sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

PT desiste da TDT paga!

(act. em 2/02/2010)
Incrível! Confirmaram-se os desenvolvimentos que temia no post de 2/01/2010. Depois de ter lutado para afastar o seu único concorrente (AirPlus) e ter repetidamente garantido que o avanço do seu projecto de TDT paga não estaria em causa, a PT solicitou à Anacom a revogação das licenças relativas aos Mux's da TDT paga!

Penso que fica agora claro quais foram as alegadas alterações de mercado. É que a PT avançou para a massificação do serviço Meo através do Meo Satélite (com sucesso), na mesma altura em que concorria às licenças da TDT. Á luz dos mais recentes desenvolvimentos, é legítimo considerar que a candidatura às licenças da TDT paga, não passou de uma estratégia para eliminar a concorrência.

Julgo também, ter ficado claro que, desde muito cedo a PT terá desistido da TDT. Recordo que já em Abril de 2009 (curiosamente apenas alguns dias após a AirPlus ter anunciado a sua desistência de continuar a "lutar" nos tribunais e da extinção da sua filial em Portugal), o presidente executivo da PT tinha falado em «alteração de circunstâncias de mercado» e que em Maio do mesmo ano alertei que a TDT paga tinha sido aparentemente "esquecida" pela PT nos testes de compatibilidade dos equipamentos. Mas, já na fase de consultas dos concursos, a PT considerava a TDT como «uma plataforma de televisão digital alternativa às existentes, designadamente cabo e satélite».

Esta decisão da PT representa um rude golpe na TDT portuguesa, mas também na credibilidade e imagem da Portugal Telecom e da autoridade reguladora! Se o processo de transição para a TDT já se antevia difícil, agora será ainda mais complicado. Como irá o cidadão interpretar a desistência da PT na TDT paga?

Alguns jornais noticiam que a PT pretende disponibilizar o espaço que ficará livre nos Mux's para a RTP, SIC, TVI e 5º Canal, lançarem canais em alta definição. Esta deverá ser a opção mais favorável para os interesses da PT, pois poderá permitir "matar dois coelhos com uma cajadada":
  • Ao negociar uma utilização alternativa para os Mux's não utilizados, evitará(?) pagar as taxas devidas e eventualmente uma pesada multa.
  • Se conseguir convencer os canais generalistas a utilizarem o espectro para lançarem os seus canais em versão HD, estará a garantir que a TDT não fará concorrência ao serviço Meo. Está provado que os telespectadores valorizam mais o conteúdo dos programas do que a qualidade técnica das emissões.
Esta alegada solução, na minha opinião, não passa de mais uma ilusão. Os canais estão em situação económica frágil, para não falar do clima económico actual. O valor cobrado pela difusão das emissões digitais depende do espectro utilizado pelos canais. Como as emissões HD ocupam aproximadamente 3x mais espectro que as emissões em SD (definição standard), os custos serão inevitávelmente mais altos. A melhor opção, na minha opinião, continua a ser, para já, a disponibilização da RTP Memória e RTPN em sinal aberto, pelos motivos que já mencionei em posts anteriores. Afinal, agora já não há falta de espectro, não é assim? ;)

Será pois interessante saber o que irá acontecer às licenças atribuidas à PT. Será aberto novo concurso? Poderá a PT transmitir os direitos de utilização a terceiros?

A Televisão Digital Terrestre portuguesa mais parece uma trágicomédia!

Esperemos pelos próximos capítulos...

Actual. - CONSEQUÊNCIAS DA DESISTÊNCIA DA PT NA TDT PAGA

Alguns leitores do Blog (e não só) consideram a desistência da PT da TDT paga uma boa notícia. Compreendo os seus pontos de vista, no entanto, como já disse, acredito que se trata de um rude golpe na TDT portuguesa, que irá afectar negativamente a TDT de acesso livre (gratuita). Claro que, sem TDT paga, poderá ser disponibilizado espectro adicional para a TDT gratuita. Mas, a verdade é que actualmente só não existe mais espectro para a TDT gratuíta por motivos políticos, não técnicos, e os "actores" são os mesmos de 2008.

Irá ser esta decisão da PT, utilizada pelos governantes para corrigir a estratégia portuguesa para a transição digital? Tenho alguma esperança, mas vou aguardar sentado...

