar um computador!

songohan disse...

Há outro promenor que me assusta quando falam da RTP Internacional ficar sobre o controle do Ministério dos Negócios Estrangeiros e, que, lhe deve ser dada a possibilidade "sem que exista qualquer discussão" dos conteúdos transmitidos por esse canal.
Encaixando isto com o resto do documento, leva-me a pensar que é dito que o MNE poderá, também, escolher as notícias e o alinhamento destas para a emissão internacional. Levando assim a evitar quaisquer "notícias não aceitáveis de se saberem fora das fronteiras nacionais" de serem transmitidas.
Estará o grupo a dizer que deviamos voltar a ter censura nos meios de comunicação social transmitidos para o estrangeiro para evitar que sejam transmitidas "más notícias"?

Seria interessante era que o grupo usasse a quantidade de acessos ao site da rtp para visualizar os videos lá existentes... se calhar só isso chegava para tirar as ideias de colocar tudo online e esperar ter muita audiência.
Será que também ninguém informou o coordenador que a maioria da audiência das televisões nacionais são pessoas com idade acima dos 30 anos? E que a camada de idosos continua a ser a que mais vê esses canais de memórias do passado?
Se é bom falarem do que se passou com o espectro pago da TDT...também era bom terem pensado nos portugueses e não na ideia de censurar tudo.

Anónimo disse...

Por este andar vamos é ter uma TDT de 3 canais!! Que anedota de país este!!

Pedro Ribeiro disse...

Fala-se em fechar e vejo hoje em rodapé que a RTP lançou mais um canal de radio via Internet de nome "Opera" ...
Afinal estamos em fase de fechar ou de abrir?

Miguel disse...

Chill out, people!!!
Vocês reagem como se este relatório fosse um decreto-lei! São apenas PROPOSTAS!!!
Jeez...

Yagi (autor do blog) disse...

Por enquanto são só propostas, mas todos têm o direito de discordar delas, como aliás parece ser opinião generalizada. Ficar em silêncio é aceitar o que se propõe.

Anónimo disse...

TDT E AS SUAS CHARADAS.

Netshark disse...

Não há ignorância nenhuma. É seguir a chapa 4 da agenda de poupança do governo. Querem fazer em 4 anos aquilo que não foi fizeram em 30, e a tdt à semelhança de outras áreas publicas, vai pagar o pato.
Por isso há que justificar o injustificável com relatórios fabricados.
Acredita que se o governo disser que os cães e gatos são a mesma coisa, este tipo de comissões emitem relatórios que afirmam que cães e gatos é tudo a mesma coisa. São seres limitados a esse ponto acredita.