Recordo que apenas a PT se apresentou ao concurso da TDT de acesso livre (Mux A), apesar das conhecidas circunstâncias que rodearam o concurso (acordo da PT com a Media Capital/TVI e acusações da Sonaecom), e que terão motivado a desistência de outros concorrentes. A AirPlus, recorde-se, apenas concorreu à TDT paga (uma decisão que lhe foi fatal na minha opinião). Isto demonstra claramente que o negócio da distribuição do sinal da TDT gratuita, nos moldes em que foi proposto a concurso, não é económicamente atraente. Sem o negócio da TDT paga "por trás", a TDT de acesso livre poderá ser afectada de várias formas:

Velocidade de implantação da rede de emissores
Apesar de existirem obrigações legais assumidas pelo operador de rede, sem o negócio da TDT paga, a velocidade de implantação da rede poderá ser afectada, uma vez que TDT gratuita e TDT paga partilham a mesma rede.

Acesso a caixas adaptadoras
O acesso da população a caixas receptoras de TDT a preços mais baixos poderá ser afectado. Dado o preço relativamente elevado das caixas, a subscrição de um pacote de canais de TDT paga poderia permitir a sua aquisição/aluguer a um preço mais acessível. É uma técnica de captação de clientes vulgarizada e já utilizada noutros países, também com a TDT.

Concorrência / opções do consumidor
A TDT paga poderia oferecer uma oferta de TV por subscrição a preço mais acessível. Além disso muitissimos consumidores ainda não têm velocidades de acesso de internet que permita IPTV ou acesso a rede de TV cabo. A opção satélite também não é solução para todos, porque nem sempre a sua instalação é possível.

Divulgação
Até à data a divulgação da TDT tem sido quase nula. Sem o negócio da TDT paga, a divulgação junto da população será menor.

Impacto na opinião pública
Quando a maior empresa portuguesa de telecomuniçãoes desiste de uma tecnologia (televisão digital terrestre), é natural que isso afecte a percepção pública dessa tecnologia. O consumidor naturalmente ficará ainda mais confuso, indeciso e naturalmente "de pé atrás", a "vêr o que a coisa vai dar". Isto só vai atrasar ainda mais a transição para a TDT, quando Portugal é um dos paises mais atrasados na adopção desta tecnologia.

CONFERÊNCIA DE IMPRESSA DE ZEINAL BAVA (PT) SOBRE TDT (12/01/2009)

Para melhor avaliarmos o estado da TDT portuguesa, nada melhor do que recordar o que foi dito pelo presidente executivo da Portugal Telecom à apenas um ano atrás. Afinal, é sempre bom ouvir-mos dizer que «em 1 de Janeiro de 2011 Portugal estará na linha da frente de tudo o que de melhor vai acontecer na europa» e que «o nosso pais vai ser exemplar no switch-off e uma referência a nível europeu».


Obs: o audio demora alguns segundos a arrancar.

2/02/2010:
A Anacom aprovou a decisão de revogação das licenças da TDT paga (Mux's B-F) sem perda de caução por parte da PTC.

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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Televisores: menos de 5% estão preparados para a TDT

A crer em dados da empresa de estudos de mercado GFK, entre os meses de Janeiro e Novembro de 2009, foram vendidos em Portugal 247.000 televisores com sintonizador TDT e suporte da norma MPEG-4. Ou seja, aptos a receber a TDT portuguesa sem necessidade de receptor ou adaptador externo.

Se tivermos em conta que em Portugal existem aproximadamente 3.7 milhões de famílias, que possuem, pelo menos, um receptor de televisão, rapidamente chegamos à conclusão que a percentagem de televisores preparados para receber a televisão digital terrestre portuguesa é inferior a 5%, tanto mais que, em anos anteriores, a disponibilidade no mercado português de televisores com TDT MPEG-4 foi muito reduzida. Se tivermos em conta os aparelhos presentes fora do lar, como espaços comerciais, consultórios, etc, esta percentagem será ainda mais reduzida.

Estes números, revelam que apenas a aproximadamente dois anos e meio da data prevista para o desligamento do sinal analógico, o nível de adaptação para a TDT é ainda muito baixo e reforçam a importância da necessidade de disponibilizar no mercado adaptadores TDT MPEG-4 a preço acessível. A maioria dos portugueses, recorde-se, apenas recebe o serviço "básico" de televisão,via antena terrestre.

A nível global estima-se que em 2009 tenham sido vendidos 205 milhões de televisores, sendo 69% do tipo LCD.

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TDT - O que correu mal?
Esclarecimento da Anacom sobre a TDT

sábado, 2 de janeiro de 2010

TDT - O que correu mal?

Um novo ano começa e com ele renasce a esperança de que a televisão digital terrestre se torne finalmente acessível a todos os portugueses. Muitos aguardavam que 2009 fosse o ano da TDT em Portugal. Contudo, mais de um ano após o inicio das primeiras emissões, a introdução da televisão digital terrestre tem passado ao lado da maioria dos portugueses.

O que tem corrido mal? Na minha opinião, quase tudo!

Divulgação
É caso para dizer - Qual divulgação? Apesar do sinal oficialmente já estar disponível para mais de 65% da população (deverá nos próximos dias ser anunciada a cobertura de +80% da população), com excepção da internet e algumas notícias nos jornais, a divulgação da nova televisão ainda não começou verdadeiramente.

Oferta de canais gratuitos
A oferta de canais de acesso livre prometia pouco, mas ainda assim conseguiu desapontar! O canal em Alta Definição com programação dos canais públicos e privados (RTP, SIC e TVI) continua no papel. O avanço do Quinto Canal de televisão generalista continua bloqueado por disputas legais.

Oferta de canais a pagar
Depois de um concurso polémico, que a PT venceu, está contratualmente previsto que as emissões arranquem até 31 de Janeiro próximo. No entanto, ainda praticamente nada se sabe sobre a oferta paga (Meo DT) e os moldes em que irá funcionar. Prevê-se pois que, a disponibilização dos canais codificados na TDT, esteja ainda distante.

É que a PT, vem desde Abril de 2009, falando numa suposta alteração de circunstâncias de mercado, tendo recentemente informado que está em conversações com o regulador. Teme-se que se avizinhem novos e polémicos desenvolvimentos!

Equipamentos
Anunciado e apresentado ao público pela PT, há praticamente um ano, continua hoje a ser impossível adquirir o necessário receptor de TDT ao preço anunciado de 50€. A PT, recorde-se, colocou em algumas das suas lojas uma quantidade reduzidíssima de equipamentos, à venda por um preço mínimo de 99€! Devido ao preço elevado dos adaptadores, e à reduzida oferta de canais, antevê-se que em 2010 a maioria dos consumidores terá acesso à TDT através da troca do televisor.

Conclusão
Se considerarmos que nos concursos públicos, o regulador atribuiu à rápida massificação da TDT a maior importância, a conclusão é inevitável – a introdução da TDT em Portugal está, até à data, a ser um fracasso! Aliás, seria muito interessante que a Anacom divulgasse quantos lares já recebem a TDT e quantos receptores de TDT (compatíveis) foram vendidos. Ainda vamos a tempo! Mas, a manter-se esta situação, e se não se contrariar a tradição portuguesa de adiar tudo para o último dia, é de prevêr que a adesão à TDT seja(?) feita, à pressa, quando o sinal analógico estiver na iminência de ser desligado.

Estado, operador da rede e canais de televisão, são responsáveis. Está claro que as opções tomadas não foram as melhores para o consumidor:

  • Cedo disse que utilizar MPEG-4 na TDT gratuita era incompatível com a rápida massificação da TDT. O mercado tem comprovado isso mesmo. Quase dois anos após a data de apresentação das candidaturas aos concursos da TDT, o preço dos adaptadores TDT MPEG-4 continua demasiado alto para permitir uma adopção em larga escala.

  • O Canal HD revelou-se uma utopia. Os canais não se entendem e ninguém parece importar-se com isso. Faltou coragem e determinação para enfrentar lobbies e, finalmente, disponibilizar RTP Memória e RTPN em sinal aberto.
  • A divulgação e promoção da TDT não deveriam estar exclusivamente entregues a uma entidade privada (Fórum TDT, i.e. operador de rede e canais), como até aqui, correndo-se o risco da TDT ficar refém de uma agenda de interesses conflituantes.
Esperemos que em 2010 as entidades competentes assumam as suas responsabilidades e tomem as medidas necessárias para que, desde já, a televisão digital terrestre possa ser adoptada por todos os lares portugueses.

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